Machado de Assis plagiou um texto francês? Entenda essa história

Suposto caso de cópia foi estudado por uma professora de literatura brasileira.

Recentemente, um artigo acadêmico trouxe à tona um debate sobre um possível plágio envolvendo Machado de Assis, um dos maiores escritores da literatura brasileira.

A discussão gira em torno de uma crônica publicada pelo autor em 1860 no periódico ‘A Marmota’, intitulada ‘Carniceria a Vapor’.

A autora da análise, Élide Valarini Oliver, professora de Literatura Brasileira e Comparada na Universidade da Califórnia, levanta a hipótese de que Machado pode ter se inspirado de forma questionável em uma obra estrangeira.

O texto em questão

A crônica de Machado descreve um matadouro de porcos nos Estados Unidos, onde tecnologias modernas eram utilizadas para aumentar a eficiência da produção.

No entanto, como aponta Élide, o relato original sobre o matadouro não foi uma experiência vivida por Machado, mas sim uma adaptação de informações de uma fonte externa.

A princípio, Machado de Assis menciona que sua inspiração veio de M. Commetant, autor de ‘Trois ans aux États-Unis’, uma obra que descreve aspectos da cultura americana.

Contudo, a investigação conduzida por Élide revela que a verdadeira fonte do escritor brasileiro foi um artigo publicado no periódico francês ‘L’Année Scientifique et Industrielle’, que analisava o livro de Commetant.

Segundo a professora, não apenas o conteúdo principal do texto foi aproveitado, mas até mesmo as notas de rodapé foram incorporadas, muitas vezes de forma literal.

Embora Machado tenha reescrito parte do material, utilizando variações estilísticas e sinônimos, a estrutura do texto e o teor das informações originais permanecem inalterados.

Machado de Assis, autor de clássicos da literatura brasileira, seria um plagiador? – Imagem: reprodução

Plágio ou intertextualidade?

O grande questionamento levantado por Élide é a ausência de menção clara à fonte. Embora Machado tenha feito alterações no texto, a similaridade entre as duas obras é inegável, levando a pesquisadora a questionar se tais modificações foram suficientes para que o escritor considerasse o texto seu.

A falta de referências explícitas levanta a hipótese de um possível plágio, ou, nas palavras da própria autora, uma “intertextualidade que ultrapassa os limites aceitáveis”.

Por outro lado, Élide também pondera que os parâmetros para identificar plágio no século XIX eram diferentes dos atuais.

O conceito de originalidade e a prática de adaptação textual naquela época permitiam maior flexibilidade na utilização de fontes.

Por essa razão, ela sugere que o caso em questão pode se tratar de uma tradução comentada, algo comum entre escritores da época.

O resumo da ópera

A análise cuidadosa de Élide Valarini Oliver sobre o possível plágio de Machado de Assis levanta questões importantes sobre a linha tênue entre inspiração, adaptação e cópia.

Embora as evidências apontem para uma apropriação do texto de Commetant, a professora não faz uma acusação direta de plágio, preferindo adotar uma postura cautelosa.

Machado de Assis, com seu legado vasto e profundo, continua sendo uma figura incontestável na literatura brasileira e mundial, mas esse episódio nos faz refletir sobre os limites da intertextualidade e os critérios de originalidade em diferentes épocas.

* Com informações de Aventuras na História.

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