Arcadismo no Brasil

O Arcadismo, também conhecido como Neoclassicismo, tem início em 1756, data da fundação da Arcádia Lusitana, ilustre academia literária de Lisboa, Portugal. O movimento tinha como principal intenção questionar a estética barroca, reestabelecendo o equilíbrio, a harmonia e a simplicidade da literatura renascentista. Os primeiros árcades, jovens escritores portugueses, propuseram a eliminação dos rebuscamentos do Barroco, baseando-se nos preceitos do Iluminismo – movimento intelectual do século XVIII caracterizado pela racionalidade crítica no questionamento filosófico e pela centralidade na ciência.

No Brasil, o Arcadismo manifesta-se pela primeira vez no ano de 1768 e representa o que de melhor se fez culturalmente no período colonial brasileiro. “Obras Poéticas”, de Cláudio Manuel da Costa, foi a primeira publicação deste novo estilo que pretendia, acima de tudo, que sua poesia fosse apreciada pelo seu valor poético ou literário. Os poemas escritos neste período são uma excelente oportunidade para apurarmos nossos sentidos, já que estabelecem com o leitor uma relação de contemplação estética.

A poesia arcádica tem como principal característica a simplicidade, diferindo de toda Literatura produzida anteriormente. Até então os poetas escreviam com a intenção de depreciar ou louvar alguém; o Arcadismo rompe com estes padrões ao buscar a delicadeza presente no sublime, o êxtase e a surpresa. Foi Tomás Antônio Gonzaga, outro expoente do arcadismo brasileiro, quem melhor se apropriou do estilo simples, utilizando uma linguagem clara, inteligível, despojada dos enigmas e obscuridades da poesia barroca.

Estão entre as principais características desse importante movimento literário:

  • Objetivismo: Em vez do rebuscamento linguístico tão peculiar ao Barroco, no Arcadismo é a linguagem simples e direta que ganha destaque. Os excessos eram eliminados, os poetas árcades prezavam pela concisão e comedimento da expressão poética;
  • Elogio dos prazeres físicos, sensualismo;
  • Inspiração nos autores renascentistas e clássicos gregos e latinos;
  • Adoção de pseudônimos (pseudônimos pastoris): os poetas, em sua maioria jovens pertencentes à elite burguesa, utilizavam pseudônimos a fim de melhor elaborar o fingimento poético. Vivendo nos grandes centros urbanos, esses poetas realizavam o ideal da mediocridade dourada, o aurea mediocritas. Intitulando-se como pastores, exaltavam a vida simples e humilde em comunhão com a natureza.
  • Os escritores recorrem a figuras ornamentais como ninfas, cupidos, Vênus, Zéfiro;
  • Assumem-se como pastores e transferem os seus sentimentos amorosos para gentis pastoras;
  • Bucolismo/Pastoralismo: A poesia árcade tem como principal espaço temático a natureza tranquila e serena. No Lócus Amoenus, ambiente rústico que servia como refúgio para a alma e como modo de fuga das agitações da cidade, o burguês culto busca na natureza aquilo que não encontra na vida aristocrática dos grandes centros urbanos;
  • Carpe diem: Em tradução livre, carpe diem significa “aproveite o dia”, sugerindo, na literatura árcade, que o dia fosse sempre vivido com grande intensidade. Foi essa a atitude assumida pelos poetas-pastores, que viviam plenamente em todos os sentidos.

Arcadismo no Brasil: Contexto histórico

O contexto histórico era de revoltas: a economia brasileira estava voltada para a extração de minérios e devido à intensa exploração, estes recursos ficavam cada vez mais escassos. Portugal, então, passa a submeter seus colonos a impostos abusivos para compensar os prejuízos, gerando movimentos como a Inconfidência Mineira, cujos ideais articulavam contra a dominação portuguesa. Este movimento contou com a participação dos principais nomes da poesia arcádica, cujo berço foi Minas Gerais, eixo econômico e cultural do então Brasil colonial.

É possível observar que o Arcadismo no Brasil passa por dois momentos distintos, de acordo com Alfredo Bosi em seu livro História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: editora Cultrix, 2006):

  1. Poético: valorização da natureza e mitologia;
  2. Ideológico: influenciado pelo Iluminismo francês.

Os principais nomes do Arcadismo no Brasil foram Cláudio Manoel da Costa (autor de Obras Poéticas), Tomás Antônio Gonzaga (autor de Liras, Cartas Chilenas e Marília de Dirceu), Basílio da Gama (autor de O Uraguai), Frei Santa Rita Durão (autor do poema Caramuru) e Silva Alvarenga (autor de Glaura).

Luana Alves
Graduada em Letras

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