Pnad Contínua mostra agravamento da evasão escolar após a pandemia
Parcela de crianças matriculadas, de quatro a cinco anos, caiu de 92,7% em 2019 para 91,6% em 2022
Assim como trouxe sequelas no mercado de trabalho – demissão em massa, em alguns casos, ou, na melhor das hipóteses, a alternativa do chamado ‘home office’ – a pandemia também atingiu em cheio a área educacional, conforme atesta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, no início de junho último.
Um dos principais resultados do estudo é que a parcela de crianças, na faixa de quatro a cinco anos, matriculadas nas escolas do país registrou queda de 92,7%, em 2019 (antes, portanto, da crise sanitária) para 91,6%, em 2022 (logo após o pico pandêmico).
Embora pareça pouco significativo, o recuo estatístico é bem expressivo, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pela elaboração da Pnad Contínua, começando pelo fato de essa ter sido a primeira queda do índice, desde o início da série histórica, em 2017. Isso sem contar com a constatação de que a redução do contingente de alunos matriculados torna mais distante o cumprimento da meta de universalização do acesso à pré-escola, não atingida em 2016, como previsto pelo Plano Nacional de Educação (PNE).
De acordo com a legislação vigente, a matrícula nessa fase do ensino é obrigatória. No entanto, as restrições de mobilidade urbana impostas pela pandemia (agravadas pelas dificuldades de acesso ao ensino remoto pelas famílias e o atraso na vacinação infantil), fizeram com que muitos pais a retirassem os filhos da escola, mesmo que não em definitivo.
Ao reconhecer que “as crianças mais novas foram as mais prejudicadas, justamente pela maior dificuldade de manterem uma rotina de estudos on-line”, a analista de políticas educacionais da ONG Todos Pela Educação, Natália Fregonesi, para quem, “com o retorno das aulas presenciais, elas voltaram para as escolas com grandes lacunas de aprendizagem, que geram desmotivação para continuarem estudando”.
Já a analista da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Beatriz Abuchaim, admite a preocupação com os dados recentes de evasão escolar: “A gente já sabe que as crianças fora da pré-escola estão perdendo oportunidades importantes de aprendizagem, que criariam bases sólidas para o ensino fundamental e o ensino médio. Em geral, são crianças pretas, em situação de pobreza, filhas de mães mais jovens e com baixa escolaridade”.
No Rio de Janeiro, o quadro não é diferente. De acordo com pesquisa da Associação Brasileira de Educação Infantil, o número de alunos, até quatro anos, matriculados no estado apresentou redução de 30%, no primeiro semestre deste ano (1S23), em relação ao mesmo período de 2019 (1S19), antes da pandemia.
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