Por que o ensino de espanhol está sumindo das escolas brasileiras?
Marginalização do idioma no Brasil envolve fatores políticos, diplomáticos e históricos.
A exclusão do espanhol do currículo escolar brasileiro é uma questão complexa que envolve decisões políticas, influências diplomáticas e considerações históricas.
Nos últimos anos, o ensino do espanhol passou por diversas mudanças legislativas, refletindo a instabilidade das políticas educacionais no Brasil.
A princípio, a inclusão da língua espanhola no currículo escolar foi vista como uma forma de promover a integração regional com os países vizinhos da América Latina.
No entanto, essa visão não se consolidou, resultando em debates acalorados e em uma batalha de interesses que ainda está longe de ser resolvida.
Desde a revogação da obrigatoriedade do ensino de espanhol no ensino médio em 2017, as discussões sobre o papel da língua no sistema educacional brasileiro têm sido intensas.
Enquanto alguns defendem a necessidade de priorizar disciplinas consideradas essenciais, como Português e Matemática, outros argumentam que o espanhol é crucial para a formação de um cidadão globalizado e para a integração com os países da América Latina.
Fatores políticos e decisões governamentais
A trajetória do ensino de espanhol no Brasil reflete a volatilidade das políticas educacionais do país. Em 2005, durante o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, uma lei tornou obrigatória a oferta do espanhol nas escolas de ensino médio.
A medida visava fortalecer os laços culturais e econômicos com os países vizinhos da América Latina, promovendo uma maior integração regional.
A professora Márcia Paraquett, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que ensina espanhol há quase cinco décadas, lembra
“Os brasileiros percebiam cada vez mais a cultura muito rica envolvendo a língua espanhola, na música, no cinema. E também a possibilidade que não só rico podia aprender uma língua estrangeira.”
No entanto, essa obrigatoriedade foi revogada em 2017 pelo governo Michel Temer como parte da reforma do ensino médio.
O principal argumento utilizado foi a necessidade de focar em componentes curriculares essenciais, como Matemática e Português, devido ao desempenho insatisfatório dos estudantes brasileiros nessas áreas.
Mendonça Filho, então Ministro da Educação, justificou a decisão.
“Para você alcançar a aprendizagem, você precisa ter foco em um currículo bem definido. Se alguma coisa entra, outra perde.”
A carga horária limitada dos alunos foi citada como um impedimento para a inclusão de mais uma disciplina obrigatória.
Influências diplomáticas
A retirada do espanhol do currículo obrigatório não ocorreu sem controvérsias e disputas diplomáticas. Embaixadas de países europeus, como França, Itália e Alemanha, fizeram lobby junto aos parlamentares brasileiros para defender a liberdade de escolha da segunda língua estrangeira.
Esses países argumentaram que a obrigatoriedade do espanhol poderia prejudicar o ensino de outras línguas e comprometer o plurilinguismo.
Mendonça Filho disse que eles defenderam a liberdade de a segunda língua estrangeira ser uma escolha e não uma imposição.
Por outro lado, embaixadas de países hispanofalantes, incluindo Espanha e várias nações da América Latina, pressionaram pela manutenção do espanhol, destacando a importância da língua para a integração regional e as relações comerciais e culturais.
A exclusão do espanhol do currículo obrigatório tem implicações significativas para o sistema educacional brasileiro.
Professores e especialistas defendem que o espanhol, sendo uma língua próxima ao português, facilita o aprendizado e abre portas para o conhecimento de outras línguas estrangeiras.
Monica Nariño, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz:
“Se você incentiva a aprendizagem de uma língua como o espanhol, que tem o interesse dos alunos, você facilita até a aprendizagem do português. Quanto mais você lê, mais você aprende.”
A retirada do espanhol também afeta diretamente os professores formados na área, que enfrentam um mercado de trabalho cada vez mais restrito.
Muitos profissionais que se dedicaram ao ensino da língua sentem-se desmotivados e veem suas oportunidades de emprego reduzidas.
*Com informações de BBC e G1.
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