EUA X Irã – Entenda a rivalidade dos países e a ameaça do conflito!
Estados Unidos e Irã possui uma herança histórica de amor e ódio. Desde disputas por petróleo, Guerra Fria a ameaça de um conflito armado em 2020. Entenda!
O Brasil e todo o mundo teme um conflito armado entre Estados Unidos e o Irã. Porém, você sabe o porquê de todo esse burburinho?
Compreenda agora a rivalidade de décadas entre esses países!
O estopim
Um bombardeiro ocorrido no Aeroporto Internacional de Bagdá, no Iraque, na primeira quinta-feira de 2020 (dia 02), levou a morte de Qassem Soleimani, chefe de uma unidade especial da Guarda Revolucionária do Irã.
O assassinato de um dos nomes mais prestigiosos do Irã é um dos motivos para elevar a tensão entre Estados Unidos da América e o país do Oriente Médio, causando o alarme para um possível conflito armado entre os países.
O ataque, realizado por meio de um drone, foi confirmado pelo Pentágono, que relata ter sido liderado pelo presidente americano Donald Trump.
Na ocasião, ao menos sete pessoas foram mortas. Entre elas, está o o brigadeiro- general Qassen Soleimani, assim como também o comandante Abu Mahdi al-Muhandis, o número 2 das Forças de Mobilização Popular (FMP) do Iraque, a milícia apoiada pelo Irã.
Histórico anterior
Todavia, se na atualidade o cenário entre Estados Unidos e Irã não é positivo, não foi sempre assim. Em tempos passados, as nações já tiveram um histórico de amizade e aliança.
Um exemplo da relação amigável é o fala do ex-presidente americano, Jimmy Carter, em 1977, ao mencionar o xá da Pérsia, Mohamed Reza Pahlevi. O discurso foi proferido em um brinde, no jantar em Teerã, capital iraniana:
Nosso diálogo tem sido inestimável, nossa amizade é insubstituível. E não há nenhum outro líder por quem eu sinta uma maior gratidão e amizade pessoal.
Ainda na ocasião, o então presidente americano designou o país do Golfo como uma “ilha de estabilidade numa das zonas de maior conflito do mundo”. No entanto, a situação não parece divergir da atual.
Muitos representantes do recente governante, Donald Trump, tem destacado o Irã como uma ameaça à segurança do mundo, além de dificultar o estabelecimento da paz no Oriente Médio.
Eis a questão: Como os países dos EUA e do Irã se transformaram de amigos a inimigos? Não só a morte de Qassem Soleimani tem importância nisso, mas também outros fatores históricos.
Golpe de Estado no Irã (1953)
A operação Ajax, nomenclatura atribuída a intervenção estrangeira cujo qual propiciou o golpe de Estado no Irã, em 1953, teve organização da CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), com o braço direito do governo britânico, os quais são relatados nos documentos oficiais.
Esse golpe acarretou na queda do primeiro governante italiano, eleito de forma democrática, o primeiro-ministro Mohamed Mossadeq. Ademais, o ato regrediu o estado monárquico na nação, elevando o xá Mohamed Reza Pahlevi.
Ademais, acredita-se ser esse um dos principais pilares na polaridade existente entre os iranianos e americanos.
Entretanto, a contribuição dos EUA com um governo visto como autoritário tem acarretado em um sentimento de não pertencimento dos americanos, principalmente após a promoção da Revolução Islâmica de 1979.
As relações com o Reino Unido: a briga pelo petróleo
Até o período da Segunda Guerra Mundial, o país americano não era mal visto pelo Irã. Ao contrário, esse título ficava por conta dos britânicos e dos soviéticos, que possuíam maior interesse no local.
Resumidamente, a atenção dada pelo Reino Unido ao Irã era toda para o petróleo, os quais tinham poder desde 1908. Assim, os britânicos faziam a exploração dos recursos minerais e, como retribuição, lhes ofertavam uma partícula dos combustíveis originados, cerca de 16%.
Diante da circunstância, Mohamed Mossadeq resolveu nacionalizar a indústria petroleira na região, pondo fim a lucratividade dos britânicos.
Consequentemente, o Reino Unido tentou intimidá-los. Foram ancorados barcos de guerra no golfo Pérsico, houveram ameças de invasão ao país, estabeleceu-se penalidades à venda de petróleo, ademais iniciou-se um plano para a derrubada do primeiro-ministro.
Porém, a articulação foi descoberta pela equipe da inteligência iraniana. Com isso, Mossadeq resolveu cessar com a embaixada britânica de Teerã, além de mandar para fora do país todo o corpo da diplomacia do Reino Unido.
Diante disso, os britânicos tiveram de pedir auxílio aos Estados Unidos. Portanto, foi a CIA encabeçada de organizar o golpe.
No período, quem ocupava o cargo de presidente era o republicano Dwight Eisenhower, eleito em 1953.
Assim, a briga pelo petróleo foi um dos motivos da intervenção estrangeira, mas não só ele.
Reflexos da Guerra Fria
Há indícios de que o golpe esteja atrelado à Guerra Fria, com o intuito de impedir a aproximação do Irã com a União Soviética e o legado comunista.
De qualquer modo, o golpe foi bem sucedido e o primeiro-ministro nacionalista preso. O país regressou à monarquia, ponto muito positivo para o Ocidente.
Inclusive, muitos historiadores creem que o golpe de Estado impulsionou o sentimento nacionalista no Irã, desencadeando na Revolução Islâmica, em 1979.
Esses fatores históricos amarguraram ainda mais os vínculos entre EUA e os países do Oriente Médio.
Laços reatados
Depois do xá da Pérsia ter assumido o poder, foram mais de duas décadas de laços amigos entre Estados Unidos e Irã. Mais precisamente, 26 anos.
