Pesquisadores japoneses usam Inteligência Artificial para ‘ler mentes’

A pesquisa foi feita por cientistas da Universidade de Osaka, no Japão, e gerou um grande debate sobre ética no uso de IAs.

Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Osaka, no Japão, tem gerado polêmica na comunidade científica.

Trata-se do uso de uma Inteligência Artificial para decodificar padrões cerebrais de indivíduos e transformá-los em imagens. Na prática, a IA pode “ler a mente” de uma pessoa.

Em entrevista concedida à TV Al Jazeera, o pesquisador que conduziu o experimento, Yu Takagi, disse ter ficado espantado com o resultado dos testes que fez.

“Ainda me lembro de quando vi as primeiras imagens geradas pela IA”, iniciou. “Entrei no banheiro, me olhei no espelho, vi meu rosto e pensei: ‘Ok, isso é normal. Talvez eu não esteja ficando louco'”, completou o neurocientista de 34 anos.

A Inteligência Artificial utilizada por Takagi e sua equipe foi o Stable Diffusion (SD), desenvolvida na Alemanha em 2022.

Essa IA é acoplada a um aparelho de ressonância magnética para captar as informações colhidas do cérebro de indivíduos que a utilizam. A partir daí, ela decodifica os padrões cerebrais e descreve o que “viu” em imagens 3D.

Vale destacar que a SD só foi capaz de criar as imagens nesse caso porque Yu Takagi e seu parceiro, o também pesquisador Shinji Nishimoto, criaram um sistema de suporte para que a IA “contasse” o que tinha “visto”, mesmo sem ter sido treinada para isso previamente.

A pesquisa gerou preocupações

Depois da polêmica gerada no caso, Yu Takagi afirmou que na verdade a Inteligência Artificial não consegue ler mentes e que isso seria um “mal-entendido”.

“Isso não é leitura da mente. Infelizmente, existem muitos mal-entendidos sobre nossa pesquisa”, afirmou o neurocientista.

Takagi disse ainda que entende as preocupações da comunidade científica internacional, pois, segundo ele, tecnologias como a Stable Diffusion podem cair em mãos erradas.

“Para nós, questões de privacidade são a coisa mais importante. Se um governo ou instituição pode ler a mente das pessoas, é uma questão muito sensível. (…) É preciso haver discussões de alto nível para garantir que isso não aconteça”, apontou.

Por outro lado, o pesquisador relatou algumas boas expectativas sobre o futuro dessa IA. “Não podemos decodificar imaginação ou sonhos; achamos que isso é muito otimista. Mas, é claro, há potencial no futuro.”, previu.

Avanços na neurociência

Ainda durante os seus pronunciamentos, Yu Takagi e Shinji Nishimoto afirmaram que, apesar dos problemas ainda existentes, o uso de Inteligências Artificiais em exames neurológicos irá beneficiar muitos pacientes no futuro.

Os pesquisadores apontam que hoje em dia um exame de ressonância magnética é demorado e caro, o que seria dirimido pelo uso de IAs no futuro próximo.

Uma das alternativas para esse gargalo seria o uso de outras tecnologias de varredura cerebral, como as que estão sendo desenvolvidas pela empresa Neuralik, do bilionário Elon Musk.

Esse tipo de tecnologia seria muito útil na detecção precoce e até no tratamento de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson, por exemplo.

Apesar das críticas e pedidos de cautela por parte da comunidade científica, Takagi e Nishimoto afirmam que não vão parar a pesquisa e estão buscando aprimorá-la para uso científico benéfico e não para interesses escusos.

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