Na contramão do governo de SP, Suécia se rende à eficiência do livro impresso
País escandinavo pretende investir R$ 242 milhões este ano em materiais didáticos físicos
Na contramão da decisão polêmica, protagonizada recentemente pelo governo paulista (que determinou o uso exclusivo de obras digitais nas escolas de ensino fundamental e médio do estado, a partir de 2024), a Suécia, dona do nono maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta (0,885) resolveu abolir a estratégia, iniciada ainda na década de 1990, de digitalizar massivamente materiais didáticos e aulas.
Deixando de lado o primado, até então indiscutível, da educação 100% digital, o país escandinavo, um dos mais ricos e desenvolvidos do mundo, anunciou, no final do ano passado, que pretende investir 45 milhões de euros, o correspondente a R$ 242 milhões, ainda em 2023, na distribuição de livros didáticos impressos.
Ao desmistificar em definitivo a ideia de que a ‘tecnologia tudo resolve’, a ministra sueca das Escolas, Lotta Edholm, admitiu que a educação 100% informatizada “foi uma grande experiência”, mas ressalvou que “houve uma postura acrítica [do governo anterior] de considerar a tecnologia necessariamente boa, independentemente do conteúdo”.
A respeito da mencionada experiência, Lotta comentou, ainda, que “recursos didáticos digitais, se usados corretamente, apresentam certas vantagens, como combinar imagem, texto e som”, para admitir, em seguida, “que o livro físico traz benefícios que nenhuma tela pode substituir”.
A respeito da inusitada decisão, a professora catedrática emérita na Universidade de Lund (Suécia) e autora sueca Inger Enkvist lembra que, de início, houve o apoio de parte dos educadores à postura da digitalização massiva, especialmente nos anos 2000, mas faz um ‘mea culpa’: “Só que o vento agora sopra em uma direção oposta, porque pais, professores e empregadores têm a impressão de que os jovens passaram a saber menos”, dispara.
Como argumento que atesta a ineficiência da didática digital, Inger conta que “os alunos têm, atualmente, menos capacidade de concentração. Dedicam menos esforço para escrever bem, porque programas de ortografia automática fazem a escrita parecer mais fácil do que é. O principal problema é que o computador também é uma distração”.
Reforçando o questionamento sobre a ‘panaceia digitalizadora’, o diretor-executivo da ONG Todos Pela Educação, Olavo Nogueira Filho, avalia que “países que têm condições de fazer uma digitalização completa não estão indo nessa direção”, para quem “não é só questão de ter acesso [a equipamentos ou à Internet]: é de estratégia pedagógica, é de neurociência”.
A seguir, os fatores que desfazem o mito da eficiência didática digital:
📙 queda no desempenho das crianças em leitura;
💻 críticas de especialistas em saúde em relação ao aumento do uso de telas;
👨👨👧 dificuldade maior de os pais ajudarem os filhos nas tarefas;
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