A Guerrilha do Araguaia

A Guerrilha do Araguaia

o que foi a guerrilha do Araguaia? A Guerrilha do Araguaia entrou para a história como um dos maiores movimentos de resistência popular. Liderado pelo PC do B buscou inspirações nas revoluções socialistas chinesas e cubanas para lutar contra o regime militar entre os nos de 1966 e 1974.

O conflito só veio ao conhecimento da população após o seu término, usufruindo da lei da censura o governo impedia qualquer divulgação sobre o que ocorria nas localidades às margens do rio Araguaia.

A guerrilha foi um duro golpe para o regime, apesar de o movimento ter sido sufocado e os seus participantes assassinados de modo cruel o levante serviu para mostrar que o exercito brasileiro não era invencível e que já era hora do governo iniciar o processo de redemocratização, antes que um movimento de proporções ainda maiores conseguisse fazer a revolução socialista no país.

Contexto Histórico

As nações latino-americanas são marcadas por desigualdades e conflitos sociais, herança secular da exploração e dominação estrangeira e da extrema concentração das riquezas em poder das elites nacionais. Considerado uma região de países eminentemente agrários, a América Latina vai se transformando e deixando de ser um ambiente dominado por oligarquias locais e aos poucos se torna um continente industrializado. Mas, essa transição não se dá de forma tranquila, à medida que os países latino-americanos vão se desenvolvendo, as contradições entre as classes se acirram.

No Brasil, num período em que essas mudanças se tornaram mais aceleradas e perceptíveis, mais precisamente entre os anos 1950 e 1970, o descontentamento popular se aprofundou em reação aos seus efeitos sociais, pondo em questão tanto a exploração praticada pelas classes dominantes nacionais quanto à influência estrangeira.

Diante desse quadro social e politicamente explosivo, grupos políticos de esquerda que, por vezes, se organizam em partidos encontram no caminho revolucionário a solução para a libertação das classes populares latino-americanas. Em vários países, os partidos comunistas se apresentam com um dos porta-vozes desses descontentamentos e conclamam as massas espoliadas a lutar. Cuba se torna o primeiro país a fazer uma revolução vitoriosa no continente.

Os Estados Unidos, após a vitória da Revolução Cubana, passa a financiar golpes de Estado por toda a América Latina. Em decorrência, surgem governos militares e autoritários que usam todos os tipos de arbitrariedade para impedir que uma nova revolução aconteça. Para os EUA, é inadmissível que ocorra uma nova revolução em seus domínios.

No Brasil, não foi diferente. O regime militar que se instaurou em 1964 usou todos os meios sórdidos para reprimir a ação de grupos dispostos a fazer a revolução. O povo era cada vez mais massacrado em nome da ordem e da democracia ditada pelas classes dominantes e pelos interesses do capital imperialista.

Em meio a essa onda de injustiças, vários partidos e organizações de esquerda dentre eles o Partido Comunista do Brasil – PC do B – passam a elaborar e colocar em prática plana de luta armada contra o regime militar. Para os dirigentes do PC do B, a única maneira de se fazer a revolução era partir para o campo e buscar no povo o apoio necessário para a luta inspirada na experiência da revolução chinesa liderada por Mao Tse-Tung.

Para o PC do B, Mao Tse-Tung era o maior líder revolucionário da atualidade. Em consonância com essa orientação, o PC do B começa a mandar em 1966 militantes para a região do Bico do Papagaio (confluência dos estados de Goiás, Pará e Maranhão). Era o início de um dos maiores conflitos da história brasileira, a Guerrilha do Araguaia.

Mapa - Guerrilha do Araguaia
Mapa da Região da Guerrilha do Araguaia

A Guerrilha do Araguaia foi à tentativa do PC do B de fazer uma revolução com o apoio do povo. O sonho de revolução do Partido Comunista do Brasil foi interrompido em 1972, quando o exército descobriu o movimento e invadiu a região.

