Qual a diferença entre tufão, tornado, ciclone e furacão?
Saiba qual é a diferença entre os diferentes tipos de tempestade, suas principais características e as maiores ocorrências da História.
Recentemente, o mundo acompanhou a chegada e as consequências de duas tempestades de grande dimensão no Caribe, Estados Unidos, China e Filipinas: o furacão Florence o supertufão Mangkhut. Os dois fenômenos causaram a morte de pelo menos 110 pessoas nos países por onde passaram, além de deixar um imenso rastro de destruição.
A verdade é que, anualmente, os noticiários são abarrotados por informações acerca de tufões, tornados, furacões e ciclones por todo o planeta. Por que essas tempestades acontecem? E qual o motivo de serem classificadas de diferentes formas? E os nomes, de onde vêm?
Qual a diferença entre tufão, tornado, ciclone e furacão?
Tufão, ciclone, furacão, tornado… a passagem de tempestades tropicais pelas diferentes partes mundo traz à tona diferentes conceitos e uma só pergunta: qual a diferença entre estes eventos?
Essencialmente, tufões, furacões e ciclones são o mesmo fenômeno meteorológico. Tratam-se de tempestades giratórias intensas causadas pela queda da pressão atmosférica em uma área menor e sua temperatura maior do que as áreas que a circundam.
As diferenças de pressão e temperatura se formam sobre águas tropicais quentes, gerando ventos circulares que podem atingir velocidades de 300 km/h. O ciclone é comumente descrito com as características acima e englobam os outros fenômenos que conhecemos.
As variações de nomenclatura se devem à localização geográfica e intensidade. Como assim? Se acontece no oeste do Pacífico e no sudeste do Oceano Índico, será um tufão. Mas, se ocorre nas águas do Atlântico, Caribe e nordeste do Pacífico, será um furacão.
Vejamos, a seguir, características mais aprofundadas de cada tipo de tempestade, como se formam, sua classificação e os riscos de acontecerem no Brasil.
O que é um ciclone tropical?
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) classifica o ciclone tropical como um sistema de baixa pressão atmosférica cujo centro tem circulação fechada. Os ventos, então, vão soprando para dentro e ao redor deste centro.
Falando assim, os ciclones até parecem inofensivos, mas na realidade, os tão conhecidos funis podem se transformar em uma máquina de destruição! Os ventos podem atingir mais de 250 km/h formando um espiral com diâmetro de até 1.500 km!
Como já vimos, os ciclones podem receber diferentes nomenclaturas, como furacão e tufão, dependendo de onde acontecem. Uma curiosidade sobre os dois, inclusive, é que seus ventos giram no sentido horário no Hemisfério Sul e anti-horário no Hemisfério Norte. Se arrebatam outras partes dos oceanos Índico e Pacífico, são chamados de ciclones.
A duração de um ciclone tropical pode variar de dias a semanas e, ao longo desse tempo, provocam grandes estragos. O poder de destruição de um tufão ou furacão se dá por sua capacidade de deslocamento, entre 10 e 50 km/h, e as tempestades que os acompanham.
Além da classificação de ciclone tropical, esse fenômeno tem outra variação, o extratropical. Estes ocorrem em áreas de latitudes médias e são formados por sistemas de baixa pressão e não trazem calor em seu núcleo. Este tipo, inclusive, acontece no sul do Brasil e são as movimentações que trazem consigo as frentes frias que chegam pelo litoral.
O que é um furacão?
O furacão é um ciclone tropical de ventos contínuos que atingem mais de 118 km/h e possuem o núcleo quente. Essa tempestade se forma no Mar do Caribe, Oceano Atlântico Norte, nordeste do Pacífico e Golfo do México. Ah, uma curiosidade! No inglês, furacão é traduzido pelo nome hurricane em referência ao deus caribenho do mal, Hurrican.
O que é um tufão?
O tufão, por sua vez, é um tipo de ciclone cujas características são semelhantes às apresentadas pelo furacão. A diferença é que esse fenômeno só acontece a oeste e noroeste do Pacífico e no sudeste do Oceano Índico. Se os ventos de um tufão chegam a 241 km/h, passa a ser chamado de supertufão.
E o tornado, o que é?
Os tornados são uma coluna de ar giratória normalmente formada durante alguma tempestade muito forte. A nomenclatura desse fenômeno também varia conforme o local onde se forma – se o redemoinho levanta em terra, é chamado de tornado. Caso seja formado na água, ganha o nome de tromba d’água.
Os ventos do redemoinho giram com intensa velocidade em um espiral com diâmetro médio de 2 km. Seu tamanho é inferior a um furacão, assim como a relativa curta duração – entre 10 minutos e uma hora. Porém, nãos se engane, pois essas tempestades são suficientes para causar danos irreparáveis!
A velocidade atingida pelos ventos de um tornado pode chegar a 50 km/h, o que o torna a mais destrutiva das perturbações atmosféricas. A capacidade de devastação desse tipo de tempestade aumenta devido à sua velocidade de deslocamento – de 30 a 60 km/h.
