Enem: uso de viés ideológico suscita convocação
'Ataques ao agronegócio' levam deputados federais a cobrar explicações ao ministro da Educação, Camilo Santana
A suspeita de uso da principal prova para acesso ao ensino superior, como instrumento de doutrinação ideológica (de esquerda, em se tratando do viés político da atual gestão do Planalto). Com essa interpretação, que beira à indignação, 26 deputados federais assinaram convocação para que o ministro da Educação, Camilo Santana, preste esclarecimentos à Câmara dos Deputados, a respeito do viés adotado pelo governo na elaboração do Exame do Ensino Médio (Enem) deste ano.
O principal foco de reclamações dos parlamentares gira em torno de referências, supostamente tendenciosas e negativas, com relação à atuação do agronegócio no país. Nesse sentido, o trecho do teste que provocou maior reação remete a um texto que tratava da ‘realidade do Cerrado’, segundo o qual a região citada estaria, cada vez mais, ‘subordinada à lógica do agronegócio’, como segue: “De um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos, como um mecanismo de universalização de práticas agrícolas e de novas tecnologias e, de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres à lógica do mercado”.
Frente à constatação injuriosa sobre o setor primário, que tem sido o ‘esteio’, há décadas, do crescimento econômico nacional, os deputados agora pedem que Santana preste esclarecimentos sobre as referências bibliográficas utilizadas nas questões, sob o argumento de que houve “politização da prova” e “discriminação do setor agropecuário”.
Em resposta, por meio de nota enviada ao jornal O Globo, o Ministério da Educação (MEC) – responsável pela elaboração do Enem – ressaltou que as questões do exame, “além de elaboradas por professores independentes, são selecionadas, por meio de edital de chamada pública para colaboradores do Banco Nacional de Itens (BNI), acrescentando que ‘os itens alvos de crítica passaram pelo fluxo estabelecido nas normativas do BNI’.
Não satisfeitos com as explicações da pasta, os parlamentares agora cobram que o MEC apresente quais seriam os ‘critérios científicos’ utilizados para ‘dar base’ a cada um dos enunciados por eles criticados’.
“É crucial considerar que o debate em torno do agronegócio não deve ser limitado a visões negativas. Este setor desempenha um papel essencial na economia, na segurança alimentar e no desenvolvimento sustentável do Brasil. Dessa forma, solicita-se, respeitosamente, o comparecimento da Vossa Excelência”, dispara o presidente da bancada ruralista, Pedro Lupion (PP-PR) em um dos requerimentos.
Reforçando a ‘saraivada de críticas’ ao tom suspeito do exame, o deputado Evair de Melo (PP-ES) também pede esclarecimentos sobre outras questões da prova, tanto aquela que ‘rasga elogios’ ao escritor e educador de estimação da esquerda, Paulo Freire, e outra que não esconde o desprezo pelo capitalismo, sistema econômico até agora vigente no país.
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