Jovem estudante brasileira desenvolve projeto semelhante ao que venceu o Nobel de química 2023
Camila Sastre, de apenas 16 anos, obteve reconhecimento ao criar painéis solares mais eficientes, a partir dos "pontos quânticos", descoberta que valeu o prêmio máximo.
Os vencedores do Prêmio Nobel de Química 2023 já foram anunciados. O prêmio reconheceu a descoberta e síntese dos chamados pontos quânticos, nanopartículas fundamentais na nanotecnologia contemporânea.
Essa conquista inspirou Camila Sastre, uma estudante do segundo ano do ensino médio em São Paulo, a embarcar em sua própria jornada de pesquisa sobre essas minúsculas partículas estruturas.
Camila no laboratório da escola. (Imagem: Colégio Dante Alighieri/Reprodução)
Resultados da pesquisa da jovem cientista é 15% mais eficiente
O fruto de seu trabalho foi a criação de um painel solar que demonstrou ser 15% mais eficiente na captação de luz e na geração de energia elétrica.
O que torna sua realização ainda mais notável é o fato de que Camila utilizou resíduos provenientes da mineração em seu projeto, tornando-o ecologicamente sustentável.
O feito a tornou reconhecida com o prêmio “Destaque em Inovação em Ciências e Exatas e da Terra” na Feira Nacional de Ciência e Tecnologia Dante Alighieri (FeNaDante), uma mostra de pré-iniciação científica do Colégio Dante Alighieri, onde estuda.
Além disso, ela foi selecionada para competir na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec) que acontecerá em breve no Rio Grande do Sul.
Mas detalhes do projeto de Camila
O projeto desse painel solar foi iniciado em 2022. Para isso, ela teve acesso a amostras ricas em dióxido de silício provenientes do desastre da barragem de Fundão, ocorrido em Mariana (MG) em 2015.
Tais amostras foram gentilmente fornecidas pela mineradora Samarco em 2017 e estavam armazenadas no laboratório de química da escola onde a jovem estuda, o já mencionado Colégio Dante Alighieri.
Camila passou por um processo que envolveu lixiviação ácida com ácido clorídrico, separação magnética e fusão com hidróxido de sódio (soda cáustica) para converter esses rejeitos em silicato de sódio.
O silicato era essencial para a dispersão dos pontos quânticos de carbono, que, por sua vez, foram sintetizados com quitosana e ácido acético.
No entanto, a jornada de Camila para fazer o painel solar funcionar efetivamente não foi isenta de desafios. Ela enfrentou problemas na cristalização do produto e vazamentos de silicato de sódio das placas.
Após inúmeras tentativas, finalmente obteve sucesso. Um protótipo criado pela estudante gerou 30,5 mW (miliwatts) de energia, cerca de 15% a mais que painéis solares convencionais usados no laboratório.
Tal realização validou sua hipótese de que os pontos quânticos poderiam aumentar a eficiência dos painéis, deslocando o espectro de luz ultravioleta para dentro da faixa de absorção do painel solar.
A jovem é uma admiradora da química polonesa Marie Curie desde sua infância e, com o sonho de se tornar cientista desde o 6º ano do ensino fundamental, planeja agora desenvolver uma versão em tamanho real do painel solar.
Seus próximos passos incluem ajustes no sistema e testes em placas maiores, bem como simulações de condições reais, como exposição ao sol, chuva e vento.
O objetivo final de Camila Sastre é transformar esse dispositivo em um produto comercializável e, caso ele se mostre eficaz, considerar patenteá-lo.
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