10 palavras árabes que moldaram o vocabulário português
O convívio entre árabes, portugueses e espanhóis na Península Ibérica resultou entre trocas culturais que duram até hoje.
A Língua Portuguesa, rica em diversidade cultural, reflete a influência de várias civilizações ao longo de sua formação.
Uma das influências mais marcantes vem dos árabes, cuja presença na Península Ibérica deixou um legado significativo, devido à constante troca comercial e cultural com os portugueses. Assim, durante aproximadamente oito séculos, os árabes contribuíram para o desenvolvimento do léxico português.
Essas contribuições permeiam áreas como arquitetura, ciências, culinária e administração, uma diversidade de segmentos capaz de evidenciar a profundidade da influência árabe na Língua Portuguesa.
Muitos vocábulos de origem árabe são facilmente identificáveis pela presença do prefixo “al”, um artigo invariável que os portugueses assimilaram.
O prefixo, que equivale aos artigos definidos “o”, “a”, “os”, “as”, teve sua incorporação naturalizada ao longo do tempo, tornando-se parte integrante do idioma que hoje conhecemos.
Além disso, as 10 palavras a seguir são exemplos de termos vindos diretamente do idioma árabe para o português.
Península Ibérica permitiu rotas comerciais e trocas culturais intensas entre os árabes do Marrocos e os ibéricos europeus, como portugueses e espanhóis – Imagem: reprodução
1. Açúcar
A palavra “arroz”, que nomeia o grão muito consumido pelos brasileiros, é uma adaptação do vocábulo árabe “ar-ruzz”, gradualmente transformado em “arroz” à medida que a língua portuguesa evoluiu.
Essa mudança ilustra como as palavras podem ser rearranjadas para se adequarem às nuances fonéticas e ortográficas de outro idioma, um processo que mostra a flexibilidade da linguagem em integrar novos elementos.
2. Arroz
A história da palavra começa com o termo sânscrito “sakkar”, que descrevia grãos de areia, uma referência inicial ao aspecto granuloso do açúcar também encontrada em outras línguas antigas.
A partir do sânscrito, a palavra evoluiu para “shakkar” no persa, aproximando-se mais de como a conhecemos hoje. Ao longo do tempo, o persa “shakkar” adaptou-se à língua árabe, resultando em “as-sukar”.
Esse desenvolvimento linguístico foi motivado pela necessidade de descrever o produto derivado da cana-de-açúcar. A similaridade visual entre grãos de areia e cristais de açúcar ajudou a consolidar essa associação.
3. Almoxarife e almoxarifado
A palavra “almoxarifado” vem do termo árabe “al-muxarif”, que se referia a um inspetor ou tesoureiro. Com o tempo, este conceito foi incorporado ao português como “almoxarife”.
Na época, o almoxarife era encarregado da cobrança e arrecadação de impostos, atuando dentro de seu território de jurisdição. A evolução do termo levou a mudanças nas funções administrativas ao longo dos anos.
Assim, com o tempo, “almoxarife” gerou o termo “almoxarifado”, empregado para designar uma área dedicada ao armazenamento de documentos e itens pertinentes à administração e gestão.
4. Enxaqueca
A palavra “enxaqueca”, traduzida para o árabe, significa “meia cabeça” e descreve bem a característica da dor que geralmente afeta uma parte da cabeça.
Dessa maneira, tal terminologia reflete não apenas um aspecto físico, mas também a intensidade e a localização do desconforto experimentado por quem sofre com isso.
5. Fulano
Originalmente derivada da palavra árabe “fulân”, o termo “fulano” tem sido utilizado para designar algo semelhante a “aquele” ou “tal”.
No século XIII, “fulano” fez sua estreia na língua espanhola, mantendo o mesmo significado. Posteriormente, tal vocábulo foi incorporado ao português, transformando-se em um substantivo com um propósito específico.
Hoje, em português, “fulano” refere-se a uma pessoa qualquer, um nome genérico para alguém cuja identidade não é revelada.
6. Laranja
O termo ‘laranja’ tem sua origem no persa antigo, no qual a fruta era chamada de ‘naranj’. Essa nomenclatura foi posteriormente adotada pelo espanhol, transformando-se em ‘naranja’, algo muito similar à forma usada hoje no português.
Tal proximidade linguística demonstra a persistência histórica da palavra em diferentes idiomas, mantendo sua essência com o passar do tempo.
7. Papagaio
O nome da ave que nos imita verbalmente, embora possa parecer de origem tupi-guarani, tem raízes árabes. Acredita-se que o termo “papagaio” seja derivado do árabe “babaga”.
Com o significado de “pássaro”, “babaga” foi adaptado através de diferentes culturas até chegar ao nosso vocabulário. Essa associação evidencia a rica tapeçaria multicultural que forma a base do idioma português.
8. Sultão
No caso do termo “sultão”, a ligação com o árabe não chega a ser uma novidade. Essa palavra deriva de “sultan” e carrega consigo um significado de autoridade e soberania.
Essencialmente, designa um governante muçulmano com um papel importante em várias nações históricas e contemporâneas, e seu uso se estendeu por muitos séculos, sobretudo em regiões onde a cultura islâmica teve destaque.
9. Xadrez
O xadrez, um dos jogos mais populares do mundo, surgiu na Índia com o nome de “chaturanga”, evoluindo até se tornar o “shatranj” no mundo árabe, antes de chegar à Europa e a Portugal, onde foi adaptado para o nome que conhecemos hoje.
Com o passar do tempo, o xadrez consolidou-se como um importante passatempo na Europa medieval.
As regras atuais foram padronizadas ao longo dos séculos, permitindo que o jogo cruzasse continentes e se tornasse até uma competição global.
10. Xaveco
Embora hoje a gíria “xaveco” seja entendida como uma conversa ou abordagem amorosa, sua origem está distante dessas conotações.
Originalmente, referia-se a um tipo de barco, o “xabbaq”, comum entre piratas no Mediterrâneo, inclusive os árabes. Tais embarcações eram conhecidas pela má conservação, o que acabou por associar a palavra a algo de baixa qualidade.
Com o passar do tempo, a noção de algo de má qualidade foi gradualmente transferida para o campo das interações sociais. Assim, “xaveco” começou também a ser usado para descrever conversas enganosas ou pouco confiáveis.
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