O diâmetro de seu espiral inclusive ajuda o observador a diferenciá-lo de um ciclone. Como o último pode atingir uma área que ultrapassa 1.500 km, só pode ser visualizado por inteiro a partir de imagens de satélite. Por outro lado, o tornado pode ser visto a olho nu, já que a área de seu diâmetro raramente passa de 2 km.
Como se formam os ciclones tropicais?
A imagem mais conhecida de um ciclone é aquela espiral enorme que vai se arrastando pelo território atingido. Aquele formato é desenvolvido quando os ventos atingem a velocidade necessária para a constituição de um ciclone. O meio do espiral é chamado de “olho”, uma região de relativa calmaria e livre de nuvens.
Ao seu redor, está a “parede do olho”, uma faixa de tempestade cujo diâmetro chega a 1.500 km. Nessa parte, circulam os ventos e trovoadas mais intensos. Dois fatores são essenciais para que as regiões que citamos sejam as mais propensas ao recebimento de furacões: temperatura superior a 26°C nos primeiros 50 metros do oceano e ventos fracos sobre o oceano aquecido.
Nessas condições, a evaporação da água oceânica vai se acumulando sob a forma de nuvens na camada atmosférica inferior, criando faixa de baixa pressão. Com isso, o ar quente sobe rapidamente e o ar frio presente nas partes superiores desce para o centro da tempestade.
A partir daí, ventos que correm em sentido contrário fazem com que a tempestade comece a girar influenciado, também, pelo movimento de rotação da Terra. Os aglomerados vão se juntando enquanto avançam pelo mar e alimentam o ciclone na medida em que mais água é evaporada.
Para que entender melhor, veja na figura abaixo quais são as fases da formação de uma tempestade tropical:
Quando assiste aos noticiários sobre a chegada de furacões, já viu que mencionam a perda de força ao atingir a costa? Isso acontece porque, enquanto estão sobre o oceano, as tempestades se intensificam quanto às variações de vento e altura.
Assim, produzem pressões cada vez mais baixas no centro do espiral e ventos cada vez mais fortes na superfície. Chegando no continente, região mais fria e seca que o mar, perdem a fonte primária de energia, o oceano, e entram em fase de dissipação.
Por que os furacões recebem nomes de pessoas?
Florence, Harvey, Irma, Jose, Katia… Já reparou que todos os furacões recebem nomes de pessoas? E você sabe por quê?
A agência meteorológica das Nações Unidas, a WMO, explica que a prática de nomear ciclones tropicais vem desde o início do século XX e foi criada como uma forma de facilitar a rápida identificação destes fenômenos e, assim, emitir alertas e repassar informações para a mídia.
Inicialmente, os fenômenos eram nomeados aleatoriamente, mas em 1953, especialistas passaram a identificá-los com nomes mais curtos listados em ordem alfabética. A WMO começou a alternar os títulos entre nomes femininos e masculinos a partir de 1979. Por isso, os furacões mais recentes foram cronologicamente nomeados como Harvey, Irma, Jose e Katia.
Seis listas com nomes são utilizadas a cada ano. Sendo assim, nomes que apareceram em 2015 vão aparecer novamente em 2021. Algumas exceções, entretanto, são aplicadas a essa regra quando acontecem tempestades cujos danos são extremamente graves. Foi o caso dos furacões Otto e Matthew, de 2016.
Os estragos e mortes causados fizeram com que seus nomes fossem riscados e substituídos por Owen e Martin, respectivamente.
Classificação dos furacões
Os furacões são classificados de acordo com a velocidade dos ventos e, também, o grau de destruição que provocam. A escala comumente utilizada para essa medição é a Saffir-Simpson, desenvolvida em 1970 pelo engenheiro Herbert Saffir e o doutor Robert Simpson.
A imagem a seguir descreve bem como é a classificação dos furacões conforme a escala Saffir-Simpson.
A figura mostra a classificação atribuída pela escala a uma tempestade tropical, variando de 1 a 5. Para que um ciclone seja classificado como um furacão, seus ventos devem apresentar velocidade mínima de 119 km/h e, então, são colocados na categoria 1.
Caso os ventos se estabilizem entre 154 e 177 km/h, o furacão passa para a categoria 2, com danos mais sérios observados por onde passam. A próxima categoria, a 3, enquadra furacões com ventos entre 178 e 209 km/h, registrando poder mais destrutivo ainda.
A categoria 4 concentra os ventos entre 210 e 249 km/h. A última categoria, 5, classifica os tipos mais raros e, também, graves de furacão, aqueles cujos ventos atingem velocidade acima de 250 km/h. Só para ter uma ideia do quanto os furacões desta categoria são poderosos, a tempestade Florence, a mais recente que atingiu os Estados Unidos, foi classificado como furacão 1 e matou 32 pessoas.
Existe uma outra escala que mede a intensidade dos ciclones, a Escala de Beaufort. O sistema classifica a intensidade dos ventos de um ciclone que, para receber essa nomenclatura, deve ser igual ou superior ao índice 10. Nesse ponto, as tempestades atingem velocidades acima de 88 km/h.
Qual é a temporada de furacões?