Exército

As investidas do exército foram divididas em três campanhas, sendo que na última, no final do ano de 1973, os guerrilheiros foram todos exterminados. O povo brasileiro se via cada vez mais esmagado pela inflação, pelos baixos salários e pela falta de assistência do governo. Sem contar com o total abandono em que viviam a população rural que, além de não contar com nenhum tipo de apoio do governo, ainda sofria na mão de grandes fazendeiros, grileiros e policiais corruptos. Essa grande parcela da sociedade brasileira era ignorada pelas autoridades do nosso país e entregue à própria sorte.

Os trabalhos do PC do B estavam concentrados a partir deste momento em encontrar um lugar favorável para o início da luta.

Dirigentes do partido peregrinavam pelo país em busca do local perfeito. Este lugar deveria ser de difícil acesso para os militares e propícios a um trabalho social de massas. O local escolhido foi à região conhecida como Bico do Papagaio, confluência dos estados de Goiás, Pará e Maranhão. Quando chegassem à região, os militantes não deveriam deixar que a população descobrisse suas reais intenções, eles passariam por simples moradores para depois dar início ao trabalho assistencial e logo após, quando tivessem ganhado a simpatia e confiança, eles iniciariam o trabalho de doutrinação e conscientização das massas.

Grupo de Guerrilheiros
Grupo de Guerrilheiros

Assim que chegaram à região, os moradores os apelidaram de “paulistas”, não foi difícil conquistar a simpatia dos ribeirinhos, vivendo praticamente abandonados pelo governo eram carentes de tudo. Os militantes ao mesmo tempo em que davam continuidade a estratégia de guerrilha, auxiliavam essa população de todas as formas possíveis.

Entre os guerrilheiros havia médicos, enfermeiras, professoras a maioria vinda da classe média alta, eles iniciaram uma série de trabalhos sociais com esse povo sofrido cansado da miséria e da arbitrariedade das autoridades locais. Na visão do movimento, seria fácil formar um exército popular para marchar rumo aos centros urbanos e derrubar o regime militar.

Em 1972 o governo envia tropas para a região do Araguaia, mas a inexperiência dos soldados em lutar em locais de mata densa fez com que as duas primeiras expedições do exército fracassassem. A terceira campanha do exército iniciou em outubro de 1973 e se caracterizou pelo terror implantado pelos militares.

Os soldados prendiam homens e mulheres, espancavam qualquer um que considerasse colaborador da guerrilha, destruía casas e plantações. Dessa vez, o exército veio bem preparado com o apoio de tropa especializada em combate na selva, recrutavam também trabalhadores rurais para orientá-los dentro da mata.

Fim da Guerrilha do Araguaia

Com o ataque do exército, os guerrilheiros que eram organizados em três destacamentos se viram obrigados a se dispersar para tentar fugir do cerco inimigo. Mas a luta era infinitamente desigual, de um lado estavam os guerrilheiros do PC do B com poucas armas e munições para lutar contra um exército preparado para uma verdadeira guerra, vinham equipados até com helicópteros para vencer cerca de cinquenta guerrilheiros. A derrota das Forças Guerrilheiras foi inevitável, os militantes que participaram dessa última campanha foram todos assassinados.

Corpos dos guerrilheiros mortos no combate
Corpos dos guerrilheiros mortos no combate

O desejo do Partido Comunista do Brasil de fazer a Revolução não foi concretizado, a Guerrilha do Araguaia por muito tempo foi escondida da sociedade havia o medo por parte dos militares que ela servisse de exemplo para a deflagração de outra luta. Mas não foi o que aconteceu, nenhuma outra organização se dispôs a dar início a outro movimento revolucionário, mesmo porque o governo militar não admitiria.

Veio à abertura política e o fim do regime militar, mas a situação do povo não mudou muito, principalmente na região onde ocorreu a Guerrilha do Araguaia. Os trabalhadores continuam sendo explorados e os pequenos proprietários de terra ameaçados por grileiros e grandes latifundiários.

A Guerrilha foi uma tentativa de mudar esse quadro, mas aqueles que se beneficiam do atraso do país foram mais fortes. O desejo de revolução parece ter caído no seu esquecimento, aqueles que ainda tocam no assunto são vistos como “radicais” e essa possibilidade parece cada vez mais remota.

Lorena Castro Alves
Graduada em História e Pedagogia

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