Mulheres negras tem mais empréstimos negados

De acordo com uma pesquisa feita pelo Sebrae/FGV, as características por sexo e cor demonstram que 45% das mulheres negras obtiveram empréstimos negados.

Após 20 anos de trabalho como professora, em uma tentativa de juntar economias para abrir um restaurante com um cardápio gourmet, Catia Tavares, de 49 anos, alcança seu objetivo. Porém, um mês após inaugurar seu estabelecimento, é obrigada a fechar as portas devido à pandemia da Covid-19.

Como se a situação não estivesse ruim o suficiente, Catia teve seu empréstimo negado após apresentar todos os documentos requisitados pela instituição financeira. De acordo com sua perspectiva, sua cor influenciou de forma negativa, alegando não haver portas abertas para uma mulher negra e periférica. Por outro lado, uma mulher branca e que mora em um lugar considerado elevado teria infinitas chances mais de ter seu empréstimo aceito.

De acordo com uma pesquisa feita pelo Sebrae/FGV referente ao impacto da pandemia a pequenos negócios, as características por sexo e cor demonstram que 45% das mulheres negras obtiveram empréstimos negados.

Em 2021, 20% dos pequenos negócios geridos por mulheres negras tiveram um declínio na renda e 36% estão com dividas ou empréstimos pendentes. Além do período pandêmico, muitos estabelecimentos não conseguiram se reerguer, o que levou 20% dos pequenos negócios à falência, enquanto no caso das empreendedoras brancas o percentual foi de 13%.

Fundo humanitário

O fundo Agbara, de São Paulo, é voltado para lutar pelos direitos econômicos de mulheres negras, e para isso tem ajudado com contribuição financeira, capacitações e mentorias. Já são aproximadamente 1,8 mil atendimentos direcionados a 500 mulheres ao redor do Brasil. Felizmente, Catia é uma delas. “É demasiadamente muito mais que somente ajuda financeira, é apoio”, relata.

O fundo humanitário possui suporte de mais ou menos 250 doadores mensais, que fornecem um valor aproximado de R$ 30 reais a R$ 35 reais, de forma que já foram arrecadados R$ 150 mil no total. Idealizado por Aline Odara, de 35 anos, o fundo surgiu no momento em que ela decidiu fazer uma vaquinha, com o intuito de fornecer ajuda a uma amiga na compra de uma máquina de costura.

Novo nível

Inicialmente o projeto era algo voluntário, mas os recursos recebidos agora possibilitam a remuneração e o investimento em outras maneiras de produzir arrecadação.

O racismo lamentavelmente afeta o empreendedorismo, pois a maioria dos negócios chefiados por mulheres negras tem uma permanência menor. De acordo com a pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), efetuada pelo Sebrae-SP junto com o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), as mulheres pretas e pardas que possuem seus próprios negócios somam 1,7 milhões.

Destas, aproximadamente 1,3 milhão das empreendedoras encontram-se no estágio inicial de seus negócios. Contudo, apenas 400 mil mulheres já estão firmadas e estabilizadas, com um período maior do que 3 anos e meio de atividade.

Se analisarmos, as mulheres negras representaram 20% dos empreendedores iniciais e 18,1% dos empreendedores totais no estado de São Paulo. De acordo com o IBGE/Pnad de 2019, mulheres negras (pretas e pardas) refletem pouco mais de 20% da população do estado.

Racismo

Nos tempos atuais, há a necessidade de empreender e iniciar os negócios, contudo muitas vezes não há apoio educacional ou informações suficientes para administrar uma empresa de maneira estável, relata Adriana Barbosa, presidente da PretaHub.

No mais, o racismo sistêmico e estrutural interfere diretamente na vida de mulheres trabalhadoras. Além disso, há também a leitura errônea referente à capacidade feminina negra em conduzir uma empresa.

Adriana sugere três estratégias para modificar esta situação, como por exemplo, reconhecer o empreendedorismo negro no Brasil, possuir maneiras de avançar e ultrapassar o telhado de vidro do micro, e possuir maneiras sistêmicas e inteligentes de combater a desigualdade.

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