Sobral (CE) é a cidade com melhor qualidade educacional do país
Forte investimento em educação básica é o segredo do sucesso da cidade do interior cearense
A despeito da vã filosofia de alguns, não é no Sul maravilha que se colhe exemplo de excelência educacional, mas no agreste do nordestino Ceará, onde duas de suas cidades deixaram para trás localidades de nível socioeconômico bem superior.
Segundo o Ranking de Competitividade dos Municípios de 2023 – realizado pelo Centro de Liderança Política (CLP), em parceria com as consultorias Gove e a Seall, abrangendo 410 cidades de todas as regiões brasileiras – Sobral é a campeã nacional em matéria de acesso e qualidade de educação, enquanto a vizinha Iguatu detém a quarta colocação. Depois dela, as cidades nordestinas mais ´próximas’ são Maracanaú (CE) e Teresina (PI). No geral, as melhores colocações pertencem a localidades da região Sudeste.
Para o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Alessio Costa Lima — coincidência ou não, secretário de Educação da também cearense Ibaretama (CE) — a disparidade de classificação de cidades, por regiões, está relacionada à estrutura física e capacidade de investimento dos municípios.
“Esses dados evidenciam duas coisas: que municípios da região Sul e Sudeste, por ter um contexto mais favorável e uma condição do governo local mais estruturada e com mais capacidade de desenvolvimento, têm facilidade em crescer na vertente dos indicadores, tanto de acesso, quanto de qualidade da educação”, avalia Alessio.
Cobertura à educação infantil – Sobre o resultado do ranking, o presidente da Undime ressalva que, “no Nordeste, você percebe que, apesar do detrimento da condição econômica dos entes federados, há uma grande oferta no percentual de cobertura, por exemplo, do atendimento da educação infantil”, ao acrescentar que “as cidades nordestinas costumam estar com indicadores positivos em relação aos atendimentos, que estão acima de diversas metas do Plano Nacional de Educação (PNE) do Ministério da Educação”.
Ao comentar o quesito ‘qualidade da educação’, Alessio observa que a única forma de melhorar o indicador é com o desenvolvimento de políticas públicas consistentes, sistematizadas e de longo prazo. “Ninguém melhora a qualidade da educação do dia para noite. É muito mais difícil você melhorar os indicadores de qualidade do que os de acesso, porque os de acesso você melhora somente com investimento. Já na qualidade você pressupõe investimento, gestão e um projeto político-educacional”, explica.
No caso de Sobral, os indicadores mais altos são da qualidade do ensino fundamental, medida pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Para o secretário da Educação do município, Hebert Lima, o resultado excepcional é reflexo de uma reforma educacional iniciada na cidade há muitos anos, a qual alterou, inclusive, os eixos fundamentais da administração municipal local.
Gestão fortalecida – “Também implementamos uma reforma de fortalecimento da gestão da cidade, onde não existe indicação política para cargos técnicos na área da educação pública. Sobral ainda criou, há mais de 20 anos, uma política de capacitação e formação de professores”, relata Hebert, ao completar que “resgatamos o ofício de ensinar, a partir do momento que a gente qualifica o professor”, avalia Hebert.
Outro ‘segredo’ para a performance acima da média de Sobral foi a instituição, por parte do município, de leis de bonificação e premiação dos profissionais de educação, com base no nível de desenvolvimento de seus alunos, cujo desempenho é monitorado mensalmente pela Prefeitura local.
Embora tenha assumido o topo no quesito qualidade da educação, Sobral ficou em 171º lugar, no que toca ao acesso ao ensino, devido ao baixo índice de matrículas no ensino médio. Segundo Alessio, o dado mostra apenas uma questão de escolha feita pela cidade. “O município pode ter qualidade [na educação] e ainda assim não ter optado por priorizar a oferta de ensino em diversas etapas da educação básica. O que não depõe contra a qualidade de ensino deste município. A gente precisa compreender que, no caso desses dois indicadores, um não anula o outro”, explicou Alessio.
Já o secretário de Sobral lembra que a responsabilidade pelo ensino médio na cidade é do governo do estado, o que ajuda a explicar o baixo investimento nesse nível de ensino. “Estamos implementando uma política de educação integral, com o governo estadual e o governo federal. Foi uma parceria instalada no final do ano passado, da educação infantil até o ensino médio, 100% integral”, pondera.
No momento, estão em curso 20 obras de escolas de tempo integral na cidade, sem contar outras em 26 instituições de ensino fundamental e 13 de nível médio, que funcionam na modalidade integral dentro do município.
Foco no ensino básico – Outra nota ‘baixa’ de Sobral, porém, está relacionada ao quesito ‘inovação e dinamismo econômico’, que corresponde a investimentos em pesquisa científica. Na visão de Hebert, essa área é fundamental para o desenvolvimento da educação no país, mas que os investimentos não são altos no município porque o foco está no ensino básico.
“Sobral está implementando projetos de ensino e está construindo uma base que, nos próximos anos, vai se consolidar em alto volume de alunos que saíram do ensino médio e vão ingressar no ensino superior”, conta o secretário.
Alessio completa a avaliação, afirmando que a responsabilidade pelo investimento na ciência, sobretudo no ensino superior, é da União — ou seja, ligado ao governo federal. “Então não necessariamente será com recursos municipais, iniciativa própria e investimento na ciência local que a cidade vai conseguir sozinha impactar os resultados”, finaliza.
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