Telegram e Discord se tornam canais para extorsão e outros crimes; relembre casos

Aplicativos de mensagem viraram palco de troca de mensagens de cunho criminoso e de crimes, como extorsão e estupro virtual.

Na última terça-feira, 4 de julho, a Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ) prendeu mais um suspeito de criar um grupo no aplicativo Discord para realizar estupro de vulneráveis. A prisão é parte das investigações da Operação Dark Room, que começou em março deste ano, em parceria com a Polícia Federal e polícias de vários estados do Brasil.

O suspeito é Pedro Ricardo Conceição da Rocha, um jovem de 19 anos que, segundo a polícia, era criador e administrador do principal servidor da plataforma. Segundo reportagem da Folha de São Paulo, ele também é suspeito de vender ou colocar à venda e armazenar arquivos com cenas de sexo explícito e pornografia infantojuvenil.

Outros três mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Teresópolis e Cachoeiras de Macacu, municípios da região serrana do Rio de Janeiro. E, no dia 27 de junho, dois adolescentes (de 14 e 17 anos) foram apreendidos sob suspeita de participação em grupos de pornografia infantil no aplicativo.

O que acontecia no Discord?

Os crimes eram cometidos no ambiente virtual do aplicativo Discord. Ele e outros jovens usavam três servidores da ferramenta para cometerem crimes contra adolescentes e também animais, via troca de mensagens de texto, áudio, arquivos e chamadas de vídeo. Nas conversas, eles também faziam apologia aberta ao racismo, ao nazismo e à misoginia, conforme divulgado pela polícia.

Vídeos publicados nas “salas” do aplicativo mostravam conteúdo pesado, que, em alguns casos, tinha mutilações e sacrifícios de animais.

Ainda conforme as investigações, adolescentes menores de idade eram chantageadas e constrangidas nestes ambientes virtuais e, em alguns casos, também se tornavam escravas sexuais dos chefes destes grupos. De acordo com uma reportagem do portal G1, policiais relataram que “estupros virtuais” eram transmitidos ao vivo para quem estava no servidor.

Como funciona o aplicativo?

O Discord é um aplicativo muito usado, principalmente entre os jovens, que funciona no estilo de “salas de bate-papo”. Quando alguém entra no servidor, pode falar livremente, como se estivesse em uma ligação com todos que também estão ali. Além disso, também é possível utilizá-lo como qualquer outro app de troca de mensagens, como o WhatsApp.

Ele também é muito popular entre os gamers. Todos se juntam em um servidor e conversam, ao vivo, enquanto jogam. Assim, podem traçar estratégias ou provocar um ao outro ao longo da partida.

Por conta da facilidade e da liberdade da plataforma, especialistas apontam que ela acaba se tornando “uma terra sem lei”.

Quando a Operação Dark Room estava em sua primeira fase, o Discord enviou uma nota à imprensa, salientando que não comenta casos específicos. No entanto, pontuou que tem “política de zero tolerância para atividades que sejam potencialmente prejudiciais à sociedade”.

Esta, no entanto, não é a primeira vez que o aplicativo está envolvido em denúncias de crimes. Outras vezes, a plataforma já foi denunciada por promover conteúdo envolvendo pedofilia, exploração sexual, automutilação, racismo, maus-tratos a animais, incitação a assassinatos e, ainda, vazamento de informações secretas.

Discord não é o único app; Telegram também está na mira de operações policiais

Por promover certa “liberdade” de conteúdo – inclusive sendo usado como grande disseminador de conteúdo adulto na internet – o Telegram também virou alvo de operações policiais similares. Inclusive, a Coreia do Sul foi palco de um caso igualmente assustador em março de 2020 envolvendo o aplicativo.  

Conforme apurado pela polícia sul-coreana, havia grupos privados no Telegram – chamados Nth Room – nos quais vítimas eram obrigadas a praticar atos sexuais. Além disso, eram incentivadas a cometer uma série de outros crimes, como exploração e abuso sexual, coerção, violação da privacidade e até mesmo estupro.

Imagens e vídeos de conteúdo explícito e criminoso eram compartilhados nesses grupos. Algumas das vítimas eram menores de idade ou mulheres que tiveram seus celulares invadidos e foram chantageadas para que suas fotografias íntimas não fossem divulgadas.

Segundo uma reportagem da BBC, pelo menos 10 mil pessoas usavam essas salas de bate-papo. A maioria eram homens que pagavam cerca de US$ 80 a US$ 1.200 para entrar nesses grupos privados. Por serem preços altos, a maioria dos membros era composta por CEOs populares, esportistas e até mesmo artistas famosos no país.

O caso só foi exposto após uma investigação de duas estudantes de jornalismo. Com as provas irrefutáveis, todo o país se mobilizou para que a polícia tomasse alguma atitude contra os grupos.  

Na investigação, descobriu-se que havia cerca de 74 vítimas de chantagem, sendo 16 delas menores de idade. Elas eram obrigadas a fazer vídeos íntimos para os grupos.

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