Profissionais preferem pedir demissão a retornar ao trabalho presencial
Confira relatos e argumentos de profissionais que preferem a demissão ao retorno presencial da rotina de trabalho.
O analista de importação e exportação, Rodrigo, 28, solicitou sua demissão em dezembro por não concordar com a volta do trabalho presencial durante o período pandêmico da Covid-19. Rodrigo teria que sair de São Paulo, cidade residiu desde os primeiros dias da crise sanitária, para ir a Macaé (RJ) pelo menos duas vezes por semana.
O tempo de viagem chegaria a 10 horas para ir e mais 10 horas para voltar, portanto, o analista decidiu sair da empresa, que exigiu seu retorno devido à manutenção do prédio e o entrosamento com a equipe. O profissional abriu mão dos benefícios trabalhistas, como FGTS e seguro-desemprego, e nenhum de seus chefes lhe trouxe uma proposta para que ele seguisse na empresa, mesmo após 10 anos de serviços prestados, conta.
“Existe uma preocupação com a minha saúde, claro, é o primeiro ponto. Não há necessidade de me expor porque o que eu faço pode ser feito de casa”, falou.
Rodrigo tinha como responsabilidade manusear e implementar as atividades de importação e exportação e trabalhava dia a dia com inúmeros documentos em seu computador.
Depois do seu desligamento, ele já conseguiu um novo emprego em sua área, em São Paulo. O regime é hibrido e o profissional terá que ir duas vezes na semana até o escritório. Porém, ele já demonstrou sua vontade de trabalhar em home office durante todo tempo.
“No home office, além da vantagem de custo menor [com transporte e alimentação], eu fico mais confortável. Posso dormir até mais tarde, não me estresso no trânsito e tenho mais tempo para mim”, avalia.
Trabalho ‘vigiado’ de longe
Ainda que seja a realidade de uma parcela ínfima dos brasileiros, o período pandêmico fez com que o mercado aceitasse uma nova modalidade de trabalho, o home office. Em março, foi publicada uma Medida Provisória que permitia a adoção de um trabalho híbrido pelas empresas. Segundo uma pesquisa da Ipsos, 31% dos brasileiros dão preferência a trabalhar em casa, mesmo no pós-pandemia. Entre eles está Alessandra, 29 anos, arquiteta, que não queria voltar ao trabalho presencial e se desligou da empresa em janeiro deste ano, após voltar ao trabalho e ver seu chefe sem usar máscara mesmo numa época em que ainda não havia tomado a segunda dose da vacina.
Mesmo no período em que estava trabalhando em casa, Alessandra estava descontente, pois a empresa fez com que ela instalasse um programa de gestão de home office no seu computador.
Trabalhadores podem ter que voltar ao presencial
Regina Madalozzo, pesquisadora do Gefam (Sociedade Brasileira de Economia da Família e do Gênero), diz que os empregadores e seus funcionários estão em fase de adaptação a essas novas questões. Entretanto, o medo do desemprego poderá fazer com que os trabalhadores aceitem empregos presenciais, mesmo contra a vontade.
“É bonito imaginar que os empregados vão poder negociar com o patrão para trabalhar de casa e morar no interior, mas a realidade se apresenta de forma diferente”, diz. “Se as condições econômicas do país não forem favoráveis, os trabalhadores não vão ter poder para fazer acordos”, complementou a pesquisadora.
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