Em certos períodos do ano, é comum assistir em noticiários ou ler pela internet informações mencionando “a temporada de furacões” em determinadas regiões do mundo. O que isso significa? Esse termo se refere aos meses em que é mais comum a ocorrência de tempestades tropicais.
O calendário varia conforme a região onde os ciclones, tufões e furacões acontecem. Veja como é distribuída a sua ocorrência:
- Atlântico: a temporada de furacões vai de 01 de junho a 30 de novembro
- Nordeste do Pacífico: temporada oficial vai de 15 de maio a 30 de novembro
- Noroeste do Pacífico: probabilidade de tufões desde o final de junho ao mês de dezembro
- Norte do Índico: ciclones possíveis entre abril e dezembro
Antigamente, as pessoas eram surpreendidas pela chegada destas tempestades devido à falta de um aparato tecnológico que as previssem. Hoje, satélites e computadores específicos conseguem rastreá-las com vários dias de antecedência, o que permite a evacuação das áreas atingidas.
Furacões podem acontecer no Brasil?
As imagens dos rastros de destruição deixados pelos ciclones assustam qualquer um, não é verdade? E no Brasil, isso pode acontecer? A ocorrência de furacões em terras brasileiras é um pouco mais improvável porque nosso território não combina os fatores determinantes para esse tipo de tempestade.
As águas do Oceano Atlântico Sul são menos aquecidas além do fato de que os ventos próximos à superfície são mais intensos. Com isso, a formação de furacões é, felizmente, inibida. Mas, e o Furacão Catarina, aquele que aconteceu em 2004? Sim, o litoral do Rio Grande do Sul e Santa Catarina foi atingido por ventos de 180 km/h em março daquele ano.
O caso extraordinário foi registrado porque evoluiu para a condição de ciclone tropical ao reunir os elementos necessários para sua formação: ventos calmos, águas quentes e a manutenção do “olho” do furacão, ou seja, seu centro. Esse tipo de acontecimento é raro no Brasil, mas não impossível. Basta que, novamente, as mesmas condições sejam reunidas.
Os furacões têm relação com o aquecimento global?
Como vimos, um ciclone é originado a partir de altas temperaturas na superfície oceânica, então nada mais natural que associar sua ocorrência ao aquecimento global. Inclusive, matéria publicada pela National Geographic apontam discussões entre cientistas sobre os efeitos do fenômeno no aumento da força e frequência dos furacões.
Teoricamente, as temperaturas atmosféricas mais elevadas levariam ao aumento das mesmas na superfície marítima. Consequentemente, furacões mais fortes se formariam. É consenso que a ocorrência de furacões de categorias mais fortes, como 4 e 5, praticamente dobrou desde o início dos anos 70.
Ademais, é observado que a duração e velocidade dos ciclones tropicais aumentaram cerca de 50% no último meio século. Porém, os especialistas ainda não entraram em um consenso para afirmar alguma ligação entre as alterações climáticas e furacões.
O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, publicado em 2012, afirma ser “provável que a velocidade máxima média do vento do ciclone tropical aumente, embora os aumentos possam não ocorrer em todas as bacias oceânicas”. O mesmo estudo aponta que “pode acontecer da frequência global de ciclones tropicais diminuir ou permanecer essencialmente inalterada.”
As maiores tempestades tropicais da História
- Ciclone do Rio Hooghly (1737): formado no delta do Rio Ganges, causou uma onda de 10 a 13 metros de altura, circulando por cerca de 330km sobre o continente. Saldo de 300 mil a 350 mil mortos.
- O Grande Furacão (1780): conhecido como Furacão de San Calixto, aconteceu em Barbados, mas passou pela ilha de Cabo Verde, Martinica, Santa Lúcia, Porto Rico e República Dominicana. No total, o saldo foi de 22 mil a 27 mil mortos.
- Tufão de Haiphong (1881): passou pelas Filipinas e Haiphong, no Vietnã, causando a morte de pelo menos 300 mil pessoas.
- Furacão de Galveston (1900): classificado na categoria 4, atingiu o Texas matando entre 8 mil e 12 mil pessoas em uma cidade cuja população não passava de 38 mil habitantes.
- Ciclone de Bhola (1970): passou por Bangladesh vitimando aproximadamente 300 mil pessoas
- Tufão Nina (1975): o supertufão passou por Taiwan e Hualien causando a morte de 171 mil a 229 mil pessoas.
- Furacão Katrina (2005): um dos mais devastadores da história americana, o furacão passou pela cidade de Nova Orleans matando menos de 2 mil pessoas. No entanto, muitos ficaram deslocados ou desapareceram e o custo total para reparar os danos ficou em cerca de USD 108 bilhões.
- Furacão Maria (2017): atingiu Porto Rico em 2017 vitimando 2.975 mil pessoas. Os prejuízos foram estimados em USD 90 bilhões.
- Ciclone Nargis (2008): passou novamente por Bangladesh, mas afetou Índia, Sri Lanka, Mianmar, Laos e outros países da região. Classificado na categoria 4, registrou a morte de 140 mil pessoas, no entanto, o número real pode chegar a 1 milhão de vítimas.
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