Gigantes abandonados: 5 cemitérios de navios e suas histórias incríveis
Cemitérios de navios abrigam grandes estruturas com embarcações impressionantes e antigas; saiba mais!
Imagine-se caminhando por uma praia deserta ao amanhecer, onde a neblina suave envolve tudo ao seu redor. À medida que o sol começa a se erguer no horizonte, formas sombrias emergem das dunas, revelando filas de âncoras enferrujadas cravadas no solo.
Esse cenário deslumbrante não é apenas uma descrição poética, mas uma janela para um passado vibrante, em que homens e máquinas desafiaram os mares em busca de sustento.
Cada âncora, cada casco abandonado conta uma história de coragem, de desafios enfrentados e, eventualmente, de desistência diante da força implacável da natureza.
Desde as praias do Algarve em Portugal até as costas áridas da Namíbia, passando pelos recifes de ferro da Mauritânia e as ilhotas radioativas do Atol de Bikini, esses cemitérios de navios são testemunhas silenciosas do tempo e de transformações econômicas e ambientais.
Embora os locais destacados neste artigo sejam alguns dos mais impressionantes, vale lembrar que há muitos outros cemitérios de navios espalhados pelos oceanos do mundo, cada um com suas histórias e mistérios.
Neste artigo, você embarcará em uma viagem pelo mundo, explorando esses cemitérios que evocam mistério e história.
1. Cemitério das Âncoras (Portugal)
O Cemitério das Âncoras foi criado como uma homenagem aos pescadores de atum que trabalhavam na região.
Durante o século XX, especialmente nas décadas de 1940 e 1950, a pesca do atum era uma atividade econômica importante na costa do Algarve.
O cemitério está situado na Praia do Barril, parte da Ilha de Tavira, uma ilha barreira pertencente ao Parque Natural da Ria Formosa.
Com o passar do tempo, a pesca do atum na área declinou devido à diminuição dos cardumes de atum, mudanças na economia e métodos de pesca mais modernos.
Cemitério das Âncoras em Portugal – Imagem: Reprodução
Por volta dos anos 1960, as armações de pesca, usadas para capturar os atuns, foram abandonadas.
As âncoras, parte essencial dessas armações, foram deixadas para trás nas dunas da Praia do Barril e se tornaram um monumento silencioso da antiga indústria da pesca de atum.
Esses ícones estão dispostos em linhas ao longo dos montes de areia, criando uma imagem impressionante e um contraste interessante com o ambiente natural ao redor.
Assim, servem como símbolo de respeito e memória para os pescadores que trabalharam e viveram dessa indústria.
2. Costa do Esqueleto (Namíbia)
A Costa do Esqueleto é uma região desértica que se estende por 500 km ao longo da costa atlântica da Namíbia, desde o Rio Kunene no norte até o Rio Swakop no sul.
É famosa por suas paisagens desoladas e uma rica biodiversidade adaptada a condições extremas, mas a característica mais marcante, sem dúvidas, é o gigantesco cemitério de navios.
A Corrente de Benguela, fria e forte, cria condições difíceis para a navegação, resultando em muitos naufrágios ao longo dos anos.
Costa do Esqueleto na Namíbia – Imagem: Reprodução
Os barcos naufragaram devido a vários fatores: águas traiçoeiras, bancos de areia móveis, correntes fortes e o denso nevoeiro. Alguns dos naufrágios mais famosos são:
- Eduard Bohlen: embarcação alemã que encalhou em 1909. Hoje, está localizada a centenas de metros da costa, devido ao movimento das dunas;
- Dunedin Star: navio britânico que naufragou em 1942. A operação de resgate dos passageiros e tripulantes foi complexa e envolveu aeronaves e navios;
- Zeila: rebocador pesqueiro que encalhou em 2008. Está localizado próximo à cidade de Henties Bay e é facilmente acessível para os turistas.
Pesquisadores e historiadores têm documentado muitos dos naufrágios na Costa do Esqueleto, mas devido à área vasta e inóspita, muitos destroços permanecem não documentados.
Estima-se que, ao longo dos séculos, mais de mil embarcações tenham naufragado no local.
