'Monstro de 21 faces': o criminoso que usou doces envenenados para aterrorizar o Japão
Criminoso chamado de Monstro das 21 Faces aterrorizou o país por 17 meses com cartas de chantagem e doces envenenados.
Você conhece a história do Monstro das 21 Faces? Ele foi um criminoso que aterrorizou o Japão na década de 1980, por meio de cartas de chantagem e doces envenenados. Sabe qual é a parte mais macabra desta história? A polícia nunca encontrou um culpado pelos crimes.
A história envolve carros incendiados, queda nas vendas de doces e um clima de pânico generalizado no país asiático.
Vamos começar do começo?
Vamos lá!
Em março de 1984, Katsuhisa Ezaki, CEO da fabricante de alimentos Ezaki Glico, foi sequestrado. Os criminosos exigiram um resgate de 1 bilhão de ienes (cerca de R$ 20,2 milhões na cotação atual) e 100 kg de barras de ouro. O empresário conseguiu escapar devido a um descuido dos sequestradores, mas esse foi o início de uma onda de terror por todo o Japão.
Foto: Katsuhisa Ezaki
Tudo começou um mês depois. No dia 10 de abril daquele ano, carros da Glico foram incendiados no estacionamento da própria empresa. Isso fez com que a polícia intensificasse as investigações, uma vez que deduziram que os crimes estavam interligados.
A confirmação veio um mês depois. No dia 10 de maio, uma carta ameaçadora assinada pelo Monstro das 21 Faces (Kaijin Nijyu-Mensou) chegou à empresa. É importante ressaltar que este é o nome de um romance policial do escritor Edogawa Rampo.
Na carta, o criminoso afirmava que alguns doces da Glico haviam sido misturados com cianeto de potássio, o que causou um pânico generalizado. Diante disso, a polícia decidiu retirar todos os produtos da empresa dos supermercados do Japão.
Não precisamos nem dizer que o resultado disso foi um déficit de quase R$ 96 milhões e uma mega demissão de 400 funcionários.
E a polícia não fez nada?
Então, a polícia estava como naquela música da cantora Luka: “de mãos atadas, de pés descalços”. Isso porque eles tinham pouquíssimas pistas.
Os investigadores dispunham apenas de imagens de uma câmera de segurança em uma loja. Nestas, um homem que não era funcionário da Glico colocava alguns doces da empresa nas prateleiras. Como o homem usava um boné de baseball e as imagens não possuíam tanta nitidez como as de hoje, a investigação policial não avançou.
Além disso, algumas informações estavam desencontradas. Sabia-se que dois homens sequestraram Ezaki, mas o número de pessoas que incendiaram os carros era claramente maior. Além disso, apenas uma pessoa foi vista mexendo nos doces da empresa.
Então, os investigadores não sabiam muito bem quantas pessoas estavam procurando.
Cartas do Monstro das 21 Faces propôs trégua
“Queridos policiais, não mintam. Todo crime começa com uma mentira, como dizemos no Japão. Vocês não sabem disso? Parecem estar perdidos”, dizia uma das cartas assinadas pelo Monstro das 21 Faces, cujos textos começaram a ficar mais ameaçadores.
Em meados de junho de 1984, as vendas de doces já haviam despencado e o pânico tomou conta da população.
Naquele mês, o criminoso tentou fazer uma trégua com a polícia. Ele propôs cessar suas ações em troca de 50 milhões de ienes (aproximadamente R$ 1,7 milhão), porém fez algumas exigências: o dinheiro deveria ser lançado de um trem em movimento na cidade de Kyoto.
Policiais disfarçados estavam neste trem e perceberam apenas um passageiro que “agiu de maneira estranha” e tinha “olhos de raposa”. Porém, ele conseguiu despistar os agentes. Nada aconteceu naquele dia, nem em uma outra tentativa de entrega que ocorreu meses depois.
Mais vítimas
A partir de outubro, o criminoso intensificou suas ações. O Monstro das 21 Faces começou a perseguir outras empresas japonesas, dentre elas, a Marudai e a Morinaga. Enviou uma carta à imprensa, alertando as mães de que 21 pacotes de doces destas fábricas continham cianeto.
Desta vez, a polícia conseguiu identificar os pacotes e os retirou do mercado. Detalhe: os produtos contaminados tinham “cuidado, tóxico” em suas embalagens.
E quem é o Monstro das 21 Faces?
Em 1985, a polícia finalmente conseguiu um retrato falado com base nas imagens de segurança mencionadas no começo da história. No entanto, não obtiveram nenhuma identificação.
Com muito esforço, os investigadores chegaram a Miyazaki Manubu, em Tóquio. Ele era um ativista que expôs a Glico por despejar lixo industrial nos rios de Osaka em 1975. A polícia encontrou uma fita com a voz do homem e, no áudio, ele pronunciava palavras similares às do Monstro das 21 Faces.
No entanto, era uma prova fraca e o homem tinha um álibi incontestável.
Ato final
A investigação encerrou-se de forma trágica, com o suicídio do chefe de polícia de Shiga, Shoji Yamamoto. Então, o Monstro das 21 Faces escreveu sua última carta à polícia.
“Shoji Yamamoto morreu. Que atitude estúpida! Nós não temos amigos ou esconderijos secretos. O que a polícia vem fazendo nos últimos um ano e cinco meses?”, escreveu ele. “Não deixem criminosos como nós escaparem. Nós decidimos parar de atormentar as empresas de alimentos. Se alguém tentar chantageá-las, não seremos nós, mas alguém tentando nos copiar. Somos pessoas más. Isso significa que podemos fazer mais do que apenas perseguir essas empresas. É divertido levar a vida de um homem malvado.”
O caso foi encerrado em 2000 e, até hoje, não se sabe a verdadeira identidade do Monstro das 21 Faces.
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