Cidade brasileira já sofre com aumento do nível do mar, aponta ONU
Atafona, distrito de São João da Barra, está sendo destruída pela erosão costeira causada pela elevação do nível do mar.
Atafona, pequeno distrito de São João da Barra no estado do Rio de Janeiro, é hoje o exemplo vivo dos impactos severos da elevação dos níveis dos oceanos, fenômeno relacionado às mudanças climáticas.
O vilarejo, localizado na foz do rio Paraíba do Sul, já perdeu cerca de 500 casas e mais de um milhão de metros quadrados de terra para o mar.
O avanço do oceano, que ocorre a uma média de cinco metros por ano, faz com que a paisagem do local mude drasticamente, devastando memórias, histórias e infraestrutura.
A erosão costeira em Atafona não é um evento recente. Desde os anos 1960, o mar tem invadido gradualmente a costa, uma consequência de fatores naturais e, principalmente, da intervenção humana.
Um dos grandes responsáveis por acelerar esse processo foi a construção de barragens ao longo do rio Paraíba do Sul.
Tais barragens interromperam o transporte natural de sedimentos, essenciais para a formação e manutenção das praias. Sem a proteção da areia trazida pelo rio, o mar ganhou força, avançando cada vez mais sobre a terra.
Além das barragens, a retirada de areia das dunas e outras atividades humanas desequilibraram o ecossistema local, tornando a situação de Atafona mais crítica.
Com o avanço das águas, muitos moradores foram obrigados a abandonar suas casas, deixando para trás histórias e lembranças de uma cidade que, para muitos, já está desaparecendo como um castelo de areia.
O drama dos moradores
Sônia Ferreira, moradora da cidade desde 1978, descreve sua experiência como a de ‘morar em um castelo de areia’.
Quando construiu sua casa, o mar estava a dois quarteirões de distância. Hoje, a água já tomou conta do terreno onde a casa ficava, transformando completamente o cenário que antes abrigava memórias familiares.
A realidade de Sônia é compartilhada por muitos em Atafona, onde o avanço do mar não só destrói propriedades, mas também compromete a infraestrutura básica, como ruas, redes de esgoto e eletricidade.
Diante da ameaça constante, alguns moradores se organizaram em movimentos, como o SOS Atafona, que busca pressionar as autoridades por ações concretas.
No entanto, as soluções são complexas e exigem uma coordenação entre diferentes níveis de governo, algo que, até o momento, tem se mostrado insuficiente.
Impactos ambientais e econômicos
O avanço do mar em Atafona não afeta apenas a vida dos moradores. A economia local, baseada principalmente na pesca e no turismo, também sofre os impactos.
Com a destruição das áreas costeiras, a atividade pesqueira se torna cada vez mais difícil, e os turistas, antes atraídos pelas praias do balneário, agora se deparam com um cenário desolador.
A previsão para o futuro é ainda mais alarmante. Um relatório das Nações Unidas indicou que, até 2050, o nível do mar em Atafona poderá subir até 21 centímetros.
Tal aumento contínuo trará mais desafios para a cidade, que já enfrenta grandes dificuldades para se adaptar às mudanças.
Soluções em discussão
Os especialistas apontam duas principais alternativas para conter o avanço do mar em Atafona. Uma delas é a construção de barreiras físicas, como rochas e quebra-mares, para impedir que as águas avancem sobre a terra.
Outra proposta é o chamado “engordamento” da praia, que consiste em bombear areia do fundo do rio Paraíba do Sul e redistribuí-la ao longo da costa, uma técnica já utilizada em outras praias brasileiras, como Copacabana.
No entanto, essas soluções exigem grandes investimentos e um comprometimento efetivo do poder público.
Até o momento, a falta de ação concreta por parte das autoridades mantém Atafona em uma posição vulnerável, enquanto o mar continua a destruir o que resta da cidade.
Atafona: um retrato da mudança climática
Atafona é hoje um símbolo dos desafios enfrentados por cidades costeiras em todo o mundo. A erosão que destrói o município é um reflexo direto das mudanças climáticas globais, que elevam as temperaturas, derretem as calotas polares e fazem o nível do mar subir.
Sem medidas urgentes de adaptação e mitigação, o futuro de cidades como Atafona parece cada vez mais incerto.
Enquanto o mar avança, os moradores continuam a resistir, agarrados às suas memórias e ao desejo de preservar o que resta do local.
No entanto, a cada ano que passa, Atafona vai sendo engolida pelas águas, deixando para trás uma história que, se nada for feito, será apenas lembrança de um tempo que o oceano consumiu.
*Com informações de O Globo e Folha de São Paulo.
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