Busca científica revela berços de escravizados através da utilização dos Isótopos
Descubra como uma pesquisa utiliza isótopos para rastrear as origens geográficas de pessoas escravizadas, trazendo uma nova perspectiva sobre a história e a herança cultural.
Em 2013, durante uma obra de renovação em um centro de artes cênicas na Carolina do Sul, EUA, trabalhadores se depararam com uma descoberta um tanto quanto intrigante: ossos humanos. Estes restos, depois de uma análise, foram identificados como pertencentes a um cemitério do final do século XVIII.
Na verdade, os itens encontrados junto aos corpos, como moedas e cerâmicas, indicavam que os restos mortais poderiam ser de africanos escravizados. Diante dessa possibilidade, cientistas e líderes comunitários acabaram criando meios para desvendar a história dessas pessoas.
Investigação científica e comunitária
A pesquisa foi liderada inicialmente por Ade Offuniyin, um antropólogo cultural, mas após seu falecimento em 2020, o grupo Anson Street African Burial Ground assumiu o projeto. Com permissão da comunidade afro-americana local, amostras de DNA dos 36 indivíduos encontrados foram coletadas e analisadas.
As análises de DNA revelaram que muitos desses indivíduos vieram da África Centro-Ocidental, Ocidental e Subsaariana. Um deles, inclusive, possuía ancestralidade mista entre a África Ocidental e os nativos americanos.
Para aprofundar as investigações, os pesquisadores utilizaram o mapeamento isotópico. Essa técnica analisa variações de isótopos, como o estrôncio, nos dentes, para determinar a origem geográfica dos indivíduos.
Estudo comparativo ajudou a identificar a região das pessoas
Um pouco adiante, em um estudo de 2023, os cientistas compararam os isótopos de estrôncio encontrados nos dentes de Charleston com os de outros cemitérios africanos em países como Brasil, México e São Martinho. Essa comparação ajudou a identificar as regiões de origem dessas pessoas.
Os estudos, no entanto, não vão ficar apenas nessa linha. Os pesquisadores planejam expandir suas técnicas utilizando os isótopos de oxigênio. Eles pretendem, com esses novos métodos, conseguir entender se os indivíduos viviam em áreas quentes e secas ou em regiões tropicais e úmidas.
Essas informações, ao longo da pesquisa vão ajudar para um entendimento mais completo do comércio transatlântico de escravos e sua extensão no continente americano.
É importante destacar que, com os avanços tecnológicos possibilitados as pesquisas, os estudiosos esperam integrar dados isotópicos a outros registros. Assim será possível ter acesso a listas de embarque, bem como outros apontamentos. O objetivo é traçar o percurso dos escravizados desde o interior africano até as Américas.
Homenagem aos ancestrais em Charleston
Em Charleston, um tributo especial será prestado aos ancestrais descobertos. Um artista local criará moldes de bronze das mãos dos 36 indivíduos encontrados. Essas mãos de bronze serão instaladas sobre uma fonte especial, no qual a bacia se estende a terra de outros cemitérios afro-americanos próximos, simbolizando a união e a memória dessas vidas.
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