3. Baía de Nuadibu (Mauritânia)
Imagine uma paisagem onde o horizonte é pontilhado por gigantes enferrujados, esquecidos pelo tempo e pelos homens.
Esse é o cenário surreal e triste da Baía de Nuadibu, na Mauritânia, onde mais de 300 navios, abandonados de maneira ilícita, descansam em um imenso cemitério aquático.
Apesar de ser a segunda maior cidade da Mauritânia, Nuadibu enfrenta severas dificuldades econômicas.
O processo de desmantelamento de grandes embarcações é caro e trabalhoso. Donos inescrupulosos de embarcações em conluio com o corrupto governo local começaram a abandonar seus navios em Nuadibu por um custo muito baixo.
Baía de Nuadibu na Mauritânia – Imagem: Reprodução
Durante os anos 1980, houve um verdadeiro boom no abandono de navios. Traineiras de pesca, cargueiros e até navios cruzadores de guerra foram deixados lá para apodrecer, criando um macabro recife de ferro.
Os navios abandonados, além de poluir visualmente, representam um grave risco ambiental. Óleos tóxicos, tintas e a própria ferrugem contaminam as águas da baía, ameaçando a vida marinha e a saúde dos habitantes locais.
Contudo, em meio a essa devastação, a natureza encontrou uma forma de resiliência. Os cascos corroídos se transformaram em novos habitats para peixes e outras formas de vida marinha, paradoxalmente revitalizando a indústria pesqueira da cidade.
4. Atol de Bikini (Ilhas Marshall)
Localizado ao sul do Oceano Pacífico, o Atol de Bikini é uma das 23 ilhotas do conglomerado das Ilhas Marshall.
Entre 1946 e 1958 o local foi utilizado pelos Estados Unidos para uma série de testes nucleares (23 no total) com o objetivo de estudar os efeitos das explosões nucleares em navios de guerra.
Mais de 90 navios, submarinos e aviões foram afundados nos arredores do atol, destacando-se:
- USS Saratoga (CV-3): um porta-aviões da Marinha dos Estados Unidos que serviu durante a II Guerra Mundial, uma das maiores embarcações encontradas no atol;
- HIJMS Nagato e o HIJMS Sakawa: respectivamente, um couraçado e um cruzador, que pertenciam à Marinha Imperial Japonesa e foram capturados pelos Estados Unidos.
Atol de Bikini nas Ilhas Marshall – Imagem: Reprodução
Devido aos testes nucleares, a área foi contaminada com radiação, o que resultou na realocação dos 167 habitantes do lugar.
Pequenos grupos regressaram durante a década de 1970, mas foram posteriormente retirados e o atol permanece desabitado até hoje.
Um fato curioso sobre o Atol de Bikini é que ele seria o local que inspirou a história do consagrado desenho animado Bob Esponja, Bikini Bottom.
Embora negado pelo criador da série, Stephen Hillenburg, algumas pessoas teorizam que a escolha do local seria uma sátira com a intenção de criticar os testes realizados pelo governo americano, já que os personagens da série teriam ganhado a capacidade de falar e pensar devido aos efeitos da radioatividade do lugar.
5. Moinaque (Uzbequistão)
Uma vez um dos maiores lagos do mundo, o Mar do Aral, no Uzbequistão, hoje está quase completamente seco, o que é considerado uma das maiores catástrofes ambientais geradas pelo homem.
O Mar do Aral, com profundidade que chegava a 40 metros em alguns pontos, já foi cheio de vida, responsável pela principal atividade econômica da região, a pesca.
Moinaque no Uzbequistão – Imagem: Reprodução
Após a II Guerra Mundial, para aumentar a produção de algodão, dois dos maiores rios da Ásia central, Sir Dárya e Amu Dária, que desaguavam no lago, foram desviados pela União Soviética.
Isso transformou 90% do então 4º maior lago do mundo em um imenso deserto.
O antigo porto da cidade, abandonado desde 1980, hoje abriga muitos navios enferrujados, encalhados em um deserto de areia.
*Com informações de US Navy Historical Center, BBC Travel, National Geographic e The Guardian.
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