O Cerrado brasileiro é considerado a savana neotropical com maior diversidade biológica do mundo para as plantas, apresentando-se como o segundo maior bioma do país. Localizado no Planalto Central, esse bioma abrange uma área de 204,7 milhões de hectares, porção que ocupa aproximadamente 24% da superfície do Brasil. Essa região possui um clima que pode ser definido como: verão chuvoso e inverno seco, a precipitação média anual fica em torno de 1.500 mm e as temperaturas variam no decorrer do ano entre 22 e 27ºC, em média.
Considerando tipos e subtipos no bioma Cerrado, são reconhecidas 25 fitofisionomias. A vegetação é dividida em 11 tipos que são classificados como: formações florestais, formações savânicas e formações campestres. Diversos trabalhos ambientais já foram produzidos sobre a vegetação do Cerrado, incluindo estudos sobre a composição florística, fitossociologia, taxonomia, biologia reprodutiva, entre outros, os quais têm fornecido informações importantes para a sua conservação.
Especialmente sobre a biologia reprodutiva das espécies do Cerrado, embora os estudos tenham aumentado nas últimas décadas, estes ainda são poucos quando comparados ao número de espécies listadas para o bioma. Nas Angiospermas, a reprodução sexual pode ocorrer por autopolinização em união com autocompatibilidade (SC) (fertilização que ocorre com o próprio pólen da flor) ou por cruzamento externo obrigatório unido com a auto-incompatibilidade (SI) (fertilização ocorre com pólen de outro indivíduo).
Entre as Angiospermas que ocorrem no Cerrado, ambos os sistemas reprodutivos são encontrados, associados a grande diversidade de sistemas de polinização e a eficiência desses sistemas irá garantir o sucesso reprodutivo das plantas. Para avaliar o sucesso reprodutivo de determinada planta em seu habitat natural é importante verificar a produção de frutos em relação à produção de flores.
Em termos de área, o Cerrado tem seu tamanho excedido apenas pela Floresta Amazônica. Entre as fitofisionomias do Cerrado podemos verificar: mata ciliar, mata de galeria, mata seca, cerradão, cerrado sentido restrito, parque cerrado, palmeiral, veredas, campo sujo, campo rupestre e campo limpo. Ambientes do Cerrado mudam significativamente no sentido horizontal, assim, áreas brejosas, florestas, capões de mata e áreas campestres podem existir em uma mesma região.
A vegetação do Cerrado desenvolveu-se sobre solos muitos antigos, intemperizados, depauperados de nutrientes, ácidos e com altas concentrações de alumínio. A pobreza do solo não gerou um obstáculo para a ocupação de grandes distâncias de terra pela agricultura moderna. Para que os solos sejam bons para fins agrícolas, coloca-se fertilizantes e calcário. Os solos do Cerrado são bem drenados e a vegetação que nele vive é inflexível quando se trata de alagamentos.
A diversidade de espécies animais e vegetais no Cerrado está fortemente ligada à diversidade de ambientes existente nesse bioma, inclusive possuindo um grande número de endemismos para vários grupos. Esse é um dos motivos pelos quais existe a necessidade de manter o mosaico de vegetação natural do Cerrado, sustentando assim uma diversidade biológica expressiva e conspícua, que continua existindo mesmo com o desaparecimento de alguns conjuntos de espécies.
A fragmentação dos habitats é uma das principais ameaças a este bioma e a dinâmica de uso da terra em áreas urbanas e também rurais está diretamente relacionada a esse problema.
A destruição dos ecossistemas que constituem o Cerrado ocorre de forma acelerada. Isso se deve em grande parte pelo fato do Código Florestal tratar os diferentes biomas brasileiros em desigualdade. E, enquanto no Cerrado é exigido que apenas 20% da área de local agrícola seja preservada como reserva legal, nas áreas da Floresta Amazônica esse percentual sobe para 80%.
Além da fragmentação de habitats, o Cerrado tem grandes prejuizos ambientais com as transformações nele ocorridas, podem ser listados: invasão de espécies exóticas, erosão dos solos, degradação de ecossistemas, poluição de aquíferos, desequilíbrios no ciclo do carbono, possivelmente modificações climáticas e alterações nos regimes de queimadas.
Um grave problema que atinge grandes áreas de Cerrado, especialmente o leste goiano e oeste mineiro, são as queimadas utilizadas para estimular a rebrota das pastagens e para abrir novas áreas agrícolas. Mesmo sendo um bioma adaptado ao fogo, as queimadas não naturais e frequentes causam perda de nutrientes, compactação e erosão do solo, e favorecem os elementos herbáceos da flora em detrimento ao lenhoso, já que as queimadas prejudicam principalmente as árvores e arbustos, o que implica dizer que o fogo natural exerce um importante papel na manutenção das fisionomias do Cerrado. A flora do Cerrado mostra adaptações usuais ao fogo como, por exemplo, a casca grossa e as folhas da base tunicadas.
Assim como nas comunidades florestais, os estudos de biologia reprodutiva no Cerrado, são de grande valia, pois indicam que a variabilidade genética fornecida pela polinização cruzada é de extrema importância. As espécies do Cerrado são relativamente generalistas no seu sistema de polinização, para isso elas contam com polinizadores diversos que devem ser resistentes às perturbações ambientais.
Denisele Neuza Aline Flores Borges
Bióloga e Mestre em Botânica
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