Cientistas usam tecnologia para desvendar segredos em arte egípcia de 3 mil anos

As descobertas foram realizadas em uma colaboração de cientistas de prestigiadas universidades europeias. Saiba mais!

A arte do Antigo Egito sempre fascinou arqueólogos e entusiastas da história, mas, recentemente, uma colaboração entre cientistas da Universidade de Sorbonne, na França, e da Universidade de Liège, na Bélgica, trouxe à luz detalhes ocultos em pinturas egípcias com mais de 3.000 anos.

Utilizando uma tecnologia de imageamento químico que detecta elementos específicos, os pesquisadores fizeram descobertas intrigantes sobre a forma como a arte era produzida e modificada na antiguidade, revelando correções e revisões até então desconhecidas.

Descobertas intrigantes

A pesquisa de campo, detalhada em um artigo publicado na revista científica PLOS One na quarta-feira (12), lançou luz sobre o processo de criação artística no Egito Antigo.

Geralmente, a arte da época é considerada fruto de um processo formal e esquematizado, executado por profissionais habilidosos que seguiam passos rigorosos para criar suas obras de arte.

No entanto, grande parte dos estudos até hoje foi realizada em museus ou laboratórios, o que limita nosso entendimento sobre as condições naturais de trabalho naquela época.

(Imagem: Martinez et al./PLOS One/reprodução)

Para preencher essa lacuna de conhecimento, a equipe de arqueólogos optou por levar equipamentos portáteis de imageamento químico para realizar a pesquisa diretamente no local, nas proximidades do Rio Nilo, onde duas pinturas de capelas de templos egípcios na Necrópole de Tebas foram minuciosamente analisadas. As obras datam do Período Raméssida, por volta de 1.200 a.C.

Uma das descobertas mais intrigantes foi a identificação de correções e alterações nas pinturas. Na capela de Menna, um homem pintado apresentava um “terceiro braço” que, na verdade, era uma posição alterada do membro.

A razão para essa mudança permanece um mistério, mas há teorias de que poderia estar relacionada a questões estéticas ou até mesmo a uma concepção artística dos egípcios, que nos escapa atualmente.

A análise sugere que a mudança foi feita durante o estágio inicial da decoração da tumba, indicando que não se tratava de uma atualização estilística posterior.

(Imagem: Martinez et al./PLOS One/reprodução)

A segunda pintura, que retrata o faraó Ramsés II na tumba de Nakhtamun, também passou por várias alterações em seu vestuário. A coroa, o cetro e o colar utilizados pelo monarca foram modificados.

O cetro, por exemplo, aparentemente foi reduzido para evitar colisões com o queixo da figura, provavelmente sendo modificado a partir do rascunho inicial.

A coroa foi alongada, mas o motivo dessa mudança permanece incerto, podendo ser tanto estético quanto simbólico. Já sobre o colar, os pesquisadores sugerem que o item originalmente pintado era anacrônico, pertencendo a uma época diferente do reinado do faraó, o que pode ter levado um artista posterior a corrigir o erro.

Essas descobertas são notáveis, uma vez que alterações em pinturas desse tipo são raras. A aplicação da tecnologia de imageamento químico revelou detalhes surpreendentes e levanta novas questões sobre o processo criativo dos artistas do Antigo Egito.

Os pesquisadores acreditam que esse método poderia ser aplicado em outros sítios arqueológicos para desvendar mais alterações que podem ter passado despercebidas devido à falta de equipamentos ou interesse em realizar análises in loco.

A colaboração entre a Universidade de Sorbonne e a Universidade de Liège representa um avanço significativo no estudo da arte egípcia antiga.

As descobertas proporcionam uma visão mais profunda da cultura e de técnicas artísticas da época, revelando que, mesmo nessa civilização altamente avançada, a arte estava sujeita a ajustes e modificações, dando-nos uma perspectiva mais completa e abrangente sobre essa rica e enigmática sociedade.

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