Contrarreforma ou Reforma Católica

A rápida expansão do protestantismo obrigou a igreja de Roma a reagir através de um movimento conhecido como Contrarreforma

Durante séculos a Igreja Católica exerceu um grande domínio na sociedade europeia e nos territórios dominados pelos conquistadores. A expansão das ideias protestantes abalou a hegemonia conquistada pela instituição cristã, à solução seria reagir promovendo uma reforma nas estruturas do catolicismo.

A revolução causada pelo monge alemão Martinho Lutero ao divulgar suas noventa e cinco teses iniciaram uma grave crise dentro da poderosa Igreja Católica. As denúncias de abuso de poder e venda de indulgência praticada pela instituição levaram muitos fieis a abandonarem o domínio imposto pelo clero.

Lutero ao mesmo tempo em que investiu em desmascarar as práticas abusivas da igreja também colaborou para o surgimento de outras religiões conhecidas como protestantes.

O que foi a Contrarreforma? A Contrarreforma ou Reforma Católica foi uma iniciativa que visou reconquistar os fieis perdidos após a divulgação das ideias de Martinho Lutero e moralizar todo o clero, corrompido por anos de abuso de poder.

Ao mesmo tempo em que buscava recuperar sua credibilidade, a igreja se lançava na tentativa de adequar seus dogmas ao novo modelo econômico: o capitalismo comercial.

Uma das razões que contribuíram para o enfraquecimento do catolicismo na Europa se deve ao fato do papa condenar a acumulação de lucros, o que em contrapartida era defendido e estimulado pelas novas religiões. A burguesia que a cada dia se fortalecia, logo buscou refúgio nas ideias protestantes, abandonando as imposições da igreja católica.

A Companhia de Jesus

O primeiro passo para a reação católica foi a fundação da Companhia de Jesus, criada pelo padre espanhol Ignácio de Loyola em 1534. A ordem religiosa tinha como missão conter o avanço do protestantismo através do ensino dos dogmas católicos. Os jesuítas seguiam uma disciplina quase que militar, sua arma era o conhecimento profundo das escrituras sagradas.

Além de difundir a fé católica por onde estivessem os membros da companhia auxiliaram os exploradores europeus a estabelecerem seu domínio nos continentes recém-conquistados.

Povos da África, Ásia e América sofreram influência dos ensinamentos dos jesuítas. No início a missão dos religiosos era a de “domesticar” os nativos facilitando assim a dominação.

Nos territórios onde se estabeleciam os componentes da ordem religiosa difundiam as ideias cristãs e ensinavam o seu idioma para os nativos o que contribuiu para o aculturamento desses povos.

Os jesuítas tiveram um papel importante na educação dos lugares por onde passavam, sendo os responsáveis por fundar instituições de ensino em diversas regiões.

O Concílio de Trento

O que foi o concílio de trento? Realizado entre as décadas de 1540 e 1560 na cidade italiana de Trento, o Concílio foi convocado pelo papa Paulo III e teve grande importância no contexto da Reforma Católica.

O Concílio Ecumênico de Trento discutiu os problemas relacionados ao cristianismo e definiu a forma de reação da igreja para conter o avanço protestante. Entre as resoluções ficou decidida a continuação da vigência das seguintes decisões:

  • o livre-arbítrio
  • o culto aos santos, inclusive à virgem Maria, mãe de Jesus
  • a reafirmação da supremacia do poder papal
  • a publicação do Index Librorum Prohibitorum, ou seja, a relação de Livros Proibidos pela Igreja, no qual se encontravam, entre outras obras, “Decameron”, de Boccaccio, e “O Elogio da Loucura”, de Erasmo de Rotterdan
  • a preservação dos ritos das missas
  • proibição da venda de indulgências e de cargos eclesiásticos
Uma das características dos reformadores protestantes era o elevado grau de conhecimento e a facilidade de oratória, o que os aproximava de todas as classes sócias. Na tentativa de aumentar o conhecimento teológico dos clérigos, a igreja instituiu através do Concílio de Trento a criação de seminários.

Outra determinação estabelecida pelo Concílio foi à permanência do Santo Ofício da Inquisição ou Tribunal da Santa Inquisição. A decisão fez parte de uma estratégia de combater os infiéis reformadores.

Os hereges, como eram conhecidos aqueles que iam contra as determinações da igreja eram julgados pelo Santo Ofício com extremo rigor. O Tribunal vigiava e normalizava a fé cristã e a vida dos fieis.

Como ocorria no auge do poder da Igreja Católica, o Tribunal da Santa Inquisição continuou a perseguir e a punir com crueldade aqueles que discordassem das imposições do clero. A perseguição inquisitorial foi empregada não só aos reformadores protestantes, mas a todos os suspeitos de heresia, desde cidadãos comuns até mesmo a membros da igreja. A permanência das práticas de tortura e de julgamentos injustos provocou a morte de milhares de pessoas.

A expansão marítima iniciada pelas metrópoles europeias facilitou a disseminação da Inquisição para os territórios conquistados. A Espanha instaurou o Tribunal do Santo Ofício em três de suas colônias: Lima, México e em Cartagena.

Os portugueses também seguiram os passos dos espanhóis e submeteram seus colonos aos julgamentos do Tribunal católico. Juntamente com os conquistadores as metrópoles enviavam para o “Novo Mundo”, membros do clero responsáveis por investigar casos de possível heresia entre os moradores da colônia. Esse ato ficou conhecido como visitações.

Muitos intelectuais sofreram duras perseguições durante a Contrarreforma. Nomes como o de Galileu Galilei, Giordano Bruno, Isaac Newton, entre outros, foram incluídos na lista de autores e livros proibidos pela igreja: o Index. Além das obras desses autores, as bíblias luterana, calvinista, calvinista e anglicana também estavam entre os livros proibidos. Essa prática demonstrava que a intolerância, a censura e a violência continuavam a fazer parte das ações da igreja católica.

A censura a esses intelectuais foi um entrave ao desenvolvimento científico e cultural no continente europeu durante a Idade Moderna. Muitos dos estudos desenvolvidos pelos cientistas eram realizados em segredo. O protestantismo também sofreu com a discordância de ideias entre as novas religiões que surgiram a partir dos ensinamentos de Martinho Lutero, o que contribuiu ainda mais para o fortalecimento da intolerância religiosa.

A Reforma Católica foi fundamental para conter o avanço das religiões protestantes em países como Itália, Espanha e Portugal. Como consequência os territórios colonizados por essas metrópoles sofreram forte influência dos dogmas católicos, fazendo com que o catolicismo por muitos séculos permanecesse como sua religião oficial. Essa cristianização dos territórios recém-conquistados levou a recuperação e fortalecimento da Igreja Católica.

Lorena Castro Alves
Graduada em História e Pedagogia

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