Quando iniciamos o estudo de história nos primeiros anos da nossa vida escolar, o primeiro conteúdo referente ao Brasil diz respeito à chegada do colonizador português Pedro Álvares Cabral e o encontro com os indígenas que já povoavam o território em 1500.
Mas como tudo começou? De onde veio essa numerosa população de índios? Os primeiros habitantes do Brasil descendem de quais povos? No decorrer desse artigo vamos desvendar alguns mistérios que envolvem o povoamento do território brasileiro e a origem dos primeiros povoadores.
Quando começou a Pré-História Brasileira?
O estudo da Pré-História brasileira é um importante instrumento para a construção da identidade e cultura dos nossos ancestrais. Por um longo período a historiografia ignorou a existência dos povos pré-históricos no Brasil e nos conduziu a um estudo preconceituoso baseado no euro centrismo (influência política, econômica, social, cultural exercida pela Europa sobre outras áreas geopolíticas). No entanto, novas descobertas realizadas em nossos sítios arqueológicos vem aumentando as informações sobre os primeiros povoadores e enriquecendo ainda mais a nossa história.
A compreensão desse só é possível através da investigação baseada em vestígios materiais encontrados nos diversos sítios arqueológicos espalhados pelo território brasileiro. Segundo os pesquisadores envolvidos nessas investigações, o povoamento do Brasil teria iniciado cerca de quarenta a cinquenta mil anos atrás via estreito de Bering divididos em duas ondas migratória.
Os primeiros grupos teriam vindo da África e o segundo da Ásia, de regiões próximas à Mongólia. Assim que chegaram a América foram se espalhando pelo Brasil. Luzia, nome dado ao crânio feminino proveniente da região de Lagoa Santa em Minas Gerais teria feito parte do primeiro grupo. Suas feições negroides conduziram os pesquisadores a essa conclusão, baseadas no formato do crânio e não na cor da pele.
Semelhante aos primeiros humanos que viveram no período Paleolítico durante a Pré-História dos continentes africano, asiático e europeu, os grupos humanos que se espalharam pelo Brasil viviam da caça de animais de pequeno porte, pesca e coleta. Caçavam utilizando instrumentos fabricados a partir da madeira e da pedra lascada. Algumas particularidades do cotidiano dessa população estão retratadas nos desenhos rupestres feitos nas paredes das cavernas dos diversos sítios arqueológicos brasileiros.
Os fósseis mais antigos dos povos pré-históricos são provenientes do período Paleoíndio. De acordo com pesquisas realizadas nesses vestígios, os primeiros grupos humanos já dominavam o uso do fogo para cozinhar e se proteger contra o ataque de animais ferozes. Estavam organizados em grandes comunidades em que o trabalho era dividido da seguinte forma: a mulher cuidava do preparo do alimento e das crianças, o homem era o responsável pela caça e proteção da família.
Os grupos que habitam no interior viviam em cavernas, já os que habitavam as regiões litorâneas construíam casas de palha, madeira ou sambaqui (amontoados de conchas e restos de peixes e outros animais).
Uma característica importante dessas sociedades era o cuidado que eles dedicavam a terra: o cultivo respeitoso e consciente possibilitava o aumento da biodiversidade. No Brasil essas civilizações não formaram grandes impérios a exemplo das sociedades que se organizaram na América espanhola, mas nem por isso são menos importantes.
A Importante Descoberta do Crânio de Luzia
A descoberta do crânio de Luzia em um sítio arqueológico conhecido como Lapa Vermelha na cidade mineira de Pedro Leopoldo na década de setenta é um importante objeto de estudo sobre a pré-história brasileira. Foi batizado com esse nome pelo professor e arqueólogo Walter Alves Neves, em uma referência a Lucy o fóssil de 3,5 milhões de anos encontrado em 1974 na Etiópia.
Os estudos de Luiza desvendam alguns mistérios sobre esse período, entre eles o que diz respeito aos traços físicos dos indígenas. Se os primeiros habitantes chegaram a esse território vindo da África e da Austrália como explicar as diferenças físicas entre eles e os indígenas? A resposta está na segunda onda migratória que se dirigiu ao Brasil. Esses povos dos quais descendem os atuais indígenas brasileiros vieram da Ásia, da região da Mongólia de onde também descenderam os japoneses e chineses.
Os estudos sobre o crânio de Luzia foram dirigidos pelo arqueólogo Walter Alves Neves, e as descobertas relacionadas a ele derrubam a tese de que a ocupação do continente americano teria sido realizada a partir da América do Norte. Essa teoria recebeu o nome de “Clóvis-Primeiro” ou cultura Clóvis, nome do sítio arqueológico no Novo México, Estados Unidos onde foram encontrados os vestígios mais antigos dos primeiros povoadores.
A descoberta de Luzia comprovaria que a ocupação da América do Sul é anterior a América do Norte e que diferente do que afirmavam os cientistas norte-americanos, mais de uma onda migratória adentrou o nosso continente.
Alguns Sítios Arqueológicos Brasileiros
Sítios Arqueológicos do Parque Nacional Serra da Capivara: O sítio arqueológico da Serra da Capivara está localizado em São Raimundo Nonato no Piauí dentro do Parque Nacional da Serra da Capivara. Maior sítio do continente americano, conta hoje com 912 sítios arqueológicos catalogados com esqueletos humanos e 657 pinturas rupestres. Algumas pinturas são datadas de até doze mil anos atrás. Declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, o sítio enfrenta problemas devido à falta de recursos para a manutenção do parque. A arqueóloga Niéde Guidon é a responsável pelos trabalhos científicos realizados na Serra da Capivara desde os anos 70.
Monte Alegre: situado no município de Monte Alegre no Pará conta com dezenove sítios arqueológicos. As pinturas rupestres teriam sido registradas por povos antigos da Amazônia. Os povos que habitaram essa região teriam vivido cerca de onze mil anos atrás.
Lagoa Santa: está localizado em uma área de proteção ambiental na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. Local onde foi descoberto o crânio de Luzia abriga diversos sítios arqueológicos. Além de um cemitério com mais de trinta esqueletos a região também abriga ossos de mamíferos gigantes.
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Lorena Castro Alves
Graduada em História e Pedagogia
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