O desejo de ter filhos e os “antinatalistas”: entenda o conceito

Para muitos, filhos significam uma piora ambiental, enquanto outros acreditam que são grandes motivações para uma evolução pessoal.

Ultimamente, há uma onda crescente de mulheres que não querem ser mães. Os motivos são diversos: medo de perder a liberdade, a necessidade de focar na carreira, preocupações financeiras, entre outras. Além disso, existe também quem prega que não colocar uma nova vida no mundo é a melhor escolha para todas. Um exemplo disso é Isabel, de 28 anos, que, entrevistada pela Weiss, disse ser “antinatalista” e considera errado trazer pessoas ao mundo pois elas irão sofrer.

E são muitas as preocupações em torno da maternidade. A questão climática é uma das mais curiosas, pois muitas mulheres decidem não ter filhos pois acreditam que o planeta já esteja superlotado, e que se isso não for controlado agora, futuramente pode haver falta de recursos ou ser responsável pelas mudanças climáticas que afetam diretamente a qualidade de vida na Terra.

“Muitas pessoas pensam que ter filhos é seu dever, mas para mim é exatamente o contrário. Acredito que minha responsabilidade é não ter filhos, como parte de um esforço coletivo para responder ao tamanho insustentável da população mundial”, escreveu um usuário do Huffington Post. Fora esta preocupação, ainda há aquela com a saúde psicológica da criança, que pode vir a sofrer preconceitos, passar por dificuldades financeiras ou viver em um mundo que não está pronto para recebê-la.

Pesquisas confirmam onda “antinatalista”

Diversas pesquisas apontam que a vontade de ter filhos está cada vez menor nos últimos tempos, e não só entre os jovens – um levantamento feito pela Universidade de Bath mostra que 39% da geração Z prefere não ter filhos devido ao caos climático –, mas também entre os adultos, visto que o desejo de ter filhos caiu 17% após o início da pandemia.

Mas não são só as questões ambientais e psicológicas das futuras crianças que pesam na decisão de jovens em ter ou não filhos. Outra pesquisa, desta vez feita pela Funcas, mostra que, entre os millennials que não querem ter filhos (12%), 70% responderam que não deseja ter filhos pois as crianças “causam muito problema”. Já 67% dos entrevistados disseram que filhos “limitam o tempo livre”, e 64% alegaram que “é preciso muita renda” para criá-los.

Entre os homens, o desejo de ter filhos também tem diminuído. Nos EUA, as clínicas de vasectomia tem cada vez recebido mais clientes, e ainda usam slogans para atrair homens para o processo, como: “Um pequeno corte para o homem, um salto gigante para a humanidade” ou “A vasectomia é um ato de amor”.

Contudo, para quem faz esterilização muito jovem, isso pode ser um problema mais à frente. Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2015, 20% das mulheres que optaram pela esterilização muito jovens se arrependeram após alguns anos.

Decisão de ter filhos

Como havíamos dito no início da matéria, há um movimento que condena a decisão de ter filhos como um ato egoísta. É claro que existem motivos egoístas para se ter um filho, como para ter um cuidador no futuro, por pensar apenas na sua vontade e ignorar qualquer consequência deste ato, assim como muitos outros. Também é óbvio que temos que ter consciência de pensar nas condições em que iremos colocar a criança, mas parece radicalista demais julgar todos que optam por ter filhos como egoístas.

Para a defesa destas pessoas que optam por ter filhos, temos Ross Douthat, que publicou um artigo intitulado “O caso de mais uma criança. Porque famílias grandes salvarão a humanidade”. Em um trecho, ele defende que a humanidade só existe hoje porque, mesmo em situações de dificuldade, as pessoas reproduziram. “A humanidade persistiu porque as pessoas tiveram filhos em circunstâncias radicalmente difíceis: em meio à fome, guerra e miséria em uma escala que nem podemos imaginar”, destaca.

Ele ainda defende que uma baixa natalidade traz prejuízos ao desenvolvimento econômico e maior desigualdade para o mundo. E, para o autor, o motivo mais louvável para ter um filho é o fato de “viver para alguém que não seja você mesmo”, o que, segundo ele, rebate toda a ideia de egoísmo da maternidade.

Douthat defende também famílias grandes, pois segundo ele, é “uma grande escola de consciência ecológica”, visto que dentro da família haverá reutilização de objetos e recursos de irmão para irmão. Muitas blogueiras que compartilham a rotina de suas grandes famílias concordam com sua fala.

Enquanto para muitos, os filhos significam uma piora ambiental, para outros, podem ser grandes motivações para uma evolução pessoal. Isso, consequentemente, implicaria uma melhora ambiental, pois nenhum pai quer deixar o filho em um mundo ruim.

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