Alguns animais passam por processo de luto semelhante ao de humanos

Tiago Falótico, da USP, já pôde observar de perto o comportamento de diferentes espécies frente à morte de um ‘ente querido’.

A experiência de luto entre os animais tem despertado a curiosidade e o interesse de pesquisadores em todo o mundo.

Tiago Falótico, um estudioso do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), exemplifica isso, dedicando-se a investigar como diferentes espécies lidam com a perda de seus semelhantes.

Suas observações revelam comportamentos surpreendentemente complexos, especialmente entre primatas e grandes mamíferos, que sugerem uma resposta emocional à morte, embora não seja equivalente à experiência humana.


Alguns animais também passam pelo luto – Imagem: reprodução

Primatas parecem sentir mais o luto

Falótico destaca que muitas espécies, notadamente os primatas, exibem comportamentos que indicam dificuldades em lidar com a morte.

Um exemplo claro é o das fêmeas de chimpanzé, que frequentemente continuam carregando seus filhotes falecidos, mesmo após o restante do grupo ter se distanciado do corpo. Essa prática levanta questões sobre a percepção de morte nestes animais.

Embora não se possa afirmar com certeza se a mãe compreende completamente a situação, Falótico sugere que a hipótese de que ela não percebeu a morte do filhote não é convincente.

A mudança de comportamento dos outros membros do grupo, que evitam o cadáver, contrastando com a persistência da mãe em cuidar do corpo, evidencia uma possível compreensão da perda.

Mamíferos de grande porte lembram de seus mortos

Além dos primatas, os maiores mamíferos terrestres, como os elefantes, demonstram comportamentos que podem ser interpretados como rituais de luto.

Os elefantes-africanos, por exemplo, são conhecidos por retornar ao local onde seus companheiros morreram, revisitando os ossos e permanecendo em silêncio, em uma espécie de “funeral”.

Tal comportamento, exclusivo em relação aos restos de membros do grupo, sugere uma forma de reconhecimento da morte.

Por outro lado, os elefantes-asiáticos parecem evitar esses locais, o que também indica algum nível de consciência em relação à perda.

A singularidade humana

Embora existam paralelos entre o luto animal e o humano, Falótico ressalta que os humanos possuem uma abordagem única em relação à morte.

A construção de rituais e a atribuição de significados simbólicos à morte, por exemplo, são características exclusivamente humanas.

As práticas culturais, como a “Festa dos Mortos” ou a “Missa de Sétimo Dia”, exemplificam a complexidade do luto humano, algo que, apesar das semelhanças, nenhum outro animal consegue replicar em sua totalidade.

De qualquer forma, é extremamente interessante observar como tais seres, considerados irracionais, conseguem se aproximar de nós por meio de algumas de suas ações instintivas.

você pode gostar também

Comentários estão fechados.