Caatinga

Você sabia que a Caatinga é o único bioma endêmico do Brasil, não ocorre em nenhum outro lugar do mundo? Saiba mais sobre o bioma do nordeste brasileiro.

A “Mata branca” do nordeste: Caatinga vem do tupi-guarani e significa “mata branca”, devido ao fato de que na estação seca, as folhas caem e as árvores e arbustos ficam com tronco quase completamente exposto, tronco este com coloração geralmente esbranquiçada ou amarela bem clara.

É o único bioma restrito ao território nacional, ou seja, sua área de ocorrência não ultrapassa as fronteiras do Brasil e se estende por cerca de 800.000 km² pelos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Alagoas, Sergipe, Bahia e uma pequena porção do norte de Minas Gerais.  Suas fronteiras encontram os biomas Mata Atlântica e Cerrado.

Caatinga em amarelo, evidenciando suas fronteiras com Cerrado e Mata Atlântica
Caatinga em amarelo, evidenciando suas fronteiras com Cerrado e Mata Atlântica

Seca

“Quando vejo a terra ardendo/qual fogueira de São João” com essas versos inicia uma das músicas mais famosas e conhecidas de Luiz Gonzaga, a Asa branca. Quase um hino da Caatinga, essa música retrata bem uma das mais duras e marcantes características da região: a estação da seca.

Asa Branca
A asa-branca mencionada na música se refere à uma espécie de pombo comum na Caatinga, a Patagioenas picazuro

A Caatinga é o bioma brasileiro que recebe a menor quantidade de chuvas por ano, geralmente chove por apenas três meses consecutivos. Algumas regiões ficam até 11 meses sem receber uma única gota de água. Outro fator que prejudica é que a maior parte das precipitações (chuvas) são concentradas, então alguns locais recebem pouquíssima água anualmente.

Diante esse cenário quase desértico, foram selecionadas algumas adaptações para que as plantas conseguissem sobreviver com uma quantidade extremamente pequena de água, incidência constante de sol e altas temperaturas.

Completamente adaptadas para o clima semi-árido, as plantas da Caatinga possuem folhas pequenas e decíduas (caem na estação seca),  armazenam água no caule que também, em muitas espécies, possuem espinhos protetores, algumas folhas possuem textura courácea (mais rígida) e raízes longas (para acessar fontes mais profundas de água, como lençóis freáticos). Todas essas adaptações caracterizam a vegetação como xerófila.

Paisagem típica da Caatinga
Paisagem típica da Caatinga

Conservação

Por não ser um bioma caracterizado pela exuberância de sua vegetação, a conservação da Caatinga foi um tema que demoraram a se atentar. Cerca de 80% da Caatinga foi desmatada, principalmente o tipo mais “frondoso” de vegetação, a Caatinga arbórea.

Muitas espécies foram extintas nesse processo, algumas sem sequer ao mesmo chegar ao conhecimento da ciência. O exemplo mais emblemático é o da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) que hoje está oficialmente considerada exinta na natureza (atualmente há rumores de alguns indivíduos que voltaram a ser avistados na natureza).

Plantas como a baraúna (Schinopsis brasiliensis) e o cacto conhecido como cabeça-de-frade (Melocactus zehntneri), também estão em risco de serem extintas, assim como o macaco conhecido como guigó-da-caatinga (Callicebus barbarabrownae).

Ararinha-azul, cabeça-de-frade e guigó-da-caatinga. Algumas das várias espécies ameaçadas em nosso bioma mais peculiar.

Outra espécie bastante carismática e afetada pela influência negativa do homem na Caatinga é o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), que inclusive teve maior atenção nos últimos tempos por ter sido escolhido como o mascote oficial da copa do mundo que ocorreu no Brasil em 2014.

Tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) e o Fuleco, sua representação mais famosa.
Tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) e o Fuleco, sua representação mais famosa.

A Caatinga tem sofrido constantemente com o desmatamento, principalmente para o uso de suas árvores lenhosas na produção de carvão e apesar de terem sido criadas algumas Unidades de Conservação nos últimas anos, a fração protegida da Caatinga ainda é ínfima se comparada à extensão total do bioma (pouco mais de 1%), o que o deixa na posição de bioma brasileiro com menor número de áreas protegidas. Sendo o único bioma exclusivamente brasileiro uma maior atenção deveria ser dada à Caatinga, visto que caso chegue a desaparecer do nosso país, terá desaparecido para sempre.

Paulo Ribeiro
Biólogo, Mestre em Zoologia Aplicada

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