Funções da linguagem

São seis as funções da linguagem, elementos da comunicação sistematizados pelo linguista russo Roman Jackobson: função referencial ou denotativa, função emotiva ou expressiva, função conativa ou apelativa, função metalinguística, função fática e função poética.

Você sabe o que são e para que servem as funções da linguagem?  A linguagem, uma eficiente forma de comunicação, é elemento fundamental para estabelecermos comunicação com outras pessoas. Qualquer produção discursiva, linguística (seja ela oral ou escrita) ou extralinguística (pintura, música, fotografia, propaganda, cinema, teatro etc.) apresenta funções pré-estabelecidas. Por serem múltiplas e apresentarem peculiaridades de acordo com a intenção do falante, elas podem ser divididas em seis: função referencial ou denotativa, função emotiva ou expressiva, função conativa ou apelativa, função metalinguística, função fática e função poética.

Funções da linguagem

Função referencial ou denotativa: transmite uma informação objetiva, expõe dados da realidade de modo objetivo, não faz comentários, nem avaliação. Geralmente, o texto apresenta-se na terceira pessoa do singular ou plural, pois transmite impessoalidade. A linguagem é denotativa, ou seja, não há possibilidades de outra interpretação além da que está exposta.

Em alguns textos é mais predominante essa função, como: científicos, jornalísticos, técnicos, didáticos ou em correspondências comerciais.

“Economistas de instituições financeiras aumentaram suas projeções para a inflação em 2016 e passaram a esperar estagnação do Produto Interno Bruto no ano que vem e uma queda de quase 2% neste ano, mostrou nesta segunda-feira a pesquisa Focus, feita semanalmente pelo Banco Central com analistas. O levantamento mostra que a estimativa para o IPCA subiu de 5,40% de alta de 5,43% do IPCA em 2016 e crescimento econômico nulo. Para 2016, a previsão até a semana anterior era de que houvesse expansão de 0,20%.”

(Extraído de http://oglobo.globo.com/economia/economistas-pioram-previsoes-agora-esperam-que-inflacao-de-2015-seja-mais-alta-desde-2002-17136610

Função emotiva ou expressiva

Função emotiva ou expressiva: o objetivo do emissor é transmitir suas emoções e anseios. A realidade é transmitida sob o ponto de vista do emissor, a mensagem é subjetiva e centrada no emitente e, portanto, apresenta-se na primeira pessoa. A pontuação (ponto de exclamação, interrogação e reticências) é uma característica da função emotiva, pois transmite a subjetividade da mensagem e reforça a entonação emotiva. Essa função é comum em poemas ou narrativas de teor dramático ou romântico. Os textos poéticos são bons exemplos da função emotiva da linguagem. Observe agora o poema Não sei quantas almas tenho, do poeta português Fernando Pessoa:

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

Função conativa ou apelativa

Exemplo de função conativaFunção conativa ou apelativa: O objetivo é de influenciar, convencer o receptor de alguma coisa por meio de uma ordem (uso de vocativos), sugestão, convite ou apelo (daí o nome da função). Os verbos costumam estar no imperativo (Compre! Faça!) ou conjugados na 2ª ou 3ª pessoa (Você não pode perder! Ele vai melhorar seu desempenho!). Esses elementos permitem que a função conativa ou apelativa seja facilmente identificada entre as outras funções. Ela pode ser encontrada, principalmente, em textos publicitários, em discursos políticos ou de autoridade.

Veja um exemplo: A função conativa é facilmente identificada, pois sua linguagem é organizada para influenciar e persuadir o destinatário, fazendo uso de verbos no imperativo, pronomes na segunda pessoa e vocativos.

Função metalinguística

Função metalinguística: A função metalinguística está entre as seis funções da linguagem (funções referencial, emotiva, poética, conativa e fática) concebidas pelo linguista russo Roman Jackobson. Cada uma das funções apresenta um papel específico para a comunicação e, de acordo com o contexto comunicacional, uma delas é empregada. Essa função refere-se à metalinguagem, que é quando o emissor explica um código usando o próprio código. Quando um poema fala da própria ação de se fazer um poema, por exemplo. Veja agora um exemplo da função metalinguística:

Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzira marginália, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário.

Carlos Drummond de Andrade

Função fática

Função fática: O objetivo dessa função é estabelecer uma relação com o emissor, um contato para verificar se a mensagem está sendo transmitida ou para dilatar a conversa.

Quando estamos em um diálogo, por exemplo, e dizemos ao nosso receptor “Está entendendo?”, estamos utilizando este tipo de função ou quando atendemos o celular e dizemos “Oi” ou “Alô”. Observe o exemplo extraído do livro A hora da estrela, de Clarice Lispector, no qual a personagem Macabéa trava um “diálogo” com seu namorado:

“Enfim o que acontecer, acontecera. E por quanto nada aconteceria, os dois não sabiam inventar acontecimentos. sentavam- se no que é de graça: banco de praça pública. E de acomodados, nada os distinguiria do resto do nada. Para a grande glória de Deus. Ele fala:

  • ele:- pois é!
  • ela:- pois é o que?
  • ele:- eu só disse pois é!
  • ela:- mas pois é o que?
  • ele:- melhor mudar-mos de assunto por que você não me entende.
  • ela:- entende o que?
  • ele:- santa virgem Macabéa, vamos mudar de assunto e já!”

Função poética

Função poética: O objetivo do emissor é expressar seus sentimentos através de textos que podem ser enfatizados por meio das formas das palavras, da sonoridade, do ritmo, além de elaborar novas possibilidades de combinações dos signos lingüísticos. É presente em textos literários, publicitários e em letras de música.


O Anel de Vidro

Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou
Assim também o eterno amor que prometeste,
— Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.

Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, —
Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou

Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste

Manuel Bandeira

Luana Alves
Graduada em Letras

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