Mário de Andrade

Mário de Andrade, considerado um dos principais representantes do Modernismo brasileiro, foi o autor do clássico Macunaíma.

Mário de Andrade foi um poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta e fotógrafo brasileiro. Pioneiro do campo da etnomusicologia, foi um dos principais propulsores da Semana de Arte Moderna de 1922 e do Modernismo no Brasil.

Autor do clássico Macunaíma, exerceu uma grande influência na literatura brasileira moderna e, como ensaísta e estudioso, foi um dos principais defensores da valorização da identidade e cultura brasileira.

Mario de Andrade – Biografia resumida

Mário Raul de Morais Andrade nasceu em São Paulo, no dia 9 de outubro de 1893. De família humilde, desde cedo mostrou grande inclinação para artes, principalmente a literatura. Considerado um pianista prodígio, foi matriculado no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.

Mário recebeu educação formal apenas em música, mas foi autodidata em história, arte, e, principalmente, em poesia. Fluente em francês, leu Rimbaud e os principais poetas simbolistas ainda em sua infância.

Com a morte de seu irmão, Renato, em 1913, abandonou o conservatório e se retirou com a família para uma fazenda em Araraquara. Devido a um tremor nas mãos, não conseguia mais tocar piano e começou a estudar canto e teoria musical, com o objetivo de se tornar um professor de música. Simultaneamente, começou a desenvolver um maior interesse pela literatura.

Em 1917, ano de sua formatura, publicou seu primeiro livro de poemas, Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, sob o pseudônimo de Mário Sobral. Em sua primeira obra, já aborda uma identidade particularmente brasileira como tema.

Após a publicação, deixou São Paulo e viajou para o campo, onde iniciou uma atividade que continuaria pelo resto da vida: documentação sobre a história, o povo, a cultura e especialmente a música do interior do Brasil. Também publicou ensaios em jornais paulistas, ilustrados por suas próprias fotografias e começou a acumular informações sobre o folclore brasileiro.

Nesse período, conheceu Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Menotti del Picchia e Anita Malfatti, conhecidos posteriormente como Grupo dos Cinco, responsáveis pela organização da Semana de 22. Além disso, participou de uma série de missões de pesquisas folclóricas, onde reuniu um vasto acervo em vídeo, áudio, imagens e anotações musicais sobre o folclore brasileiro.

Mudou-se para o Rio de Janeiro para tomar posse de um novo posto na Universidade Federal, onde dirigiu o Congresso da Língua Nacional Cantada, um importante evento folclórico e musical. Em 1941, retornou a São Paulo e ao antigo posto do Departamento de Cultura, apesar de não trabalhar com a mesma intensidade que antes.

Mário de Andrade morreu em sua residência, em São Paulo, devido a um enfarte, no dia 25 de fevereiro de 1945, aos 51 anos.

Macunaíma

Macunaímapublicada em 1928, foi a obra-prima de Mário de Andrade, e provavelmente a mais importante realização da primeira fase do Modernismo. O livro representa não apenas o resultado das pesquisas e das qualidades do autor como poeta, prosador, músico e folclorista, mas também a plena realização dos projetos nacionalistas.

Macunaíma foi chamada de rapsódia por Mário, termo da música que designa composição que envolve uma variedade de motivos populares.

Para escrevê-la, o autor se baseou em um projeto de representar a diferença brasileira, em uma síntese do folclore nacional que toma a forma de um romance picaresco, mesclando tradição oral e primitivismo do romance. Abordou temas como a submissão cultural, a importação de modelos socioeconômicos, a discriminação linguística, e, principalmente, a busca pela identidade cultural brasileira.

Macunaíma, protagonista da obra, é um herói sem nenhum caráter (anti-herói) visto que, aquilo que constrói em um capítulo, desconstrói em outro. Em sua trajetória, vive momentos de extrema valentia e também de extrema covardia, é preguiçoso, mas, ao mesmo tempo, audaz. É o primitivo que habita no homem civilizado.

A obra foi adaptada para o cinema em 1969, estrelada por Grande Otelo.

grande otelo
O ator Grande Otelo.

