Bilhões terão que se mudar por causa do aumento da temperatura global, diz estudo
O levantamento aponta que os mais afetados serão países super populosos da África e da Ásia, como Índia, Nigéria e Paquistão.
Já há algumas décadas os especialistas em clima vêm alertando para o aumento da temperatura global, que não para de evoluir.
Agora, um estudo da revista científica Nature, uma das mais importantes do mundo, alerta para um grande problema que pode decorrer desse aquecimento exacerbado do globo.
Segundo o estudo, se a Terra aquecer mais 2,7ºC até 2100, bilhões de pessoas terão que deixar suas casas porque os seus países ficarão muito quentes.
Trazendo informações mais alarmantes ainda, o levantamento alerta que até 2030, daqui há 7 anos, cerca de 2 bilhões de indivíduos estarão fora do chamado “nicho climático”, sendo expostas a um média de 29ºC continuamente.
O nicho climático é uma faixa que vai entre 13ºC e 27ºC. Temperaturas maiores ou menores tendem a criar locais muito áridos ou úmidos, quentes ou frios demais.
De acordo com Timothy Lenton, que é professor de Mudanças Climáticas e Ciências do Sistema Terrestre na Universidade de Exeter e foi um dos autores do estudo, o aquecimento anormal do planeta pode provocar uma reorganização forçada da massa populacional.
“Essa é uma reformulação profunda da habitabilidade da superfície do planeta e pode levar a uma reorganização em larga escala de onde as pessoas vivem”, afirmou.
O relatório da Nature aponta também que pelo menos 1% da população mundial já está fora do nicho climático, número que pode crescer muito nos próximos dois anos, atingindo cerca de 600 milhões de pessoas.
Um dos coautores do estudo, Chi Xu, professor da Universidade de Nanjing, explica que muitas dessas pessoas podem estar passando frio demais, em vez de calor.
“A maioria dessas pessoas vivia perto do pico mais frio de 13 graus Celsius do nicho e agora está no ‘meio termo’ entre os dois picos. Embora não sejam perigosamente quentes, essas condições tendem a ser muito mais secas e historicamente não sustentam populações humanas densas”, disse.
Os países mais atingidos
Ainda segundo o estudo, se a Terra aquecer mais de 2,7ºC até o final do século, o êxodo em massa por causa do calor afetará principalmente países como Nigéria, Índia, Indonésia, Filipinas e Paquistão.
Inclusive, esses cinco países, que quando observados no mapa criam uma espécie de faixa entre a África e a Ásia, são os mais expostos a esse problema climático em específico, também de acordo com o levantamento.
Por outro lado, países como Burkina Faso, Mali e algumas ilhas do oceano Índico seriam praticamente esvaziadas pois o clima tornaria a sustentação da vida humana inviável em seus territórios.
Se o calor aumentar muito, a humanidade estará ameaçada
Uma seção do estudo da revista Nature explica que, em vez de 2,7ºC a terra pode aquecer entre 3,6ºC e 4,4ºC até 2100 ou mesmo antes.
Neste cenário, metade da população do mundo seria expulsa do nicho climático, o que colocaria a humanidade no chamado “risco existencial”.
Isso porque esse aumento abrupto elevaria as médias de temperatura para perto dos 40ºC, o que torna a vida humana totalmente inviável.
Em locais com clima seco, um calor dessa magnitude impede o cultivo de plantações e a criação de animais, enquanto acelera o processo de evaporação da água.
Já em lugares mais úmidos, como nos países tropicais, a umidade pode aumentar tanto que o corpo humano se torna incapaz de reter líquidos e sais minerais, levando à desidratação e falência dos órgãos.
Além disso, ambas as situações podem resultar em conflitos humanos por recursos, propagação de doenças e catástrofes climáticas como tempestades, incêndios florestais e secas extremas.
Os especialistas apontam que todo esforço para reduzir o aquecimento global é bem-vindo, pois até mesmo as pequenas frações de aumento da temperatura expõem milhões de pessoas ao sofrimento.
“Para cada 0,1 grau Celsius de aquecimento acima dos níveis atuais, cerca de 140 milhões de pessoas serão expostas a um calor perigoso”, declarou Timothy Lenton.
Lenton também lamentou que as ações para controle da emissão de gás carbônico e outros vetores do aquecimento global tenham demorado para começarem a ser postas em prática.
Segundo o especialista, um dos efeitos dessa letargia é a necessidade de, agora, ter que agir drasticamente contra o aquecimento desenfreado.
“Deixamos tão tarde para enfrentar as mudanças climáticas adequadamente que agora chegamos a um ponto em que atingir o ritmo de mudança que precisamos significa algo como acelerar em cinco vezes a redução das emissões de gases de efeito estufa ou a descarbonização da economia global”, afirmou.
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