Um transplante pode mudar a personalidade de alguém?
Ciência explica se é possível que transplantes de órgãos causem mudanças na personalidade do receptor.
Os transplantes de órgãos são intervenções médicas complexas e salvadoras de vidas, que frequentemente trazem à tona perguntas intrigantes sobre os efeitos que podem ter na personalidade dos receptores.
Estudos e relatos sugerem que as pessoas que recebem órgãos, especialmente de coração, podem experimentar mudanças significativas na personalidade e nos gostos após a cirurgia.
Mas o que explica essas transformações?
Há muitos relatos de receptores de transplante que experimentaram alterações inesperadas em suas preferências e comportamentos.
Um exemplo famoso é o de Claire Sylvia, uma bailarina que, após receber um transplante de coração e pulmões, desenvolveu uma nova paixão por nuggets de frango e cerveja – alimentos que nunca apreciou antes da cirurgia.
Além disso, ela se tornou mais confiante e independente, características que associou ao seu doador, um jovem de 18 anos chamado Tim.
Outro caso envolve um homem de 45 anos que, após receber o coração de um jovem de 17 anos, começou a apreciar música alta, algo que ele nunca havia gostado antes do transplante.
Tais exemplos levantam questões fascinantes sobre o impacto do órgão do doador no receptor.
Um transplante pode fazer com que a pessoa passe a ter gostos e preferências que nunca teve – Imagem: Reprodução
Possíveis explicações científicas
Várias teorias têm sido propostas para explicar essas mudanças. Uma das mais intrigantes é a hipótese de que as memórias e traços de personalidade do doador possam ser transferidos para o órgão transplantado.
Isso pode parecer loucura à primeira vista, mas há evidências de que nossas células armazenam memórias em um nível molecular, o que poderia, teoricamente, ser transferido com o órgão.
Outra explicação possível é o efeito dos hormônios e moléculas sinalizadoras liberados pelo órgão.
Por exemplo, o coração libera peptídeos natriuréticos que regulam o equilíbrio de fluidos e podem influenciar o humor e o comportamento através de interações com o sistema nervoso.
Alterações nos níveis desses peptídeos após o transplante podem potencialmente contribuir para mudanças na personalidade do receptor.
Efeitos psicológicos e imunológicos
Além das explicações biológicas, é importante considerar os efeitos psicológicos e imunológicos de um transplante. Isso funciona quase como um efeito placebo.
A alegria e a gratidão por receber um novo órgão podem inspirar mudanças positivas na disposição e na perspectiva de vida de uma pessoa.
Por outro lado, a imunossupressão crônica necessária para evitar a rejeição do órgão pode causar efeitos colaterais que impactam o humor e a personalidade.
Os transplantes também envolvem uma complexa interação entre o sistema imunológico do receptor e as células do doador.
Células do doador podem permanecer ativas no corpo do receptor, influenciando o sistema imunológico deste e possivelmente contribuindo para mudanças psicológicas.
Inflamações de baixo nível e a longo prazo causadas por essas células conseguem alterar traços de personalidade como extroversão e consciência.
O que o futuro reserva?
Apesar de todas essas hipóteses, a ciência ainda não tem uma resposta definitiva sobre como e por que essas mudanças ocorrem.
Mais pesquisas são necessárias para entender melhor os mecanismos biológicos e psicológicos em jogo.
Compreender tais alterações pode ajudar os profissionais de saúde a prepararem melhor os pacientes para os possíveis efeitos de um transplante e a desenvolverem estratégias para gerenciar quaisquer mudanças psicológicas que ocorram.
*Com informações de Viver Bem e Psychology Today.
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