Super Cola feita com bagaço de cana é descoberta por acidente em Campinas
Fórmula de cola atóxica feita a partir do bagaço de cana e materiais descartados é mais barata e apresenta a mesma potência dos produtos convencionais.
Era um dia normal de trabalho para a, então, estagiária Naima Orra no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, interior de São Paulo. Mas, de repente, ela teve bastante dificuldade em retirar uma fórmula que teimava em ficar grudada nas hélices dos equipamentos utilizados.
Foi assim que ela descobriu, nada menos, que a nova fórmula de uma super cola! O produto foi originado pelo bagaço de cana-de-açúcar e materiais descartados por empresas de celulose. O acontecimento chegou até Rubia Figueiredo Gouveia, pesquisadora do Laboratório Nacional de Nanotecnologia.
Depois de um mês, as duas conseguiram chegar à fórmula final a partir de pesquisas e aprimoramentos, misturando látex, nanocelulose e lignina. A cola sustentável brasileira tem a mesma eficiência das comercializadas convencionalmente, além de ser mais barata. O baixo custo é possibilitado pelo aproveitamento de produtos descartados.
Conforme Rubia declarou em entrevista à BBC Brasil, “esses dois últimos elementos [nanocelulose e lignina], são, muitas vezes, descartados em larga escala por indústrias de papel e refinarias de cana-de-açúcar. Reaproveitar (…) é sustentável e ainda deve baratear a produção”. O látex segue sendo o único extraído de árvores, como as seringueiras.
A nanocelulose pode ser obtida a partir do eucalipto e produzida em larga escala no país. Porém, a nova cola, como mencionado, extrai a substância do bagaço de cana. A lignina, por sua vez, é originada pelas indústrias de papel a partir do “licor negro”. Para chegar à substância, é preciso cozinhá-la junto à soda em altas temperatura e pressão.
O gerente de pesquisa do Projeto Lignina da Suzano Papel e Celulose, Fabiano Rosso, aponta que a fração de 3% (cerca de 20 mil toneladas) da lignina produzida na fábrica é vendida para fábricas de MDF e madeira após processo de tratamento. O restante é destinado à queima para produção de energia e venda do excedente.
Porém, caso a viabilidade da super cola seja comprovada, boa parte da produção da indústria poderia ser revertida para este fim. Em entrevista reproduzida pelo Portal G1, Rosso afirma, ainda, que parte do material destinado à energia poderia ser revertido na fabricação de materiais, um caminho viável para a produção de larga escala.
Outras vantagens
Além da economia, a cola sustentável não sua solventes químicos derivados do petróleo, como o formaldeído, classificado como cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1984. A substância está presente, por exemplo, nas colas de sapateiros e vidraceiros. É aquela que tem um cheiro bem característico e causa sintomas como dores de cabeça e náusea.
Possibilidades de uso
A potência da cola sustentável brasileira já foi comprovada em testes de tração em laboratório. Neles, o produto foi capaz de colar papéis, madeiras, além de demonstrar poder de aderência em materiais com o alumínio. A priori, seriam, imediatamente, beneficiadas com a super cola indústrias como automobilística, de móveis, construção civil e brinquedos.
Porém, as pesquisadoras pretendem adaptar seu uso para diferentes situações, como móveis,tecidos, escolas e escritórios. Para isso, a fórmula pode ser modificada e testada em altas e baixas temperaturas. Também espera-se que ela possa colar vidros e outros materiais, a fim de beneficiar outras áreas.
A cola sustentável brasileira patenteada e deve ser registrada no exterior no ano que vem, sob a autoria de Rúbia e Naima.
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