Cabanagem

A Cabanagem faz parte de uma das revoltas ocorridas no período regencial. O movimento recebeu esse nome devido aos participantes do movimento, em sua maioria indígena e mestiça, habitarem cabanas construídas a margem de rios.

O que foi a Cabanagem? A Cabanagem faz parte de uma das revoltas ocorridas no período regencial. O movimento recebeu esse nome devido aos participantes do movimento, em sua maioria indígena e mestiça, habitarem cabanas construídas a margem de rios. Os participantes da revolta ficaram conhecidos como cabanos.

Introdução

O Período Regencial (1831-1840) foi relativamente curto, é uma parte da história brasileira compreendida entre o primeiro e o segundo reinado.Apesar de ter abrangido um curto período dentro da nossa historiografia, foi suficiente para a eclosão de uma série de revoltas que refletiam a insatisfação popular e a situação de abando em que vivia grande parte dos moradores dos centros urbanos e principalmente aqueles que habitavam as regiões mais afastadas do centro do governo federal.

A Cabanagem ocorreu entre os anos de 1835 e 1840 na região conhecida como província do Grão-Pará, que atualmente abrange as regiões dos estados do Pará, Amapá, Rondônia, Roraima e Amazonas. Cerca de cento e vinte mil moradores povoavam a região, sendo que a maioria era composta por índios, negros e mestiços.
Mapa da Cabanagem: Província do Grão-Pará
Mapa da Cabanagem: Província do Grão-Pará

Motivos

A população do Grão-Pará vivia a parte das decisões do governo federal, vivendo a margem de rios e sobrevivendo basicamente da pesca, da exploração da madeira e da extração das drogas do sertão: castanha-do-pará, cacau, baunilha e ervas medicinais; a miséria e a fome faziam parte do cotidiano dos moradores.

Além das péssimas condições de vida a que estavam sujeitados, os cabanos (os moradores eram conhecidos dessa forma por habitarem em canas as margens dos rios) sofriam com o autoritarismo e exploração dos grandes fazendeiros da região. Abandonados pelo governo brasileiro, a população estava à mercê da própria sorte.

O regime escravocrata ainda persistia no Brasil durante o período regencial, e na província do Grão-Pará não era diferente. A população dessa região trabalhava no regime de escravidão ou em troca de salários bem baixos. As moradias eram feitas utilizando estacas às margens dos rios.

A Cabanagem ganhou características de uma rebelião popular, mas não foi organizada apenas pela população mais pobre, a elite também participou do movimento, mas é claro que reivindicando outros direitos.

Com a promulgação da Constituição de 1824, ficou evidente que o imperador não tinha interesse em conceder autonomia política as províncias brasileiras. O autoritarismo impresso nessa Constituição gerou um descontentamento nas elites de todas as regiões brasileiras.

A insatisfação por não poder escolher os presidentes de suas províncias, motivou os grandes fazendeiros e comerciantes a se unirem com os cabanos no Grão-Pará e a iniciar uma das revoltas sociais mais importantes do período regencial: a Cabanagem ou Guerra dos Cabanos.

É interessante perceber que um único movimento é capaz de reunir pessoas com reivindicações distintas, mas que o alvo do descontentamento é o mesmo:

  • o governo federal
  • os cabanos desejavam terras para plantar e o fim do regime escravocrata
  • os fazendeiros queriam ter o direito de escolher o presidente da província

O movimento dos cabanos contou com a participação da elite agrária e de comerciantes, o desejo dos revoltosos era conquistar mais autonomia política e melhores condições de vida, para eles tudo isso se tornaria real a partir da emancipação e da criação de uma república independente.

A capital da província do Grão-Pará era a cidade de Belém, era através dela que os produtos explorados eram exportados. A elite local era extremamente ligada aos portugueses, Belém era a cidade que mais dependia de Portugal, isso se deve ao fato de pouca coisa ter mudado na região após a declaração de independência brasileira.

Revolta

Em 1835, os cabanos invadiram a então capital e executaram o presidente da província Bernardo Lobo de Souza e as demais autoridades. Com o extermínio do governo local, os cabanos iniciaram o seu primeiro governo, colocando no poder o fazendeiro Félix Clemente Malcher. O novo governo traiu o movimento demonstrando sua fidelidade ao governo português, inclusive reprimindo a revolta que o levou ao poder.

Malcher foi executado e sucedido por Francisco Pedro Vinagre. Repetindo o que aconteceu no primeiro governo cabano, o novo líder também traiu o movimento. Disposto a negociar com o governo central, Vinagre demonstrou até mesmo o interesse em ceder o seu poder a alguém indicado pelos portugueses.

O traidor foi sucedido por Eduardo Argelim, que persistiu na ideia de reconquistar Belém. Os rebeldes conseguiram tomar a capital e proclamar uma República em agosto de 1835.

Consequências da Cabanagem

O governo federal reuniu suas tropas para combater os revoltosos e reprimir qualquer foco revolucionário na região, para isso contou com o apoio de tropas europeias. Uma poderosa frente militar foi enviada para a região do Grão-Pará, a província se tornou palco de batalhas sangrentas que persistiram ao longo de cinco anos. A duração da rebelião demonstrou a ousadia dos cabanos que se recusavam a rendição.

No início da Guerra dos Cabanos, a província do Grão-Pará era habitada por cerca de cem mil moradores, com a violência dos combates os rebeldes sucumbiram às tropas do governo, o que reduziu a população a sessenta mil moradores.

Para relembrar o acontecimento, um Memorial foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemayer e erguido em Belém. No ano de 1985 para homenagear o sesquicentenário da Cabanagem, o monumento foi inaugurado. Sua construção representa a força dos cabanos que lutaram bravamente contra a opressão, a desigualdade social e o abandono em que vivem milhares de brasileiros por todo o país.

Apesar de sufocada, os ideais da Cabanagem ainda vivem na luta diária do nosso povo em busca de melhores condições de vida.

Lorena Castro Alves
Graduada em História e Pedagogia

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