EUA e Cuba: um novo capítulo para os livros de história
O retorno das relações diplomáticas entre os dois países encerra uma rivalidade iniciada no período histórico conhecido como Guerra Fria.
“meu pai foi fidelista, eu não tanto como ele/ mas quem toca o meu pai, tem que me tocar também (…)/ detesto a burocracia, que transformou a eficácia em um montão de desgraças/ por vãs proibições aumentaram os rancores e mataram mil amores” ou “como minha Cuba é cubana cem por cento/ com dinheiro nacional convidarei o estrangeiro”.
O trecho acima faz parte de uma música do cantor cubano Pedro Luis Ferrer, um defensor da abertura política em seu país. O anseio do artista tornou-se realidade em 2015. Após 54 anos de atritos e desconfianças, a bandeira cubana volta a ser hasteada oficialmente nos Estados Unidos.
Reaproximação eua e cuba
No último dia 20 de julho, após meses de negociações, a embaixada cubana foi reaberta em Washington, os presidentes Raul Castro e Barack Obama já haviam sinalizado ao mundo em dezembro de 2014 uma reaproximação. No entanto, a reabertura das embaixadas em Washington e em Havana é apenas mais um passo na retomada da normalidade entre os dois países.
O próximo passo (e o mais esperado pelos cubanos) neste capítulo deverá ser o fim do embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelos EUA à ilha cubana em 1962.
O retorno das relações diplomáticas entre os dois países encerra uma rivalidade iniciada no período histórico conhecido como Guerra Fria, em um contexto em que o mundo se viu diante de uma bipolarização: Estados Unidos liderava o bloco capitalista e a antiga União Soviética, o bloco socialista, sendo assim, as duas superpotências disputavam a hegemonia política, econômica e militar.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial as duas potências que emergiram desse conflito tentavam influenciar outros países com suas ideologias, assim aumentariam suas áreas de dominação; o resultado foi uma série de conflitos em várias partes do mundo. Podemos citar como exemplo as guerras na Coreia, no Vietnã e a Revolução Cubana que teve como principais líderes Fidel Castro e Ernesto Che Guevara.
Durante a Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética lançaram-se em uma corrida armamentista, assombrando o mundo com a possibilidade de um novo ataque nuclear; o mundo já havia assistido ao poderio destrutivo das armas nucleares quando os EUA derrotaram o Japão durante a Segunda Guerra Mundial com o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.
Nesse contexto, o episódio conhecido como Crise dos Mísseis de Cuba foi o ponto alto das tensões entre cubanos e norte-americanos, o mundo esperava a qualquer momento a eclosão de uma guerra entre os dois países, o que por fim não aconteceu.
A Revolução Cubana ocorrida em 1959 simboliza uma vitória para uma população que vivia em extrema pobreza e desesperança, em um governo corrupto e fortemente influenciado pelos Estados Unidos, liderado pelo presidente ditador Fulgencio Batista. Os cubanos viam no socialismo uma oportunidade para a transformação da dura realidade social.
Apesar de ter sido colonizada pelos espanhóis, desde o século XIX Cuba sofria com a forte interferência dos norte-americanos. Talvez esse movimento (a Revolução) seja um dos mais contraditórios da história, pois Fidel Castro quando assumiu o poder após a revolução se tornou um ditador mais linha-dura do que seu principal inimigo, Fulgencio Batista, como escreveu o historiador argentino José Ignacio García Hamilton (1943-2009).
Embargo cuba e eua
Fidel tentou se perpetuar no poder, governou por 49 anos e um dos fatos que marcaram o seu governo foi o embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos.
O embargo não é o único culpado pelos problemas econômicos de Cuba, o regime socialista também possui sua parcela de culpa, haja vista que a teoria socialista prega a intervenção da economia pelo Estado e condena o acúmulo de riquezas, o que pode ser a explicação para a estagnação econômica da ilha.
Porém, essa reaproximação entre os dois países gerou uma ansiedade entre os cubanos à espera do fim do embargo, o que significaria não só a retomada de relações comerciais com a nação mais poderosa do mundo, mas também a volta da dignidade e soberania cubana. Esse novo episódio da história comprova que o diálogo é o melhor caminho para uma coexistência pacífica e que os antagonismos impostos durante a Guerra Fria estão mais que ultrapassados.
Lorena de Castro Alves
Graduada em História e Pedagogia
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