Segundo especialistas, não é correto ‘tratar os pets como se fossem humanos’

Esse comportamento tem ganhado impulso nas últimas décadas, mas pode ser nocivo tanto para os animais quanto para seus tutores.

Nos últimos anos, tem se tornado cada vez mais comum tratar animais de estimação como se fossem seres humanos.

Essa tendência acompanha um cenário no qual as relações humanas parecem estar esfriando cada vez mais.

Muitas pessoas tornaram-se antissociais, cortando relações com amigos e familiares, e desistiram de ter filhos, preferindo a companhia de cães, gatos, roedores, répteis e pássaros.

Do ponto de vista sociológico, esse comportamento é preocupante, pois revela um distanciamento crescente das conexões humanas tradicionais.

Por outro lado, vale lembrar que a prática de manter animais domésticos é profundamente enraizada na cultura humana, remontando à época em que habitávamos cavernas.

Desde então, cães, gatos e outros animais têm desempenhado papéis importantes como companheiros e auxiliares em diversas atividades.

No entanto, apesar dessa longa história de convivência, especialistas recomendam não tratar os animais como se fossem humanos, pois isso pode trazer mais malefícios do que benefícios.

Pets são membros da família na modernidade – Imagem: reprodução

As consequências da “humanização” dos animais de estimação

A humanização dos animais de estimação pode ser observada em diversas práticas modernas, como o uso de roupinhas, acessórios, minicamas e até “carrinhos de bebê” para cães e gatos.

Embora essas ações possam parecer inofensivas ou até carinhosas, elas representam uma tentativa estranha de fazer com que os animais se pareçam e se comportem como humanos.

James Serpell, professor emérito de ética e bem-estar animal da Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia, afirma que tal abordagem tem restringido os animais e gerado um efeito contrário ao pretendido.

“Vemos os animais não apenas como membros da família, mas como equivalentes às crianças. O problema é que cães e gatos não são crianças, e os donos têm se tornado cada vez mais protetores e restritivos. Por isso, os animais não podem expressar as próprias naturezas de cão e gato tão livremente”, comenta Serpell.

Um bom exemplo envolve os gatos, predadores naturais de pássaros e roedores, que muitas vezes são impedidos por seus donos de exercer seus instintos.

Por sua vez, os cães, naturalmente curiosos e brincalhões, frequentemente vivem amarrados por coleiras e confinados em quintais.

Além disso, há um esforço crescente para introduzir animais em espaços que não são naturalmente adequados para eles, como escritórios e salas de reuniões, o que pode prejudicar o ambiente de trabalho e gerar atritos entre pessoas que são a favor ou contra essa prática.

Jessica Pierce, bioeticista especializada nas relações entre animais e humanos, classifica essa tendência comportamental como “estranha”.

“Estamos em um momento estranho de obsessão por animais de estimação. Há muitos deles e os mantemos de forma muito intensa. Não é bom para nós e nem para eles”, afirma Pierce.

Para atender aos desejos de seus tutores, muitos animais, especialmente cães, passam longos períodos sozinhos em casa, o que pode causar sentimentos de abandono e solidão, sendo os cães particularmente sensíveis a essa situação.

Manter o equilíbrio é a chave

Para alcançar um equilíbrio entre o hábito de criar animais de estimação e o respeito à natureza dos bichos, é fundamental que os tutores compreendam a importância de tratar animais como animais, com todo respeito e delicadeza, mas sem confundi-los com seres humanos.

Em paralelo, é crucial fomentar relações humanas autênticas e significativas, combatendo a tendência de isolamento social e promovendo a reconexão com amigos e familiares, e não substituir tais relações pela companhia de animais.

Uma proposta de intervenção é a educação dos tutores sobre as necessidades e comportamentos naturais de seus animais.

Programas de conscientização podem ajudar a esclarecer os malefícios da humanização excessiva e incentivar práticas que permitam aos animais expressarem seus instintos de maneira saudável e segura.

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