Religião Chinesa – Conheça a espiritualidade da nação mais antiga do mundo
Três doutrinas se entrelaçam na formação de uma religião que só existe no país mais populoso do mundo.
A história da China possui mais de cinco mil anos. Durante esse longo período a complexa espiritualidade dos chineses foi moldada a partir de três doutrinas: taoísmo, budismo e confucionismo.
Ainda que elas tenham surgido há mais de 2 mil anos, continuam explicando muitas coisas sobre os chineses e sua relação com o mundo. Ao invés de se excluírem, elas se mesclam, formando a religião tradicional chinesa.
Essa tríade sagrada leva em consideração filosofia, reencarnação, talismãs, magia, e até mesmo, regras de etiqueta. Conheça, a seguir, seus fundadores, características e como influenciam o dia a dia dos chineses.
Religião Tradicional Chinesa
Antes de tratar das doutrinas que constituem a tríade sagrada chinesa é necessário contextualizar como as religiões foram tratadas na nação, que é o mais antiga do mundo.
As práticas religiosas na China são tão antigas quanto o país. Inicialmente ela consistia na veneração de antepassados e deuses liderados por Shang Di, “O Senhor das Alturas”, além da realização de sacrifícios.
Entre 403 e 221 a.C., nos estados feudais, os sacrifícios foram suspensos. Durante a dinastia Tsin e começo da Han a religiosidade estava concentrada nos “Mandamentos do Céu”. Simultaneamente havia seguidores do taoísmo-místico-filosófico, misturando-se aos médiuns e xamãs.
Foi no final da dinastia Han que surgiram os grandes movimentos religiosos. A partir de então, o taoísmo religioso, diferente do filosófico, se difundiu por boa parte da China.
Em 1949 o país foi tomado pela ditadura comunista de Mao Tsé-tung. O confucionismo, pelo seu caráter individualista, foi considerado como uma ideologia burguesa. A prática do taoísmo e do budismo, por outro lado, foram reprimidas por conta das excessivas superstições.
Nessa época, boa parte dos livros religiosos foram queimados. Apesar disso, a Constituição de 1978 restaurou algumas liberdades e a religiosidade chinesa efervesceu novamente.
Confucionismo
Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, o confucionismo não é uma religião, e sim, uma doutrina que tem como base a filosofia de Kung Fu Tzu, ou Confúcio, para os ocidentais.
O “Venerável Mestre Kung”, como também é chamado pelos chineses, nasceu no século 5 a.C. em um cenário de guerra, fome e miséria. Nesse contexto, ele estava mais interessado em reconstruir o mundo dos seres humanos do que resolver as incógnitas do universo. Além disso, nada disse sobre a vida após a morte.
O sistema filosófico constitui, basicamente, um conjunto de ensinamentos sobre a ética social. Kung Fu Tzu ocupou boa parte de sua vida compilando e editando um conjunto de obras que atualmente recebe o nome de Clássicos Confucianos.
Mas foi somente através da propagação das ideias pelos seus discípulos e seguidores que o confucionismo tornou-se a ideologia oficial do império chinês.
A filosofia moral impactou profundamente a estrutura social chinesa e asiática como um todo. Ela explica a origem dos valores mais caros às culturas orientais, como por exemplo, disciplina, consciência política, trabalho, ordem e valorização dos estudos e formação intelectual.
A humanidade é o ponto mais importante do confucionismo. De acordo com ele, todos os seres humanos nascem bons e a educação é o principal fator na determinação da condição humana. Sendo assim, todos os homens possuem a capacidade de modificar os meios e os fins de sua existência.
A base da filosofia de Confúcio é o conceito de ren, em tradução livre, “humanismo” ou “benevolência”. Dessa forma, as ações de um sábio devem ser medidas levando em consideração o bem da humanidade para as gerações presentes e futuras, em um completo altruísmo universal.
O li é outro conceito fundamental, que pode ser traduzido como “ordenamento social”. Segundo o mestre Kung a harmonia entre os homens só existe quando todos os indivíduos seguem à risca a as normas da sociedade, incluindo etiqueta e hierarquia inquestionável.
Taoísmo
“O homem segue a Terra, a Terra segue o Céu, o Céu segue o Tao, e o Tao segue a si mesmo” é um dos versos mais conhecidos da obra de Lao-Tsé. Ele sintetiza a forma de pensamento taoísta, que busca a harmonização do ser humano com o Cosmos.
Para alguns estudiosos o taoísmo é o pilar mais forte do espiritualismo chinês, tamanha influência dele nas práticas cotidianas. Em mandarim a palavra Tao significa “caminho” ou “curso”, indicando a força primitiva que mantém o Universo equilibrado.
Entretanto, ela não faz referência a uma divindade semelhante a dos cristãos, que possui características e aspectos humanos. Pelo contrário, trata-se de uma energia impessoal que está por trás de todas as coisas existentes no mundo.
De acordo com os ensinamentos do taoísmo esse fluxo é dirigido pela transição do yin e yang, bem como de todos os pares de opostos que constituem o cosmos, tais como luz e sombra e macho e fêmea. Esse pensamento faz referência aos xamãs da Pré-História e é mais antigo do que imaginamos.
Porém, o primeiro a estabelecê-los em forma de filosofia foi Lao-Tsé, que travou uma intensa busca pelo equilíbrio entre Universo e homem, influente até hoje nas artes marciais e práticas como o feng shui.
Somente a partir do século 4 que o taoísmo deixou de ser uma filosofia de vida e adquiriu traços de caráter religioso. Uma de suas principais características é a grande quantidade de simpatias, crenças, feitiços e encantamentos, muitos deles vivos até os dias de hoje.
Budismo
A terceira parte constituinte da tríade é o budismo, que foi fundado por volta do século 5 a.C., na Índia. Apesar de Siddharta Gautama, o Buda, ter vivido na mesma época que Confúcio e Lao-Tsé, foi por volta do século 1 a.C. que suas ideias chegaram até a China.
Os viajantes que ultrapassaram os limites do Himalaia introduziram conceitos como o nirvana, estado de elevação espiritual onde todo o sofrimento chega ao fim, e o samsara, que é a reencarnação propriamente dita.
O tratado do budismo em mandarim ficou conhecido como Grande Tesouro das Escrituras. Os monges chineses traduziram as obras indianas e fizeram um compilado por volta do século X.
Originalmente o budismo foi dividido em duas escolas, o Mahayana, que é uma miscelânea de crenças, onde a existência de deuses, demônios, serpentes falantes, espíritos é admitida. A outra é o Theravada, com bases mais céticas e filosóficas.
O Mahayana foi a vertente predominante na China, dando origem às duas linhas de budismo chinesas. Uma delas, mais popular, é a “terra pura” onde vários espíritos iluminados são cultuados no lugar de um único Buda. A outra é o chan, ou zen, que consiste em uma mistura das crenças budistas e das práticas do taoísmo.
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