Pesquisa da USP usa educação financeira para ensinar matemática
Proposta inovadora une ensino da matemática com educação financeira, engajando alunos em desafios reais.
A matemática, frequentemente vista como uma disciplina desafiadora pelos alunos, tem ganhado uma nova abordagem nas escolas brasileiras.
Uma pesquisa desenvolvida pela professora Débora Cardoso do Amaral, da USP, traz uma proposta pedagógica baseada na ‘Resolução de Problemas’, aliando temas de educação financeira ao ensino da matemática.
Tal metodologia tem sido aplicada em escolas públicas, e seus resultados sugerem uma transformação significativa no engajamento dos estudantes, especialmente nas séries iniciais do ensino fundamental.
A pesquisa foi conduzida em uma escola municipal de Santos, em São Paulo, com alunos do 6º ano.
Ao longo de 25 encontros, os estudantes trabalharam em pequenos grupos para resolver problemas ligados ao cotidiano financeiro, como o escambo em sociedades primitivas, orçamento familiar e orçamento público.
A estratégia visa mostrar que a matemática está presente no dia a dia e vai muito além dos números e operações comumente associados à disciplina.
A metodologia de resolução de problemas
Segundo a professora Débora, a resolução de problemas é uma ferramenta pedagógica poderosa, porque promove uma postura ativa dos alunos em relação ao aprendizado.
“Os alunos estão habituados a exercícios matemáticos com respostas numéricas, nos quais há a possibilidade de acertar ou errar. Mas, quando se deparam com um problema amplo, em que a solução não envolve números, eles se sentem perdidos”.
Essa dificuldade inicial, observada nos alunos, é um reflexo do modelo tradicional de ensino, que prioriza a repetição de fórmulas e procedimentos.
Com a nova abordagem, os estudantes são incentivados a usarem suas vivências e conhecimentos prévios para debater e encontrar soluções criativas para os problemas propostos, o que desenvolve habilidades como pensamento crítico e autonomia.
A metodologia inclui debates em plenárias, em que os alunos, organizados em grupos, discutem suas propostas e chegam a consensos.
Tal processo não só formaliza os conteúdos abordados, como também fortalece o trabalho em equipe e a capacidade argumentativa dos estudantes.
A resolução de problemas pode ser a chave para melhorar o aprendizado da matemática de acordo com pesquisa – Imagem: USP/Reprodução
Educação financeira no contexto escolar
Um dos grandes diferenciais dessa proposta é a inserção de temas de educação financeira no ensino da matemática.
Durante as atividades, os alunos aprenderam a organizar um orçamento familiar e a lidar com questões financeiras do dia a dia. Eles puderam simular a gestão desse orçamento e incluir imprevistos como a compra de medicamentos ou a necessidade de adquirir um celular.
O professor Júlio César Augusto do Valle, orientador da pesquisa e especialista em políticas públicas de educação, destaca que a educação financeira, embora seja um tema socialmente relevante, ainda é pouco explorada no ensino básico.
Ele afirma que a pesquisa é importante, pois mostra que é possível incluir esses temas no ensino de matemática de forma prática e adaptada à realidade dos alunos. Além disso, estimula uma visão crítica sobre o uso do dinheiro e a gestão de recursos.
Resultados da proposta pedagógica
Os resultados da aplicação da metodologia foram claros: os alunos passaram a entender melhor a relação entre a matemática e os desafios cotidianos.
Segundo os relatos da professora Débora, muitos estudantes, após a atividade, demonstraram mais interesse em tópicos relacionados à educação financeira, e alguns chegaram a acessar o Portal da Transparência para verificar os salários de seus professores.
Além disso, nas atividades relacionadas ao orçamento público, os alunos foram desafiados a redistribuir a verba municipal de acordo com as próprias percepções de importância.
O consenso entre as turmas foi de que as secretarias de Saúde e Educação mereciam a maior fatia do orçamento, devido aos altos custos e à importância desses serviços para a sociedade.
Valle complementa que, ao trabalhar com problemas reais, os alunos não apenas desenvolvem competências matemáticas, mas também passam a ter uma visão mais crítica sobre as questões sociais e políticas, como a gestão de recursos públicos.
Esse tipo de abordagem é essencial para formar cidadãos mais conscientes e preparados para os desafios da vida adulta.
*Com informações do Jornal da USP.
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