A atuação do país americano no regresso da monarquia posicionou Washington em um local de poder, isso onde o governo estadunidense ainda não detinha respaldo.
Mais que o acesso preferencial ao petróleo iraniano, os EUA passaram a dominar a política externa do xá, o qual atuava como a polícia do Golfo Pérsico, principalmente na vigência da gestão do republicano Richard Nixon.
Porém, não era tudo uma maravilha. Havia certa oposição dentro do Irã aos acordos com EUA, caso fossem visto como desfavorável aos iranianos, assim como o que se manteve durante anos com os britânicos.
Em 1954, consolidou-se um acordo cujo qual regulamentava um consórcio internacional, com atuação dos britânicos, americanos, holandeses e franceses. Nele, as vantagens da exploração de petróleo deveriam ser partilhados em partes idênticas.
No ano de 1973, o acordo foi restaurado por mais duas décadas. Entretanto, seis anos depois, em 1979, houve a explosão da Revolução Islâmica, que devolveu aos iranianos a soberania diante de seu petróleo.
Anterior a revolução, os laços entre Teerã e Washington foram afunilados. Durante a gestão do xá da Pérsia, um trio de presidentes americanos visitou o Irã, sendo eles: Eisenhower, Nixon, e Carter.
Inclusive, Carter esteve em um jantar festivo, recebendo a chegada do ano de 1978. Mal se sabia que um ano depois o cenário alteraria.
Por se demonstrar incapacitado a controlar os protestos, que invadiram as ruas do país, o monarca persa saiu fugitivo do Irã no dia 16 de janeiro de 1979.
Nessa onda de insatisfação, manifestantes foram para cima do Exército, os trabalhadores entraram em greve, se opondo a produção do petróleo, que a era a maior fonte de renda do governo, e os contrários ao regime (civis e religiosos) indiciavam a monarquia como autoritária e corrupta.
A Revolução Islâmica (1979)
Após quase quinze dias da retirada do xá do país, o líder islâmico religioso Ruhollah Musavi Khomeini, que tinha sido coagido a abandonar o Irã, em 1964, pelo seu juízo de valor ao governo, retornou do exílio.
Ao longo dos 15 anos distante, estando presente no Iraque e na França, ele criticou demasiadamente a monarquia. Entre as suas queixas estão a de apontar que o xá tenha se vendido aos EUA, país intitulado como “Grande Satã”.
Portanto, depois de um referendo, feito em 1 de abril de 1979, proclamou-se a República Islâmica do Irã. E a decadência do elo com os Estados Unido obteve o auge com a apoderação da embaixada americana em Teerã.
Sete meses depois, em novembro de 1979, um conjunto de manifestantes dispôs como reféns os diplomatas e demais cidadãos americanos presentes no prédio. Esse cerco teve a duração de mais de um ano, 444 dias.
Entretanto, seis americanos conseguiram escapar, por meio de uma artimanha. Esses se disfarçaram de uma equipe técnica cinematográfica e fugiram da embaixada.
O ato foi retratado no longa-metragem Argo, cuja direção é de Ben Affleck. A obra recebeu o Oscar de melhor filme, em 2013.
Depois disso, os últimos 52 reféns foram soltos em janeiro de 1981. Na mesma data, Ronald Reagan assumiu o posto de presidente dos Estados Unidos.
Ainda na vigência do sequestro, em abril de 1980, os EUA cortaram os laços diplomáticos com o Irã. A frieza na relação permanece até os dias atuais. Ademais, depois do episódio teve inicio ao histórico de sucessivas penas dos EUA contrários ao Irã.
O embargo econômico
As restrições econômicas existentes entre os EUA e o Irã, fortalecidas por Donald Trump, são algumas das ações cujo objetivo é pressionar a nação. Isso se faz presente desde o governo do ex-presidente Jimmy Carter.
Na época, Carter extinguiu as importações de petróleo do Irã, estagnou aproximadamente US$ 12 milhões em ativos iranianos nos solos estadunidenses e parou o intercâmbio comercial com a República Islâmica. Ademais, suspendeu as viagens de representantes dos EUA ao Irã.
Essas sanções deixaram de existir aos iranianos libertarem os reféns americanos, mas outras entraram em vigor nos anos posteriores.
Na gestão de Ronald Reagan, o Irã foi tido como país incentivador do terrorismo e, consequentemente, Washington decretou algumas suspensões. Nesse caso, os EUA estavam contrários ao Irã conseguir empréstimos de outros países, além de não ser favorável a importação de seus produtos.
Ademais, ainda na época, o país americano esteve ao lado de Saddam Hussein no conflito entre Iraque e Irã, perpetuando quase uma década (1980-1988).
O governo de George W. Bush e Barack Obama
O relacionamento entre Irã e EUA não voltou a ser de flores com a presidência de George H. W. Bush, já que ele manteve as restrições aos iranianos. Todavia, até então, considera-se as de Bill Clinton como as mais danificadoras ao país do Oriente Médio.
Clinton minou a participação de empresários no mercado do petróleo iraniano, cortou a entrada de capital no país, além de estabelecer o mínimo ou quase zero intercâmbio comercial entre ambos os países.
George W. Bush e Barack Obama não ficaram para trás. Entretanto, em 2015, Obama conseguiu assinar um acordo nuclear entre grandes potências (Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha) e o Irã.
Esse acordo permaneceu até maio de 2018, quando o atual presidente americano, Donald Trump, resolveu desfazer, ainda que sem a aprovação dos demais países europeus. Consequentemente, as sanções retornaram e a economia do país sentiu.
São muitas as causas para a rivalidade dos EUA e o Irã, mas os principais aspectos são geopolíticos.
*Com informações de BBC News Brasil.
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