Especialista ensina como identificar picada de aranha venenosa

As aranhas, apesar de sua má reputação, geralmente não atacam humanos deliberadamente. Suas picadas ocorrem apenas quando elas se sentem ameaçadas.

Identificar se uma aranha é venenosa ou não pode ser um desafio, pois somente os especialistas têm o conhecimento necessário para diferenciá-las. A médica Ceila Malaque, do Hospital Vital Brazil, vinculado ao Instituto Butantan, explica:

“São as aranhas do gênero Phoneutria, mais conhecidas como aranha-armadeira; as do gênero Loxosceles ou aranha-marrom; e as do gênero Latrodectus ou viúva-negra, as quais os venenos têm características e sintomas bem específicos que requerem atendimento médico.”

As picadas dessas espécies venenosas podem ter consequências graves para a saúde, variando desde dor intensa até complicações mais severas, como insuficiência renal ou problemas respiratórios.

É de extrema importância que, em caso de picada, a pessoa busque atendimento médico imediato, preferencialmente levando a aranha ou uma foto clara dela para ajudar na identificação e tratamento correto.

Ceila enfatiza que:

“Trazer a aranha em um pote, ou conseguir registrá-la em uma foto bem focada, ajuda a encontrar um nexo causal do acidente. É fundamental saber qual aranha que causou a picada. Por isso é importante capturá-la e levá-la para a avaliação médica, para evitar erro na conduta.”

Conheça as aranhas mais venenosas no Brasil

Aranha-armadeira (Phoneutria)

A aranha-armadeira, conhecida cientificamente como Phoneutria, é famosa por sua agressividade e comportamento defensivo.

Encontrada principalmente em plantações de bananas e ambientes urbanos, como armários e depósitos, essa espécie é facilmente reconhecível pelo seu hábito de levantar as patas dianteiras quando ameaçada.

Ela pode ter um corpo que varia de 1,7 a 4,8 cm, com pernas que chegam até 15 cm. A picada da aranha-armadeira causa dor imediata, que pode variar de leve a extremamente intensa.

Outros sintomas incluem vermelhidão e inchaço no local da picada. Em casos mais graves, que são raros, pode haver edema pulmonar, vômitos e sudorese, especialmente em crianças. Tais sintomas geralmente aparecem até uma hora após a picada.

O tratamento inicial consiste em controlar a dor com analgésicos. Nos casos em que a dor não diminui e surgem outros sintomas, o soro antiaracnídico pode ser administrado.

Em crianças, este soro é sempre indicado quando há manifestações sistêmicas, pois o envenenamento tende a se agravar rapidamente nesse grupo.

Aranha-marrom (Loxosceles)

As aranhas-marrons, do gênero Loxosceles, são menos agressivas e geralmente picam apenas quando pressionadas contra o corpo humano.

No Brasil, há 19 espécies conhecidas deste gênero. Embora o nome marrom seja comum, algumas, como a Loxosceles intermedia, podem ter coloração avermelhada.

A picada da aranha-marrom geralmente causa dor leve a moderada no início, mas em até 24 horas pode surgir uma lesão arroxeada e dolorida, que tende a evoluir para necrose em até três dias.

A gravidade da necrose depende da quantidade de veneno injetada. Em alguns casos, o envenenamento pode levar a anemia, icterícia e, em situações extremas, insuficiência renal e morte devido ao processo de hemólise, que é a destruição das células vermelhas do sangue.

Para tratar a picada, é recomendado o uso do soro antiaracnídico, que neutraliza o veneno. Tal soro é mais eficaz se administrado até 48 horas após a picada, podendo prevenir a necrose cutânea e a perda de tecido.

Viúva-negra (Latrodectus)

A viúva-negra, ou Latrodectus, é facilmente reconhecível por sua coloração preta e uma marca vermelha em forma de ampulheta no abdômen.

No Brasil, a Latrodectus curacaviensis é a mais conhecida, sendo encontrada em áreas urbanas, dentro de suas teias próximas ao solo.

A picada da viúva-negra é caracterizada por uma dor intensa, ardência e sensação de queimação, uma condição conhecida como latrodectismo.

Em algumas pessoas, a dor pode se espalhar pelo corpo, causando tremores, espasmos musculares, náuseas, dor abdominal e sudorese.

À medida que o veneno se espalha pela corrente sanguínea, pode aumentar a frequência respiratória e provocar uma sensação de mal-estar e ansiedade.

O tratamento para a picada de viúva-negra varia conforme a intensidade da dor. Em muitos casos, analgésicos são suficientes, mas em situações mais graves, pode ser necessário o uso de analgésicos mais fortes ou bloqueios anestésicos.

Primeiros socorros e prevenção

Diante da suspeita de uma picada de aranha venenosa, a primeira medida é buscar atendimento médico imediato.

Conforme orientou a especialista, levar a aranha ou uma foto clara da espécie pode ser de suma importância para o diagnóstico e tratamento adequado.

Em ambiente hospitalar, os médicos vão investigar os sintomas e poderão realizar exames de sangue para confirmar o tipo de envenenamento.

Para prevenir picadas, é aconselhável manter os ambientes domésticos limpos e organizados, evitando o acúmulo de entulhos onde as aranhas podem se esconder.

Usar luvas ao manusear objetos guardados por longos períodos em locais como armários e depósitos também é uma medida preventiva eficaz.

Identificar picadas de aranhas venenosas e compreender os sintomas é vital para garantir uma resposta rápida e eficaz, prevenindo complicações graves e preservando a saúde. Se houver qualquer dúvida ou suspeita, procure imediatamente assistência médica especializada.

*Com informações de Instituto Butantan, National Geographic e Estadão.