Por que algumas pessoas não conseguem ver horas em relógios de ponteiros?
Transtorno de aprendizado afeta adultos em tarefas simples que envolvem números no dia a dia.
Algumas pessoas têm dificuldade de algumas tarefas simples com números, como contar o troco do supermercado, ver o horário em relógios analógicos ou até decorar o próprio número de telefone.
Esse transtorno se chama discalculia e, antes pouco conhecido no país, agora se mostra mais presente entre os brasileiros.
A psicóloga Larissa Pessoa, por exemplo, percebeu ainda na adolescência sua dificuldade em entender relógios de ponteiro e calcular trocos.
“Minha dificuldade com números vem desde que eu me conheço por gente. Na escola, sempre era um desafio entender o que meus professores de matemática diziam e mesmo estudando por horas não conseguia compreender”, relembra a psicóloga.
A princípio, ela pensou ser uma questão comum. Aos 18 anos, porém, descobriu que sofria desse transtorno de aprendizado que afeta a compreensão numérica.
Casos como o de Larissa ilustram os desafios diários e a falta de diagnóstico precoce. Muitos, como ela, são erroneamente taxados de rebeldes ou desinteressados na época escolar.
Além da psicologia, Isabela Aquino, estudante de artes visuais, também enfrentou empecilhos devido à discalculia.
Para ela, o transtorno vai além do ambiente escolar, afetando também a percepção das pessoas ao seu redor. Ela se vê frequentemente sendo julgada pela aparente dificuldade em matemática.
Não consegue identificar as horas neste relógio? Talvez você tenha discalculia – Imagem: reprodução
Desafios e adaptações diárias da discalculia
A discalculia não impacta apenas o aprendizado acadêmico. Larissa relata problemas ao fazer receitas culinárias e gerir as finanças pessoais.
Ana Helena Guimarães, estudante de educação física também diagnosticada com o distúrbio, recorre a cartões de crédito e de débito para evitar situações constrangedoras ao lidar com trocos, adaptando-se a tarefas cotidianas.
Causas e características do transtorno
Especialistas explicam que discalculia resulta de um transtorno de neurodesenvolvimento. Camila León, psicopedagoga e professora da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), aponta que se trata de uma disfunção nas áreas cerebrais responsáveis por habilidades matemáticas.
Patrícia Crenitte, professora do departamento de fonoaudiologia da USP de Bauru, destaca aspectos genéticos, neurológicos e ambientais como influências significativas para a formação do transtorno.
Fatores |
Descrição |
Neurológicos |
Diferenças em áreas cerebrais responsáveis pelo processamento numérico. |
Genéticos |
Componentes hereditários que podem favorecer o surgimento da discalculia. |
Ambientais |
Situações como ensino inadequado e estresse são capazes de agravar os sintomas. |
Sinais de alerta e diagnóstico
Camila León menciona que professores são frequentemente os primeiros a identificarem o problema, apesar do desconhecimento geral sobre o transtorno.
Já Julia Beatriz Lopes Silva, coordenadora do laboratório de neuropsicologia do desenvolvimento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressalta que o desempenho com números significativamente abaixo do esperado pode ser um sinal de discalculia.
Ainda segundo ela, os sintomas aparecem da seguinte maneira, conforme cada faixa etária:
-
Crianças: dificuldade em contar e memorizar as tabuadas;
-
Adolescentes e adultos: problemas ao aplicar matemática em situações práticas do dia a dia.
Importância do diagnóstico preciso
Júlio Koneski, médico neuropediatra, enfatiza que o diagnóstico é feito por meio de avaliação multidisciplinar. Embora não haja cura, intervenções pedagógicas e terapias ajudam a melhorar o desempenho e a qualidade de vida dos afetados.
No Brasil, a Lei nº 14.254/21 garante o apoio a estudantes em escolas públicas e privadas. As medidas incluem acompanhamento especializado e, em provas de vestibular ou de concursos, um tempo adicional.
A conscientização e intervenção precoce são fundamentais para que indivíduos com discalculia possam superar os seus desafios e prosperar academicamente.
*Com informações do portal Terra.
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