Fósseis de serpentes-do-mar com 400 milhões de anos são encontrados no Paraná; saiba mais

Especialistas acreditam que um raro processo de carbonização foi o responsável por preservar perfeitamente os fósseis. Saiba mais!

Cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) revelaram recentemente a descoberta de um processo geológico raro, que levou à preservação de fósseis de serpentes-do-mar, datados de cerca de 400 milhões de anos.

Publicada na revista Journal of South American Earth Sciences e divulgada pelo portal ciência UFPR, tal achado trata dos antigos equinodermos parentes das estrelas-do-mar, conhecidos como ofiuroides.

Uma descoberta impressionante

(Fonte: UFPR/Reprodução)

Os fósseis dessas criaturas incrivelmente frágeis foram localizados em amostras de rochas do Período Devoniano coletadas na região de Ponta Grossa, no Paraná, em 2020.

A descoberta é intrigante, já que os ofiuroides exigem condições excepcionais de fossilização para sobreviver ao longo de milhões de anos. As amostras estudadas foram fornecidas por quatro coleções paleontológicas, incluindo:

  • Laboratório de Paleontologia (Labpaleo) da UFPR;

  • Museu de Paleo e Geologia da Universidade de Guarulhos (UNG) em São Paulo;

  • Centro de Pesquisa Paleontológica da Universidade do Contestado (UNC) em Santa Catarina;

  • Museu Geológico de São Paulo.

O estudo revelou a presença de uma película escura e rica em carbono nos fósseis, resultado da carbonização das vísceras desses antigos seres marinhos.

Tal fenômeno permitiu aos pesquisadores analisar em detalhes a anatomia das espécies Encrinaster pontis e Marginix notatus, ambas extintas há muito tempo.

Como ocorre a carbonização?

O processo é raro e nunca observado em equinodermos, ocorre após o soterramento, quando as partes orgânicas de um organismo são comprimidas pelo peso do sedimento.

É mais comum em amostras que contenham substâncias como quitina, queratina, lignina ou celulose, elementos voláteis da matéria orgânica que são perdidos, restando apenas o carbono durante a fossilização.

Normalmente, somente as partes duras dos esqueletos dos ofiuroides, como espinhos e ossículos, são preservadas, mas a carbonização, neste caso, conservou resquícios de partes moles dos seres.

Isso ocorreu logo após as primeiras semanas do soterramento, impedindo a decomposição das partes moles pelas bactérias do sedimento.

A descoberta excepcional levou o pesquisador responsável, Malton Carvalho Fraga, a propor o termo “Ponta Grossa Konservat-Lagerstätte” para se referir a essas rochas do Paraná ricas em ofiuroides e outros grupos fósseis associados.

Além da alta qualidade de preservação, alguns fósseis revelam evidências de predação, oferecendo uma rara visão dos predadores desses animais ao longo da história da Terra.

Os ofiuroides

Os ofiuroides viveram no mar polar que cobriu o Paraná e outros estados do Brasil durante o Devoniano.

Eles se alimentavam de restos de carcaças e partículas orgânicas presentes no sedimento e na coluna d’água, migrando para áreas marinhas em busca de alimento quando necessário.

A maioria dos fósseis do Paraná sugere que as serpentes-do-mar foram soterradas no mesmo local onde viviam, principalmente devido aos sedimentos expelidos por grandes rios em deltas.

Isso, segundo o geólogo, foi facilitado pela presença de grandes volumes de água doce nos sedimentos, que provavelmente anestesiaram os ofiuroides, impedindo sua fuga do soterramento.

Com a descoberta, o Paraná ficou reconhecido como a maior fonte de fósseis de ofiuroides na América do Sul, com centenas de amostras coletadas ao longo do último século, principalmente nos municípios de Ponta Grossa e Jaguariaíva.

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