Você realmente sabe identificar um mentiroso ou só pensa que sabe?
Estudos realizados ao longo de décadas indicam que ‘sinais claros’ de mentira, na verdade, não são tão claros assim. Entenda.
A ideia de que podemos identificar um mentiroso por meio de sinais físicos, como desviar o olhar ou gaguejar, é bastante popular. Porém, a ciência nos mostra que não é tão simples assim.
Durante décadas, pesquisadores tentaram encontrar uma “fórmula mágica” para detectar mentiras, analisando tudo, desde a linguagem corporal até as microexpressões faciais.
Um bom exemplo é um estudo realizado em 2003 pela psicóloga Bella DePaulo e sua equipe, no qual foram comparados 116 levantamentos sobre as chamadas pistas não verbais supostamente dadas por mentirosos.
Ao todo, foram analisadas 102 dessas pistas, incluindo desvio de olhar, o hábito de piscar continuamente, entre outros. No entanto, os resultados foram inconsistentes e, muitas vezes, contraintuitivos.
O mito das pistas não verbais
A crença de que os mentirosos sempre revelam seus segredos através de comportamentos específicos, como piscar mais rápido ou mexer nas mãos, é um mito persistente.
Estudos científicos, como o feito pela psicóloga Bella DePaulo, demonstraram que essas pistas não verbais são pouco confiáveis e podem variar muito de pessoa para pessoa. Ou seja, a inquietação que algumas pessoas demonstram ao se comunicar sobre algo pode ser puramente emocional.
A detecção de mentiras é um processo complexo que vai além da análise de sinais físicos. O contexto da situação, a relação entre as pessoas envolvidas e as consequências da mentira são fatores cruciais que podem influenciar o comportamento do mentiroso.
Então, é possível que alguém fale estritamente a verdade enquanto rói as unhas. Por outro lado, um mentiroso pode inventar toda uma história enquanto toma um café da tarde tranquilamente.
Detectar um mentiroso é mais complexo do que se imagina – Imagem: reprodução
Como desmascarar um mentiroso, então?
Em vez de procurar por pistas não verbais, hoje em dia, muitos pesquisadores têm se concentrado em técnicas que exploram a memória e a cognição de potenciais mentirosos.
Uma dessas pesquisadoras é a psicóloga Maria Hartwig, que atua no John Jay College of Criminal Justice da Universidade de Nova York.
Hartwig, que é especializada na detecção de mentiras, tem se empenhado em ensinar novas técnicas a policiais. Em uma dessas técnicas, que analisa a linguagem e o discurso dos suspeitos, os níveis de acerto dos oficiais treinados pela psicóloga chegaram a 85%.
Levando em consideração essa nova abordagem, as seguintes técnicas podem fazer sentido:
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Interrogatórios estruturados: em vez de fazer perguntas abertas, os interrogadores podem usar perguntas fechadas e específicas para confrontar o suspeito com contradições em suas próprias declarações;
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Técnicas de visualização: pedir para que a pessoa descreva uma cena ou evento em detalhes pode revelar inconsistências na história, já que mentir exige um esforço cognitivo maior;
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Análise da linguagem: a forma como uma pessoa se expressa pode fornecer pistas sobre sua sinceridade. Por exemplo, mentirosos tendem a usar menos detalhes e a fazer mais referências a si mesmos.
Embora a detecção de mentiras ainda seja um desafio, a pesquisa nessa área continua avançando. E esse avanço é fundamental, já que é importante inclusive em investigações policiais.
No futuro, podemos esperar o desenvolvimento de novas tecnologias, como a análise de voz e a neuroimagem, que podem ajudar a identificar a mentira com maior precisão.
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