O Brasil Colonial de Jean-Baptiste Debret
As obras de Jean-Baptiste Debret são uma importante fonte de estudo da sociedade colonial brasileira. O pintor chegou ao Brasil no dia 26 de março de 1816 integrando a Missão Artística Francesa, foi contratado por D.João VI para fundar no Brasil uma Academia de Belas Artes, permaneceu no país durante quinze anos. As pinturas de Debret são facilmente encontradas nos livros de história e auxiliam no entendimento de diversas passagens do cotidiano brasileiro no século XIX. Na obra acima, o pintor deixou impresso na imagem a relação de violência existente entre o feitor branco e o escravo negro, situações comuns no sistema escravocrata que prevaleceu no Brasil por mais de trezentos anos.
Em 1808, a corte real portuguesa incentivada pela poderosa Inglaterra decidiu se transferir para o Brasil como parte de uma estratégia que buscava fugir da política expansionista de Napoleão Bonaparte. Quando assumiu o governo francês, Bonaparte deu início a uma série de medidas que visavam enfraquecer e isolar economicamente a Inglaterra e aumentar o poder da nação francesa, nesse contexto ele decretou o Bloqueio Continental que proibia todos os países europeus de fazer negócios com os ingleses, sob a ameaça de ter os seus territórios invadidos pelo exército francês. D.João VI não acatou ao decreto, pois, a nação inglesa era a sua mais importante aliada comercial e como Portugal não tinha condições militares de enfrentar o exército napoleônico à alternativa mais viável seria a fuga.
Aceitando a sugestão inglesa de vir para o Brasil e transformar a cidade do Rio de Janeiro em capital do império português, centenas de pessoas da corte entre funcionários e a família real embarcaram em quatorze navios rumo à colônia. Chegando ao Brasil em março de 1808 a corte se instalou na cidade carioca, os moradores foram obrigados a abandonar suas casas para dar lugar à família real. O rei português promoveu uma onda de reformas na colônia na tentativa de transformá-la em algo mais próximo da realidade europeia. Incentiva à instalação de indústrias, criação do Banco do Brasil e do Jardim Botânico faz parte de algumas das medidas adotadas para modernizar a nova capital do império. Nesse cenário de mudanças pode-se destacar o incentivo ao desenvolvimento cultural, D. João VI criou o Museu Nacional, a Biblioteca Real, a Escola Real de Artes e o Observatório Astronômico, a chegada da Missão Artística Francesa em 1816 iria impulsionar ainda mais o cenário artístico brasileiro.
A Missão Artística Francesa liderada por Joaquim Lebreton foi convidada a vir para o Brasil com o objetivo de ensinar artes plásticas aos brasileiros e fundar uma Academia de Belas Artes seguindo o estilo neoclássico com a utilização de padrões artísticos baseados na arte greco-romana. Entre os artistas que faziam parte da missão estava Jean-Baptiste Debret, pintor e desenhista que ficaria conhecido pelas inúmeras obras que produziu retratando o cotidiano da colônia brasileira. Debret seria elevado ao posto de pintor oficial da família real e em 1826 criaria a Academia Imperial de Belas-Artes do Rio de Janeiro onde também atuaria como professor, o artista contribuiu para a concretização do sonho de D.João VI em espalhar a cultura na colônia inspirada nos padrões da cultura europeia. Permanecendo no Brasil até 1831, Debret retratou a imagem em tamanho real do rei português e participou como retratista dos primeiros anos do reinado de D.Pedro I.
Foi responsável por organizar a primeira exposição artística no país. De volta a França publicou em 1834 uma série de gravuras divididas em três volumes intituladas de “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil”, através dessas obras o artista mostrou um pouco da sua paixão pela diversidade do povo brasileiro e também indignação com algumas práticas como é o caso da escravidão. A partir da chegada da Missão Francesa e do trabalho principalmente de Debret, o cotidiano dos negros ganharia visibilidade, a intenção de D. João era estimular a cultura, mas quase sem querer acabou contribuindo para a construção de um grande acervo sobre a vida privada da sociedade brasileira.
Abaixo podemos analisar algumas obras de Debret
Essa imagem datada de 1822 apresenta a dura rotina dos negros nos engenhos de cana-de-açúcar. O escravo participava de todo o processo desde a derrubada das florestas para o plantio da cana até a produção do açúcar. A utilização da mão-de-obra negra garantia uma maior margem de lucro dos senhores de engenho.
Imagem de 1835 retrata o recorrente uso da violência no trato com o negro. A aplicação da chibatada era o castigo mais utilizado, punir o escravo na presença dos demais negros era uma forma de disciplinar e evitar que outros erros fossem cometidos. A constante humilhação a qual eram submetidos fazia aumentar o ódio dos escravos pelo seu senhor. Essa relação conturbada entre o negro e o seu patrão, diversas vezes foi o estopim para rebeliões de escravos. Relatos de resistência negra não são muito frequentes, porém quando isso ocorria os feitores e o senhor de engenho eram o principal alvo da ira do escravo. Fuga para os quilombos recém-criados no meio das matas também era uma forma de resistira aos maus tratos.
As escravas negras que trabalhavam nas casas dos senhores sofriam tanto quanto os homens que realizavam penosos trabalhos nos engenhos. Cobiçadas pelos patrões, elas sofriam com o ciúme e o ódio nutrido pelas sinhás. Os castigos eram diversos, eram muitas vezes mutiladas (para ficarem feias e não serem mais desejadas pelo seu dono) ou até mesmo assassinadas. Eram constantes os casos de negras que ficavam grávidas do senhor, a separação de mãe e filho era uma das formas encontradas pelas senhoras traídas de castigar a negra.
O desenho ao lado é de 1826, ele apresenta um momento festivo dos negros. Debret buscou retratar também a cultura e os rituais dos escravos. Quando os africanos chegavam ao Brasil muitos eram acometidos por uma doença chamada de Banzo, enfermidade que acometia a alma, gerando uma tristeza profunda por estar afastado da terra natal e dos entes queridos. As manifestações culturais dos negros na colônia era uma alternativa encontrada por eles para matar um pouco da saudade do continente africano.
Lorena Castro Alves
Graduada em História e Pedagogia
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