Estudo aponta que aprender segundo idioma auxilia crianças autistas

O ensino de uma nova língua pode estimular a capacidade de comunicação, flexibilidade cognitiva e a própria autoconfiança do pequeno.

Pesquisa divulgada pela revista científica Child Development aponta que o aprendizado do segundo idioma por crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode aprimorar sua capacidade de comunicação e flexibilidade cognitiva. O estudo foi realizado pela Universidade McGill, no Canadá.

O conceito de flexibilidade cognitiva é dado para a habilidade de encontrar soluções alternativas para resolver problemas. O resultado foi medido após a aplicação de testes em 40 crianças com idade entre seis e nove anos. O universo era composto por autistas bilíngues e não bilíngues.

Um dos testes compreendia a organização de objetos seguido classificações determinadas, como forma e cor. Ao final, os pesquisadores identificaram que as crianças bilíngues conseguiram executar a tarefa com maior facilidade. Os resultados da pesquisa foram comentados por especialistas do Brasil, como será visto adiante.

O que dizem os especialistas brasileiros?

Mesmo reconhecendo a relevância dos resultados, especialistas brasileiros fazem algumas ressalvas. Em entrevista à Gazeta do Povo, o neurologista Marco Antônio Arruda, secretário do Departamento Científico de Neurologia Infantil da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), aponta que o estudo desconsidera os autistas de baixo e alto funcionamento.

O que é isso? Os autistas de alto funcionamento são aqueles que possuem habilidades sociais, além de se destacar por habilidades de memória, aprendizado, cálculo e capacidade de aprender o novo idioma. Por isso, Arruda comenta que, mesmo sendo importante, o estudo é limitado.

Ele comenta, ainda, que “não podemos simplesmente falar ‘ensine uma nova língua para o seu filho que ele irá melhorar’ porque não é possível chegar nessa conclusão”. Já a fonoaudióloga infantil Carla Ulliane lembra a facilidade que certas crianças autistas possuem na aquisição de um novo idioma.

Porém, ela alerta que, mesmo com os benefícios propiciados pelo aprendizado na capacidade neuronal e cognitiva, tudo deve ser feito sob o acompanhamento de um profissional especializado. Isso porque é preciso analisar se a criança não está, apenas, repetindo o conteúdo ao invés de aprendê-lo.

Por outro lado, William de Jesus Silva, estudante da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo (Abraça) associa os resultados da pesquisa à chamada comunicação facilitada, algo debatido no movimento de neurodiversidade.

Diagnosticado com autismo aos 14 anos, William falou, também ao Gazeta, explicando que o movimento que defende que diferenças neurológicas devem ser reconhecidas e respeitadas discute, frequentemente, o uso de comunicação alternativa, incluindo língua de sinais ou métodos com os quais o indivíduo se identifique.

O autismo nas escolas

A Lei da Inclusão (13.146/2015) prevê a adaptação do currículo escolar na busca pelo pleno aprendizado das pessoas com TEA. Sendo assim, a apresentação e ensino do conteúdo deve ser modificada, respeitando as características destas crianças. Contudo, é preciso ter em mente que, mesmo essa adaptação deve ser feita de forma individualizada.

Isso porque nem todas as crianças precisam do mesmo nível de adaptação. É importante lembrar, também, que o mesmo conteúdo ensinado aos demais alunos deve ser ministrado aos pequenos com TEA. O direito das pessoas com espectro autista foi equiparado aos das pessoas com deficiência desde 2012.

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