Principais obras de Mario de Andrade

  • Há uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917)
  • Pauliceia Desvairada (1922)
  • A Escrava que não É Isaura (1925)
  • Losango Cáqui (1926)
  • Primeiro Andar (1926)
  • O clã do Jabuti (1927)
  • Amar, Verbo Intransitivo (1927)
  • Ensaios Sobra a Música Brasileira (1928)
  • Macunaíma (1928)
  • Compêndio Da História Da Música (1929)
  • Modinhas Imperiais (1930)
  • Remate De Males (1930)
  • Música, Doce Música (1933)
  • Os Contos de Belasarte (1934)
  • O Aleijadinho de Álvares De Azevedo (1935)
  • Lasar Segall (1935)
  • Música do Brasil (1941)
  • Poesias (1941)
  • O Baile das Quatro Artes (1943)
  • Os Filhos da Candinha (1943)
  • Aspectos da Literatura Brasileira (1943)
  • O Empalhador de Passarinhos (1944)
  • Lira Paulistana (1945)
  • O Carro da Miséria (1947)
  • Contos Novos (1947)
  • O Banquete (1978)

Modernismo

Influenciados pelas vanguardas europeias, alguns artistas, músicos e escritores modernistas promoveram a Semana de 22 e implantaram o Modernismo no Brasil. Defendendo uma arte genuinamente brasileira, rejeitaram o academicismo e a arte tradicional vigente.

O movimento surge em um momento de forte insatisfação política no Brasil, devido ao aumento da inflação que propulsionou greves e protestos. Os modernistas adotaram a simplificação do discurso, se aproximando da linguagem popular.

O Modernismo no Brasil se divide em três fases. A primeira fase tem início na década de 20, com a Semana de Arte Moderna e as primeiras manifestações do movimento. Dessa fase, destacam-se Oswald de Andrade e Mário de Andrade.
A partir dos anos 30 surge uma nova geração de modernistas, representados por Rachel de QueirozJorge Amado, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, José Lins do Rego, Cecília Meireles e Vinícius de Morais.
Já a terceira geração, de 1945, apresenta nomes como: João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector e Guimarães Rosa.

Semana de Arte Moderna de 1922

Enquanto trabalha em suas missões folclóricas, Mário de Andrade fez amizade com alguns artistas brasileiros, conhecidos posteriormente como Grupo dos Cinco.

Em 1922, enquanto preparava a publicação de Pauliceia Desvairada, trabalhou com Malfatti e Oswald na organização de um evento que se destinava a divulgar as obras desses artistas a um público maior: a Semana de Arte Moderna, ocorrida no Teatro Municipal de São Paulo entre os dias 11 e 18 de fevereiro.

Além de uma exposição de pinturas de Malfatti e de outros artistas associados ao modernismo, durante esses dias foram realizadas leituras literárias e palestras sobre arte, música e literatura.

Os membros do Grupo dos Cinco continuaram trabalhando juntos durante a década de 1920, ano em que a reputação do grupo cresceu e as hostilidades às suas inovações estéticas foram gradualmente diminuindo.

Mário de Andrade trabalhou, por exemplo, na Revista de Antropofagia, fundada por Oswald de Andrade, em 1928. Mario e Oswald foram os principais impulsionadores do movimento modernista brasileiro.

Poemas de Mario de Andrade

Soneto

Tanta lágrima hei já, senhora minha,
Derramado dos olhos sofredores,
Que se foram com elas meus ardores
E ânsia de amar que de teus dons me vinha.

Todo o pranto chorei. Todo o que eu tinha,
caiu-me ao peito cheio de esplendores,
E em vez de aí formar terras melhores,
Tornou minha alma sáfara e maninha.

E foi tal o chorar por mim vertido,
E tais as dores, tantas as tristezas
Que me arrancou do peito vossa graça,

Que de muito perder, tudo hei perdido!
Não vejo mais surpresas nas surpresas
E nem chorar sei mais, por mor desgraça!

Moça Linda Bem Tratada

Moça linda bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.

Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta:
Um coió.

Mulher gordaça, filó,
De ouro por todos os poros
Burra como uma porta:
Paciência…

Plutocrata sem consciência,
Nada porta, terremoto
Que a porta de pobre arromba:
Uma bomba.

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