Aumento da solidão: brasileiros buscam IA para se relacionar e tratar problemas

Estudo revela que 1 em cada 10 brasileiros utiliza chats de IA para suprir carências emocionais e sociais, destacando um problema crescente de solidão.

Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) tem ganhado espaço em diversas áreas, desde a automação de processos até interações mais pessoais.

Uma dessas interações tem causado inquietação entre especialistas: o uso de chatbots de IA para realizar uma espécie de ‘terapia’.

No Brasil, esse fenômeno tem crescido, refletindo problemas mais profundos como a solidão e o difícil acesso aos cuidados de saúde mental.

Segundo um estudo da Talk Inc, 1 em cada 10 brasileiros já recorreu a plataformas de IA para desabafar e buscar conselhos emocionais, como o ChatGPT.

A pesquisa, realizada com mil pessoas em diferentes regiões e faixas etárias, revela que a solidão e a introspecção são fatores-chave para essa busca.

Especialistas, como Carla Mayumi, da Talk Inc, apontam que essa tendência reflete a dificuldade crescente das pessoas em encontrar apoio emocional de qualidade, seja por falta de tempo ou de recursos para acessar psicoterapia tradicional.

A solidão e a companhia da IA

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a solidão como uma prioridade de saúde global, e o Brasil não está imune a essa crise.

Muitos brasileiros enfrentam solidão mesmo vivendo em famílias grandes ou estando cercados por pessoas. Essa falta de interação significativa, aliada ao estresse diário, cria um vácuo emocional que a IA tenta preencher.

O atrativo da ‘terapia’ com IA reside na disponibilidade constante. Um chatbot não julga, está sempre disponível e pode oferecer respostas empáticas em tempo real, o que faz com que muitas pessoas tratem essas máquinas como verdadeiros interlocutores humanos.

Um dado alarmante do estudo mostra que 60% dos entrevistados interagem de forma educada com a IA, como se estivessem falando com uma pessoa real, iniciando conversas com saudações e expressando gratidão.

Problemas e riscos da terapia com IA

Apesar da popularidade crescente, essa substituição da terapia tradicional por conversas com IA apresenta problemas graves.

Chatbots, por mais avançados que sejam, não são psicólogos. Eles não possuem a capacidade de interpretar profundamente as emoções ou contextos complexos.

Em alguns casos, como o do chatbot Wysa, relatos mostraram que a IA utilizou inseguranças expressas pelos usuários para oferecer conselhos inadequados.

Um exemplo preocupante foi quando a IA sugeriu a um usuário que terminasse seu relacionamento, baseando-se em suposições de traição feitas pela própria pessoa em conversas anteriores.

Outro risco é a dependência emocional. Como apontado por Tina Brand, cofundadora da Talk Inc, o fenômeno do ‘afeto artificial’ está em ascensão.

Embora casos de ‘relacionamentos amorosos’ com IAs ainda sejam raros, há um crescente apego emocional a essas plataformas, que podem oferecer uma falsa sensação de conexão.

O perigo aqui é a ilusão de suporte, quando na verdade a pessoa não está recebendo o tratamento adequado para suas questões emocionais.

O alto custo e a desigualdade no acesso à terapia

Além da solidão, outro fator que impulsiona o uso de IA para desabafos emocionais é o custo elevado dos serviços de terapia no Brasil.

A pesquisa “Panorama da Saúde Mental”, realizada em parceria entre o Instituto Cactus e a AtlasIntel, revelou que apenas 5% da população faz psicoterapia e 16% usa medicação para problemas de saúde mental.

Isso significa que grande parte da população não tem acesso a profissionais, seja por questões financeiras ou por estigma.

Nesse cenário, os chatbots de IA surgem como uma opção acessível, mas longe de ser ideal. Embora ofereçam um espaço imediato para desabafo, não substituem o tratamento profissional necessário para lidar com transtornos mentais.

A longo prazo, isso pode agravar os problemas de saúde mental, em vez de resolvê-los. Nenhuma IA pode substituir o tratamento com o profissional adequado. Procure terapeutas certificados para fazer o tratamento adequado ao seu caso.

*Com informações de Super Interessante e CNN Brasil.

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