Especialista afirma: língua mais difícil do mundo é falada no Brasil

Conhece a língua Pirahã? Ela é considerada a mais difícil do mundo.

Há muitos idiomas complexos e até com alfabetos diferentes, como o russo, o grego, o chinês ou o japonês. Mesmo esses exemplos muito diferentes do portugues não chegam a ser o mais difícil para aprender, segundo linguistas.

O idioma que detém esse título é a língua Pirahã, falada por cerca de 400 indígenas da tribo Pirahã no sul do Amazonas. O idioma, do tronco linguístico Mura, destaca-se por características únicas e pela polêmica que gera no campo da linguística.

O que é a língua Pirahã?

A língua Pirahã é fascinante por sua simplicidade fonética. Com apenas três vogais (A, I, O) e seis consoantes (G, H, S, T, P, B), sua estrutura fonológica é extremamente econômica. O linguista Daniel Everett, que viveu entre os Pirahã na década de 1970, revela:

“A língua deles não tem passado nem futuro — ‘eu vou’ pode ser ‘eu fui’ ou ‘eu irei’. Você precisa entender o contexto”.

Tal peculiaridade exige uma compreensão contextual para discernir os significados.

Os Pirahã vivem nas margens do Rio Maici, no Amazonas, e sua língua é exclusivamente falada por eles. Eles são considerados monolíngues, ou seja, falam apenas o Pirahã.

A comunidade tem mantido a língua viva por séculos, resistindo à influência de outros idiomas, principalmente o português, que alguns homens falam, mas que as mulheres geralmente não utilizam.

Por que é considerada a mais difícil do mundo?

Além de seu sistema fonético reduzido, o idioma não possui sistema numeral, distinção de cores além de claro e escuro nem tem substantivos no singular ou plural.

A ausência de termos para o passado e futuro também torna a compreensão desafiadora para os não nativos. Rolf Theil, professor de linguística da Universidade de Oslo, afirma:

“A língua mais difícil do mundo é sem dúvida o Pirahã. Para uma pessoa com memória média, levaria cerca de 10 anos para aprender devido à sua complexidade”.

A língua Pirahã é falada com apenas 3 vogais e 6 consoantes e não possui outro tempo verbal, senão o presente – Imagem: Dan Everett/Reprodução

Peculiaridades da língua Pirahã

A língua Pirahã é tonal, ou seja, a entonação muda o significado das palavras. Everett explica que:

“A pronúncia é crucial no Pirahã. Algumas palavras só se diferenciam pelo tom usado, o que pode ser um desafio enorme para os aprendizes”.

Outra peculiaridade é o uso de comunicação por gritos e assobios, especialmente durante expedições na floresta ou nos rios. Esse método permite uma comunicação eficaz a longas distâncias.

Polêmica com Noam Chomsky

A língua Pirahã está no centro de um debate acadêmico intenso entre Daniel Everett e Noam Chomsky.

Chomsky propôs a teoria da gramática universal, que sugere que todos os idiomas compartilham uma estrutura subjacente comum e que a capacidade de linguagem é inata aos humanos.

Everett, contudo, argumenta que a língua Pirahã não possui gramática hierárquica ou recursão, processos considerados universais por Chomsky. Everett é categórico:

“Os Pirahã não têm recursão, que é a capacidade de inserir uma frase dentro de outra. Isso desafia a ideia de uma gramática universal”.

Chomsky rebate a afirmativa de Everett, chamando-o de charlatão, e argumenta que as peculiaridades do Pirahã não invalidam a gramática universal, pois os falantes têm os mesmos componentes genéticos que o restante da humanidade.

Cultura e linguagem

A estrutura da língua Pirahã está intimamente ligada à cultura e ao modo de vida dos Pirahã. De acordo com Everett:

“Eles vivem focados no presente e na realidade tangível. A língua reflete essa visão de mundo. Eles não falam sobre o passado porque, para eles, o passado já passou. O importante é cuidar do presente”.

Os Pirahã não possuem mitos ou crenças religiosas tradicionais. Eles acreditam que o universo, o céu e a Terra sempre existiram e não possuem deuses.

Esse pragmatismo se reflete na ausência de palavras para conceitos abstratos e metafísicos que não podem ser comprovados ou sentidos diretamente.

*Com informações de BBC, Smithisonian Institute e Terra.

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