O Romantismo brasileiro

Na ordem, os poetas Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves, representantes do Romantismo no Brasil.

Na ordem, os poetas Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves, representantes do Romantismo no Brasil. Gonçalves Dias foi o nome mais importante da primeira geração; Álvares de Azevedo, da segunda, também conhecida como Ultrarromantismo, e Castro Alves representou a terceira fase, caracterizada pela poesia condoreira.

Umas mais importantes escolas literárias do Brasil, o Romantismo deixou uma marca indelével para nossas letras, deixando para os leitores obras que ainda hoje possuem grande relevância. Surgiu como movimento literário poucos anos depois da independência política da então colônia portuguesa, no ano de 1822, e assumiria como principal projeto a criação de uma literatura genuinamente brasileira, abandonado assim os moldes da literatura europeia.

Nas principais obras do período percebe-se o empenho dos escritores para definir um perfil da cultura brasileira em vários aspectos: a língua, a etnia, as tradições, o passado histórico, as diferenças regionais, a religião, etc. Tais aspectos ainda não haviam sido contemplados em nossa literatura, muito apegada à visão eurocentrista de fazer arte. Tudo isso mudou a partir da independência, que despertou nos intelectuais brasileiros a necessidade de criar uma cultura brasileira identificada com suas próprias raízes.

Tradicionalmente, o Romantismo brasileiro é dividido em três diferentes fases. Essas fases, ou gerações, dizem respeito à poesia produzida no período (posteriormente falaremos sobre a prosa romântica ou apenas romance). São elas:

Primeira geração: Seus principais representantes são os escritores Gonçalves Dias e José de Alencar. Essencialmente nacionalista, indianista e religiosa, a primeira fase do Romantismo brasileiro foi responsável por orientar todo o movimento, abrindo um leque de possibilidades a serem exploradas. Pode ser representada pela Canção do exílio, o mais conhecido poema de Gonçalves Dias:

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores.

Em  cismar, sozinho, à noite, 
Mais prazer eu encontro lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores, 
Que tais não encontro eu cá; 
Em cismar sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra, 
Sem que eu volte para lá; 
Sem que disfrute os primores 
Que não encontro por cá; 
Sem qu’inda aviste as palmeiras, 
Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias

Segunda geração: A exarcebação da sentimentalidade e a morbidez estão entre os temas que definem a estética ultrarromântica. Na obra de Álvares de Azevedo, considerado o poeta mais importante de sua geração, é comum encontrar expressões que transportam o leitor para um universo mórbido e depressivo. Além de Álvares de Azevedo, outros nomes ganham destaque, entre eles Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire.

Soneto 

Já da morte o palor me cobre o rosto, 
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!
Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!… já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece…
Eis o estado em que a mágoa me tem posto! 

O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!

Álvares de Azevedo

Terceira geração: O Condoreirismo, importante corrente literária que marcou a terceira geração da poesia romântica no Brasil, teve como principal representante o poeta Castro Alves, cujo engajamento na poesia social lhe rendeu a alcunha de “poeta dos escravos”. Manifestação literária que ficou marcada pelo interesse com os problemas sociais brasileiros, sobretudo com a questão da escravidão dos negros, a poesia condoreira rompeu com a tradição romântica ao preterir temas como o ufanismo e o egocentrismo, vigentes na poesia da segunda geração do Romantismo. O Condoreirismo pode ser melhor exemplificado a partir da leitura do fragmento do poema “O vidente”, de Castro Alves:

“[…] Enfim a terra é livre! Enfim lá do Calvário
A águia da liberdade, no imenso itinerário,
Voa do Calpe brusco às cordilheiras grandes,
Das cristas do Himalaia aos píncaros dos Andes!
Quebraram-se as cadeias, é livre a terra inteira,
A humanidade marcha com a Bíblia por bandeira.
São livres os escravos… Quero empunhar a lira,
Quero que est’alma ardente um canto audaz desfira,
Quero enlaçar meu hino aos murmúrios dos ventos,
Às harpas das estrelas, ao mar, aos elementos! […]”

(Fragmento do poema “O vidente”, de Castro Alves)

A prosa do Romantismo alcançou maior êxito em relação à poesia no que diz respeito à realização da proposta de criação de uma literatura genuinamente brasileira. Pode ser classificada em três diferentes vertentes: o romance indianista ou histórico, romance regional e romance urbano. Confiras as principais características de cada uma dessas tendências:

Romance indianista ou histórico: Na tentativa de definir a etnia brasileira, os escritores românticos constataram que o índio era o verdadeiro representante da ração brasileira, mais que o branco (vindo da Europa, identificado com o colonizador português) e o negro (vindo de outro continente, a África). O índio era visto como o “bom-selvagem”, cujo comportamento era idealizado. O principal representante do romance indianista é o escritor José de Alencar, que deixou para os leitores as principais realizações indianistas de nossa literatura, como os livros O guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874).

Romance regional: No romance regional o propósito de criação de uma literatura que retratasse a verdadeira identidade nacional se concretizou. Não que tal fato não tenha ocorrido no romance indianista, mas é importante ressaltar que a primeira fase ainda apresentava resquícios dos moldes literários europeus. Os escritores da literatura regionalista não possuíam qualquer molde no qual pudessem se espelhar e, por esse motivo, foram obrigados a construir seus próprios modelos. Essa atitude contribuiu para que alcançássemos a tão sonhada autonomia literária em relação à Europa, além de ter proporcionado ao leitor uma verdadeira viagem pelos quatro cantos do Brasil. Entre os principais escritores do romance regional estão José de Alencar, com sua obra O gaúcho, na qual retratava o espaço do Rio Grande do Sul; O cabeleira, de Franklin Távora, no qual temos representada a região nordeste, e Inocência, do escritor Visconde de Taunay, responsável por retratar a região Centro-Oeste.

Luana Alves
Graduada em Letras

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