Etarismo, chaga social que compromete o futuro da sociedade brasileira

Preconceito só será erradicado, mediante campanha permanente e crescente, como à de combate ao racismo

O chamado etarismo (desrespeito à capacidade de uma pessoa em função da idade) está na hora do dia das discussões da sociedade brasileira, que crescem à medida que a população envelhece e a necessidade do mercado de trabalho pelos mais experientes, idem.

Ao contrário da juventude, que não é eterna, a experiência veio para ficar. Que o diga a vibrante conquista do Oscar, prêmio máximo do cinema, pela sexagenária Michelle Yeoh, que não perdeu a viagem ao fazer um emocionado discurso antietarista ao receber a cobiçada estatueta. Infelizmente, na maioria das vezes, predomina a rejeição vergonhosa dos mais jovens (esta sim, muito arcaica) contra aqueles que, ignorando a passagem dos anos,  graduação universitária.

Como em tudo na vida, a educação é a solução permanente para dissipar o atraso do nível da cidadania tupiniquim, embora a iniciativa não se restrinja apenas ao setor público ou das instituições de ensino, mas talvez comece pelas empresas, tendo como ponto de partida de mudança o momento crítico da seleção de vagas de emprego.

Mas a questão, além de atávica, é planetária, como atesta a pesquisa mundial Global Learner Survey, realizada, no ano passado, pela Pearson, em parceria com a Morning Consult. Ao ouvir 6 mil mulheres, em diferentes países (Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, México e índia, entre outros), a consulta apontou que 74% delas admitiram ter sofrido discriminação ao se candidatarem a um posto de trabalho. Outras 65% entendem que esse tipo de ‘ranço’ tem de ser combatido.

No campo doméstico, a situação se repete. De acordo com pesquisa elaborada pelo site de empregos Infojobs mostra que 66% dos profissionais da chamada ‘geração X’ (ou seja, que nasceram no período entre 1960 a 1979) sentem que as gerações posteriores põem ‘em dúvida’ a qualidade de seu trabalho.

Em vez de ‘fazerem a diferença’, a maior parte dos empregadores acabam sendo os ‘vetores’ de atitudes opressivas, desrespeitosas, quando não, de desvalorização e desprezo ante às habilidades daqueles que merecem toda consideração, exceção feita a alguns países orientais, como o Japão, e olhe lá.

A estupidez etarista, porém, não se limita às fronteiras profissionais, pois é patente nas artes, não poupando, nem mesmo a ‘rainha do pop’ Madonna, alvo recente da iniquidade, ao abocanhar o maior prêmio da música, o Grammy. Mais inaceitável mesmo foi a atitude da cantora Sandy, que ‘passou recibo’ no preconceito etário, que aos 40 anos, se considerou ‘muito velha para ser jovem’.

Um caminho para reverter tal ‘descalabro’ começa sempre na educação, mediante o fomento e facilitação ao (re)ingresso de alunos da terceira de idade aos bancos de escola, face à constatação de que o etarismo precisa ser discutido em profundidade, visando, se possível, obter sua erradicação, em intensidade semelhante ou superior à campanha permanente com o racismo.

No entanto, como a realidade se impõe, a despeito dos contrários, a Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou que, até 2050, triplicará no Brasil (dobrando no planeta) o contingente populacional na faixa dos 60 anos. Agora, resta apenas dar um recado aos recrutadores, novinhos, maduros ou longevos. Se liga, mercado, os vovôs que sabem (quase) tudo estão vindo por aí!

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