O Mercantilismo Cristão na Baixa Idade Media
As Feiras de Flandres e o apogeu comercial dos cristãos europeus.
A atividade mercantil ligada ao desenvolvimento da indústria e circulação de valores monetários amplia-se por todo ocidente europeu tendo dois focos principais: o contorno do Mar do Norte e a península italiana. A expansão do fabrico do pano garantiu a prosperidade no foco setentrional europeu e que passou para as feiras da Champanha o papel de centro regulador do tráfico comercial tanto do Mar do Norte quanto da península italiana.
As oficinas produtoras de pano concentram-se na planície de Flandres, onde desde o século IX, os condes procuravam estimular a vida econômica. Cinco feiras eram conhecidas na região: a de Ypres, Bruges, Thourout, Lille e Messines, todas essas cidades eram cidades industriais que possuíam uma população superior a 30 mil habitantes, fato excepcional para a época.
A produção destinada à longínqua exportação estava sob o controle dos comerciantes capazes de adquirir matéria-prima em lugares afastados e garantir o escoamento dos produtos fabricados.
O progresso da civilização ocidental na primeira metade do século XIV decorreu da crescente facilidade das relações comerciais com a redução das distâncias e as grandes encruzilhadas intelectuais na Universidade de Paris, que reunia homens vindos de todos os países cristãos.
Neste período, a moeda e tráfico adquirem cada vez maior importância, num mundo quase exclusivamente rural, as monarquias se fortalecem e passam a se defrontar, anunciando apuros econômicos e discórdias políticas que ocorrem paralelamente ao desenvolvimento do espírito laico que ameaçava a coesão da cristandade.
Os grandes burgueses dos séculos XIII e XIV associavam-se aos viajantes atráves de contratos individuais chamados colleganza. Os riscos de uma viagem eram evidentes e, portanto, não tinham ao certo a data de duração das viagens. O comerciante-navegador não tinha nenhuma participação no capital, cabendo-lhe apenas multiplicar os fundos investidos na viagem.
Com efeito, as iniciativas dos negócios passaram a ser do viajante e sócio-ativo em função da rápida flexibilização dos contratos. Os prazos, portanto, poderiam ser feitos pelos mercadores que possuíam a iniciativa dos negócios, mas que de certa forma estavam estreitamente ligados aos grandes investimentos burgueses que se valorizavam através dos juros.
As feiras tinham como ponto de referência os dias sacros e eram pontos de tráfico de todo Ocidente cristão, desde a Itália, até as novas colônias alemãs da Hansa. As datas de comemorações cristãs tornaram-se, com a expansão do cristianismo, um ponto de referência entre as regiões do Ocidente europeu que procuravam estabelecer a coesão cristã em tempos de cruzadas e comércio.
Os italianos, em especial os florentinos, tiveram muito sucesso nas feiras de Bruges, a partir do século XIV. As associações de construtores de barcos em Gênova, foram responsáveis pela construção de navios cada vez maiores, capazes de levar várias mercadorias aos anteportos de Damme e Eclusa, situados em Bruges, que passou a ser o principal ponto de encontro aberto aos traficantes.
Em Florença, a arte di Calimala transformava em artigos de luxo os panos nativos e flamengos. A falência das principais casas sienesas e luquenses, após a conquista da Itália do Sul por Carlos d’Anjou, garantiram a espantosa fortuna das companhias florentinas. Elas passaram a praticar atividades financeiras como por exemplo, a transferência de fundos de um lugar para o outro, comércio de ouro e empréstimos com juros variando de 7 a 33 por cento, tudo isso em meados de 1300.
A evolução dos cálculos monetários gerou a capacidade dos registros financeiros por parte dos burgueses que passaram a fazer o dinheiro se multiplicar por si só através dos juros. Os prazos estabelecidos para o pagamento dos panos decorriam justamente da esperteza do burguês de autovalorizar a moeda investida.
Carlos Beto Abdalla
Historiador e Mestre em Estudos Literários
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