O desenvolvimento da agricultura foi um dos principais fatores que permitiram a sedentarização dos povos nômades e a constituição das primeiras civilizações. Sua origem está estimada para cerca de 12 mil anos atrás, durante o Período Neolítico, quando os primeiros cultivos e criação confinada com domesticação de animais foram realizados. Essa prática foi inicialmente difundida nas margens e proximidades de grandes rios, com destaque para o Tigres e o Eufrates (Mesopotâmia), o rio Nilo (Egito), o Yang-Tsé-Kiang (China) e alguns outros.
E é graças ao desenvolvimento da agricultura que foi possível o desenvolvimento inicial do comércio, pois, ao longo da história, as sociedades baseadas na agricultura de subsistência passaram a realizar trocas e, mais tarde, a desenvolver a ideia de lucro, com base na comercialização do excedente agrícola do que era produzido. O impacto disso, além do crescimento dos povos e a disputa entre eles, foi a geração de uma maior pressão sobre os recursos naturais, com alguns deles se tornando mais estratégicos para o desenvolvimento político, algo ainda presente nos dias atuais.
O geógrafo brasileiro Milton Santos destaca, em suas várias obras, a importância das técnicas e dos objetos técnicos e tecnológicos para o desenvolvimento das sociedades e do processo de produção do espaço geográfico. A agricultura constitui-se um exemplo dessa dinâmica, pois as suas sucessivas transformações ou “revoluções” técnicas incrementaram mudanças substanciais nos sistemas de produção no crescimento das sociedades.
Uma dessas evoluções pelas quais a agricultura passou foi a chamada Revolução Agrícola, que esteve associada ao desenvolvimento industrial da Europa a partir da século XVIII, pois a criação de maquinários e técnicas mais avançadas também se realizaram no campo, permitindo o aumento da produtividade. Trata-se, portanto, de uma inovação tecnológica que passou a ser aplicada sobre o meio rural, acarretando na inversão na hierarquia entre campo e cidade. Se antes o espaço urbano estava diretamente vinculado e subordinado ao meio rural por meio do fornecimento de alimentos e matérias-primas, a partir desse momento era o campo que passou a depender da cidade para receber equipamentos, insumos, mão de obra qualificada e conhecimento científico aplicado à produção.
A Revolução Agrícola aconteceu de forma mais preponderante na Europa e permitiu o avanço da expansão colonial que já se encontrava em pleno curso. Assim, durante o século XVI até o século XIX, as colônias europeias na América, na África e na Ásia receberam grandes investimentos para a produção de bens agrícolas destinados às suas respectivas metrópoles. Nesse ínterim, o sistema predominante eram as chamadas plantations, que consistiam na produção monocultora no campo em larga escala voltada para a exportação para a metrópole e também no sentido de atender uma demanda comercial internacional. No Brasil, foram mais conhecidas as plantations de cana-de-açúcar na região nordeste do país.
A partir de meados do século XX, o meio agrícola passou por mais uma impactante transformação tecnológica, naquilo que se convencionou chamar por Revolução Verde, idealizada nos Estados Unidos e aplicada em todo o mundo. O objetivo era a introdução de uma série de conhecimentos científicos e avanços tecnológicos para intensificar ao máximo a produtividade nos países emergentes, com a intenção de ampliar a disponibilidade de alimentos e combater a fome em larga escala.
Embora a revolução verde tenha conseguido um relativo sucesso, ela não conseguiu resolver o problema da falta de alimentos e disponibilidade de recursos agrícolas no mundo. Primeiramente, isso se explica pelo fato de a fome e a miséria estarem associadas a questões mais profundas e complexas do que a disponibilidade de recursos, como por exemplo a concentração de renda acentuada em toda a economia mundial. Em segundo lugar, isso se explica pelo fato de tal processo ocorrer com uma elevada dependência econômica e tecnológica dos países subdesenvolvidos, pois a maior parte do conhecimento científico era oriundo dos territórios de economia mais avançada, além do fato de as sementes desenvolvidas em laboratório nem sempre se adaptarem aos climas de outros países.
Uma crítica recorrente que se faz à revolução verde é o fato de ela ter intensificado a concentração fundiária nos lugares em que ela foi aplicada, pois apenas os grandes produtores passaram a ter acesso aos equipamentos e tecnologias mais avançadas. Em muitos casos, também se gerou um grande desemprego pela substituições dos camponeses por grandes maquinários, isso sem falar das críticas relacionadas à expansão das áreas agrícolas sobre as regiões florestais. Por outro lado, é importante destacar o grande ponto positivo da revolução verde, que colocou muitos países pobres no campo das exportações e também serviu para combater e diminuir a fome em várias partes do mundo.
Atualmente, o meio agropecuário passa por um novo processo de transformação tecnológica, que vem sendo nominada por Revolução Biotecnológica, que, como o próprio nome já indica, consiste na utilização de biotecnologia avançada na produção rural. Esse processo é, inclusive, uma consequência da Revolução Verde, que culminou no desenvolvimento de formas tecnológicas que permitiram a obtenção de conhecimentos científicos mais sofisticados.
A biotecnologia consiste, basicamente, no conjunto de técnicas aplicadas à biologia e utilizadas para manipular geneticamente os grupos vegetais, animais e também os micro-organismos, de forma a torná-los mais resistentes a doenças e pragas e também elevar a sua produtividade nos diferentes tipos de variações climáticas. Essa técnica conheceu um grande desenvolvimento no meio científico a partir das décadas de 1970 e 1980 e, hoje, vem se tornando predominante na produção agrícola de caráter intensivo.
As transformações tecnológicas no campo propiciadas por esse conjunto de técnicas permitiram o surgimento de dois tipos de elementos presentes no espaço agrícola: os Organismos Geneticamente Modificados (OGM) e os Transgênicos. Os OGMs são seres biológicos que sofreram mudanças em seu material genético a partir de técnicas de laboratório, mas sem a introdução de material genético de outras espécies. Já os transgênicos, por sua vez, ocorrem quando o material genético de um organismo é introduzido sobre o de uma outra espécie, proporcionando a formação de novos tipos e variações de gêneros agrícolas.
A introdução de OGM e transgênicos no espaço agrícola e, por extensão, na alimentação da população é alvo de inúmeros debates acirrados. Os críticos voltam suas atenções principalmente aos alimentos transgênicos que, segundo eles, podem gerar doenças e prejuízos ao solo, além de destacarem o fato de que os efeitos desses alimentos no organismo não são totalmente conhecidos e provados, gerando riscos. Os defensores dos transgênicos argumentam, por sua vez, que além de serem adaptados para produzirem em diferentes climas (evitando a necessidade de expansão agrícola e devastação do meio natural), os transgênicos são organismos saudáveis e planejados para combater a fome a melhorar a qualidade de vida da população.
Por Rodolfo Alves Pena
Mestre em Geografia
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