Cientistas alertam: os maiores lagos do mundo estão desaparecendo
De acordo com os pesquisadores, os principais motivos desse problema são as mudanças climáticas e o desperdício da água.
Mais da metade dos principais lagos e represas do mundo experimentaram consideráveis reduções de água ao longo dos últimos 30 anos, conforme revelado por um recente estudo divulgado pela revista Science nesta quinta-feira (18).
Essa situação é amplamente atribuída às mudanças climáticas e à exploração excessiva dos recursos hídricos.
A pesquisa também aponta que aproximadamente um quarto da população global reside em áreas afetadas por secas nos leitos de lagos.
Embora os lagos cubram apenas cerca de 3% da superfície do planeta, eles possuem quase 90% da reserva mundial de água doce em estado líquido.
Consequentemente, esses corpos d’água desempenham um papel essencial como fontes de água potável, irrigação e geração de energia, além de fornecerem habitats cruciais para animais e plantas.
Mais detalhes sobre o que está acontecendo com os maiores lagos do mundo
As oscilações dos níveis de água nos lagos são influenciadas pelas variações climáticas naturais, especialmente pelas chuvas e nevascas.
No entanto, até mesmo esses fenômenos naturais estão sendo cada vez mais impactados pelas atividades humanas.
Em escala global, os principais lagos têm sofrido uma significativa diminuição dos níveis de água.
Um exemplo disso é o Lake Mead, localizado no rio Colorado, no sudoeste dos Estados Unidos, que apresenta seu nível mais baixo em décadas.
O mar Cáspio, que se estende entre a Ásia e a Europa e é considerado a maior reserva de água continental do mundo, tem diminuído ao longo do tempo devido às mudanças climáticas e ao consumo de água.
Fangfang Yao, climatologista responsável pelo estudo, ressalta que a redução dos níveis de água nos grandes lagos tem sido observada há anos, porém, até o momento, nenhum estudo havia investigado esse fenômeno de forma abrangente.
“O encolhimento de muitos lagos foi bem documentado, mas a extensão da mudança – e as razões por trás dela – foram examinadas menos detalhadamente”, disse Yao.
A metodologia do estudo
Ao analisar mais de 250.000 registros de imagens de satélite entre 1992 e 2020, combinados com modelos climáticos, os pesquisadores encarregados desse novo estudo conseguiram reconstruir a trajetória dos lagos desde décadas atrás.
Os resultados revelaram que 53% dos lagos e reservatórios sofreram perdas significativas de água, totalizando uma diminuição líquida de aproximadamente 22 bilhões de toneladas anualmente.
Para ilustrar a magnitude desse volume, os cientistas compararam a quantidade ao equivalente de 17 Lake Meads.
Além disso, o relatório destacou que a redução no armazenamento de água ocorreu em lagos de todas as regiões do globo, inclusive nos trópicos e no Ártico.
Esses dados alertam para a abrangência do problema, como ressalta Fangfang Yao, indicando que as tendências de secagem em todo o mundo são mais amplas do que se presumia anteriormente.
Mais e mais lagos afetados pela secagem
Dois outros imensos lagos afetados pelo processo de secagem são o Mar de Aral, no Uzbequistão, e o Mar de Salton, na Califórnia, EUA, assim como o Great Salt Lake, situado em Utah, outro estado norte-americano.
Nesses três casos, os cientistas identificaram uma forte correlação entre a exorbitante demanda de água e o fenômeno da redução dos lagos, uma vez que todos eles estão localizados próximos a grandes centros urbanos.
De acordo com o estudo, à medida que os lagos diminuem em tamanho, a acidez das bacias hidrográficas circundantes aumenta, o que, por sua vez, intensifica a evaporação e acelera seu declínio.
Nos lagos situados em regiões mais frias do mundo, a evaporação no inverno torna-se um desafio crescente, pois as temperaturas mais altas causam o derretimento do gelo que geralmente os cobre, expondo a água à atmosfera.
Nos lagos árticos, por exemplo, a diminuição está relacionada a uma combinação de mudanças na temperatura, precipitação, evaporação e escoamento.
Essas transformações podem desencadear efeitos em cadeia, incluindo uma deterioração na qualidade da água, um aumento na proliferação de algas tóxicas e um aumento na perda de vida aquática.
“Um aspecto importante que muitas vezes não é reconhecido é a degradação da qualidade da água dos lagos devido a um clima mais quente, o que diminui o suprimento de água para as comunidades que dependem deles” afirmou FangFang Yao.
Os reservatórios de água também estão diminuindo
No caso dos reservatórios, de acordo com o relatório, a principal causa para o declínio é a deposição de sedimentos. Esses sedimentos são transportados para a água, obstruindo-a e reduzindo seu espaço disponível.
Um exemplo disso é o Lake Powell, o segundo maior reservatório de água doce dos Estados Unidos, que sofreu uma diminuição de quase 7% em sua capacidade de armazenamento devido ao acúmulo de sedimentos.
A sedimentação pode ser influenciada por mudanças climáticas, incêndios florestais e outros problemas que se intensificam à medida que o planeta aquece.
Ainda há esperança
Apesar dos dados preocupantes, o estudo destaca que nem todos os principais lagos do mundo estão experimentando declínio em seus níveis de água.
Pelo contrário, aproximadamente um terço das reduções nos níveis de água dos lagos foi compensado por aumentos em outras regiões. Como resultado, alguns lagos têm registrado um crescimento, com um aumento médio de 24% em seu armazenamento de água.
Esses lagos em expansão estão localizados, principalmente, em áreas menos densamente povoadas, incluindo regiões nas Grandes Planícies do Norte da América do Norte e no interior do planalto tibetano.
As mudanças climáticas também desempenham um papel nesse aumento de volume em certos lagos, pois o derretimento das geleiras contribui para o aumento de água em suas bacias.
FangFang Yao também enfatizou a importância de adotar uma gestão consciente dos recursos hídricos, ressaltando a necessidade de agir de forma responsável em relação à água doce.
“À medida que muitas partes do mundo se tornam mais quentes e secas, os lagos devem ser gerenciados adequadamente. Caso contrário, as mudanças climáticas e as atividades humanas podem levar à sua secagem mais cedo do que pensamos”, finalizou o cientista.
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